Brasileiros vivendo em Portugal

"Há vários anos passo temporadas de verão na terrinha, hoje invadida por uma colônia de cerca de 200 mil brazucas, metade dos quais já fixada no país" (Paulo Timm)

21 de agosto de 2017

 

Meu ofício – todos têm o seu –  consiste em falar sobre a conjuntura nacional brasileiro. Tenho-o feito regularmente já tendo, há tempo, esgotado meu manancial de títulos bombásticos para caracterizá-la. Não seria diferente hoje. Maldades políticas abundam no noticiário: rombo de R$ 159 bilhões no Orçamento da União para este e o próximo ano, sem qualquer folga para o pagamento dos vultosos juros devidos sobre uma dívida de R$ 4 trilhões a juros de 10%a.a., salário mínimo em 2018  dez reais abaixo do vigente no ano em curso, reforma política com direito a distritão financiado com R$ 3,6 bilhões de recursos públicos (inexistentes), record em homicídios e policiais mortos etc etc etc… Melhor parar por aí e deixar o itinerário do quinto dos infernos para semana que vem. Quem sabe  partir, hoje, para os Campos Elísios, aquele lugar mítico da saga do Hades em que  virtuosos repousavam dignamente após a morte, rodeados por paisagens verdes e floridas, dançando e se divertindo noite e dia,  cercado por um muro gigantesco, parecido com o muro das lamentações, , protegido pelo justo Radamanto, e por onde corre o Rio Lete, do esquecimento… Uma espécie de Pasárgada, mas destinada apenas aos mortos. Tô fora! Vamos, então, a Portugal.

Há vários anos passo temporadas de verão na terrinha, hoje invadida por uma colônia de cerca de 200 mil brazucas, metade dos quais já fixada no país. Outros vão e voltam ao sabor das conjunturas aqui e acolá. No início da década de 1990 só Lisboa tinha 60 mil brasileiros. Com a bonança lulo-petista metade voltou para o Brasil. Agora retornam aos montes. Parte são profissionais relativamente abastados da classe média em busca de qualidade melhor de vida, com maior segurança, num país europeu. Farão falta ao Brasil.  Outra parte, jovens em busca de realização social, boa parte dos quais estudantes. Os que vêm trabalhar não têm muita ideia sobre o que vão aqui encontrar e levarão algum tempo até se estabilizarem, correndo riscos de não o conseguirem. O aperto à imigração ilegal está aumentando muito e todos os dias há notícias de brasileiros devolvidos.

A vida em Portugal é muito parecida ao do Rio Grande do Sul. Clima temperado com estações bem marcadas -um pouco mais frio no inverno- , geografia variada entre a costa e a serra correspondente a 1/3 do território gaúcho, embora mais homogênea do ponto de vista humano, com seus 11 milhões de habitantes,  e com maior sobrevivência de populações aldeãs, idêntico Índice de Desenvolvimento Humano, em torno de 0,8 (considerado alto), nível de vida equivalente – apesar  renda percapita distinta – , com excelente comida, farta em proteína animal, e excelentes frutas e vinhos. Mas há diferenças substanciais:

  1. Portugal foi um grande centro metropolitano, vanguarda da Idade Moderna, quando se construiu como verdadeira Nação, e, embora decadente e isolado do mundo em quase todo o século XX, tem uma sociedade estável de classe média, com fortes raízes ainda no interior.
  2. Em consequência não acumulou no seu interior um passivo social, como nós, de grandes bolsões metropolitanos de miséria e degradação , muito embora, tal como no Brasil, tenha uma elite econômica muito restrita e que comanda os grandes negócios do país.
  3. Fruto, talvez, do conservadorismo de base rural e com pouca presença de fatores de desestabilização, Portugal é um dos países mais pacíficos do mundo e onde ainda se pode passear tranquilamente nas madrugadas. Mas vive-se uma vida regrada sem empregados domésticos, sem aqueles insidiosos vícios da classe media brasileira.
  4. Graças, ainda, a sua presença na União Europeia o país equilibrou-se, depois dos dias agitados da Revolução dos Cravos, entre as correntes conservadora, social-democrata e de esquerda, que se têm alternado sem grandes traumas no Poder, conseguindo, com isso, não apenas uma certa paz política interna, como  uma continuidade no processo de formação da infra-estrutura física, social e cultural, comparável aos países mais avançados do continente.

Todos estes fatores estimulam muito a presença cada vez maior aqui, de brasileiros. Eu, particularmente, não estimulo a emigração, salvo no caso de profissionais muito qualificados, em busca de maior tranquilidade, ou aposentados, com a ressalva, neste caso, de que no tocante à saúde sempre nos sentimos mais seguros no Brasil. Mas tenho acompanhado, aqui, os portais de apoio a brasileiros em Portugal e procuro, pelo menos, oferecer-lhes um nível maior de informação. Independente, porém, de viver em Portugal, ver este país é sempre um enorme prazer, além de um mergulho na nossa História profunda. Somos, enfim, filhos desta terra…

 




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