DIA MUNDIAL DE LIMPEZA DE RIOS E PRAIAS EM TORRES: Unidos pela sustentabilidade e preservação ambiental

Exposições, abraço simbólico, ação de limpeza de praia, palestras em destaque no DMLRP 2017 - ação mundial que ocorreu também na Praia da Guarita, no último domingo (24).

Grupo de voluntarios realiza abraco simbolico na Praia da Guarita durante o Dia mundial de limpeza de rios e praias. (Foto: Rodrigo Baleia)
26 de setembro de 2017

A sustentabilidade e a busca pela preservação do patrimônio natural, bem como a defesa de uma maior harmonia entre ser humano e meio ambiente, foram os eixos centrais de mais uma ação do DIA MUNDIAL DE LIMPEZA DE RIOS E PRAIAS (DMLRP), realizado em Torres. Organizado pelo Projeto Praia Limpa Torres (vinculado à Associação dos Surfistas de Torres – AST) e pelo GEMARS (Grupo de Estudos de Mamíferos Aquáticos do RS), o evento ocorreu pelo quarto ano consecutivo na Praia da Guarita, e reuniu mais de 150 voluntários e representantes de entidades representativas da causa ambiental no último domingo (24). A ação estava marcada para ocorrer no domingo anterior (17 de setembro) mas acabou transferida pela previsão de clima instável. A Prefeitura Municipal de Torres e a Universidade Estadual do Rio Grande do Sul (Uergs) também foram parceiras.

Ocorrendo anualmente em mais de 100 países, o DMLRP representa hoje a maior ação voluntária voltada à conservação marinha no mundo. Aqui em Torres, os presentes concentraram-se inicialmente no prédio público (antigo restaurante) localizado no centro do Parque da Guarita, onde puderam prestigiar estandes com projetos ambientais,preparadas especialmente para o DMLRP. Realizado pelo Praia Limpa Torres, o Projeto Bituca Zero expos as mais de 10.000 bitucas de cigarro que foram recolhidas em bituqueiras do projeto na orla de Torres, durante à temporada de verão 2016-2017 – bem como a escultura ‘Zé Bituca’, feita pela artista plástica Flávia Chaves com centenas de baganas de cigarro, catadas no gramado da Prainha. Já os alunos da Uergs e pesquisadores do Gemars expunham o lixo encontrado dentro de animais marinhos – causa de doenças e mortes nos oceanos . Painéis detalhavam  os tipos de resíduos coletados nas ações de limpeza dos anos anteriores do DMLRP na Guarita, alertando para a grande quantidade de plástico (cerca de 80%), facilmente confundido com comida por animais marinhos (que acabam se intoxicando com estes materiais estranhos ao seu ambiente). O Greenpeace Brasil mais uma vez se fez presente com estande e atuação no evento de Torres, destacando os projetos da ONG de defesa do meio ambiente.

Por volta das 10h (mesmo com uma garoa fina) os voluntários deslocaram-se até a orla da Guarita, onde iniciariam a ação de limpeza de praia. Mas antes, foi realizado o já tradicional abraço simbólico, onde os presentes, de mãos dadas, formaram um círculo ao redor de um grande desenho pela preservação ambiental – obra feita nas areias da Guarita pelo artista torrense Paulo França. Após este momento marcante, os voluntários reuniram-se em grupos e foi realizada a ação de limpeza de praia, ponto central do DMLRP pelo mundo. Foram recolhidos e classificados 3635 itens, totalizando 46,3 Kg de lixo no trecho (de pouco mais de 200 m) da Praia da Guarita. Os cinco itens mais encontrados foram bitucas de cigarro (1206), pedaços de plástico (791), embalagens de alimento (303), canudinhos (248) e embalagens de isopor (124).

Grupo de voluntarios realiza coleta de lixo na Praia da Guarita durante o Dia mundial de limpeza de rios e praias. (Foto: Rodrigo Baleia)

 

Esporte, Turismo, Meio Ambiente e Sustentabilidade

 

Concluída a ação de limpeza na Praia da Guarita, o evento DMLRP retornou ao prédio público junto ao Parque da Guarita, onde o público pode prestigiar manifestações e mini-palestras relacionados a causa da preservação ambiental – momento mediado pelo radialista Nelson Peres (da Rádio Cultural FM). O canoísta olímpico Gustavo Selbach, primeiro brasileiro a ter conquistado uma medalha no mundial de canoagem, seria um dos palestrantes da ação, mas como o evento foi transferido ele acabou não conseguindo comparecer.  Entretanto, Selbach deixou uma mensagem em prol do meio ambiente, relembrando da relação com a natureza dos que praticam esportes aquáticos (como ele). “O rio que corta minha cidade (Rio Paranhana, em Três Coroas) abriu portas para eu conhecer o mundo e descobrir o talento que eu tinha com a canoagem. Já nos mares de Torres realizei um sonho antigo que tinha, de aprender a surfar. Por isso que preservar nossas águas é um ato de amor para mim, mas também temos que ter ações concretas e permanentes. A defesa do meio ambiente é uma luta que nunca se encerra, sempre se renova”.

Já o oceanólogo, professor de Geografia  e guia de turismo Geraldo Medeiros Lima teve como tema de sua palestra “Sustentabilidade e Turismo”. ‘Torráqueo’ (como ele mesmo diz), Geraldo não nasceu em Torres mas há muitos anos vive na cidade que adotou no coração. Atualmente atua com o turismo receptivo na cidade – buscando sempre salientar, em suas andanças com visitantes, os aspectos culturais e naturais que fazem de Torres um município tão peculiar. “Trata-se de uma cidade que é turística principalmente pelo seu meio ambiente, suas paisagens únicas, portanto é essencial preservá-la. Tento sempre passar aos turistas de nossas responsabilidades, bem como contextualizá-los sobre a história de Torres”, salientou Geraldo.  O professor também fez um apanhado histórico, lembrando que o turismo em Torres iniciou há mais de 100 anos atrás, através da chamada Balneoterapia (curas e melhorias da saúde através de banhos de mar), incentivada pelo idealista José Picoral. Falou ainda do conceito de sustentabilidade, que ganhou destaque há 30 anos em relatório da Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento da ONU. “Foco na questão da sustentabilidade não apenas pensando no meio ambiente, mas também na sustentabilidade político institucional – para que os bons projetos (ambientais, turísticos, culturais, etc.) mediados pelos prefeitos e prefeituras não sejam de curta duração, de viés político, mas sim que perdurem, sejam sustentáveis”, concluiu Geraldo.

Geraldo Lima (e) e Rodrigo Baleia (d) palestraram no evento

 

Problemática do plástico em evidência

 

O seguinte a manifestar-se foi o fotógrafo Rodrigo Baleia, colaborador da Revista Nationals Geographic Brasil e Agência de notícias Folhapress, tendo ainda fotos publicadas em importantes publicações internacionais como The Guardian, The Wall Street Journal e The Washington Post) . O fotógrafo realizou sua palestra sobre o tema  “Retrato da nossa relação com o Meio Ambiente”, destacando sua relação antiga com a fotografia ambiental. Ele falou fortemente sobre malefícios do individualismo e consumismo latentes em nossa sociedade, bem como a necessidade urgente do ser humano mudar seus hábitos e reduzir o consumo, principalmente dos itens e embalagens plásticos, grande vilão dos oceanos. “Infelizmente, muito pouco do plástico recolhido é efetivamente reciclado (cerca de 10%). Por isso creio que temos que sair do lugar de conforto, parar de pensar que estamos fazendo nossa parte simplesmente por separarmos o lixo entre o seco e o orgânico”. disse o fotógrafo, destacando que diminuir o consumo, aprender a recusar os excessos, evitar embalagens plásticas (que depois podem acabar nos oceanos, ameaçando a biodiversidade) – são algumas atitudes que podemos tomar, para tentar preservar o que temos do mundo para as futuras gerações.

Fazendo coro ao discurso do fotógrafo Rodrigo Baleia, o professor Paulo Henrique Ott, da Uergs e do Gemars, ressaltou que Oitenta por cento do lixo encontrado na Guarita foi composto por plástico, sendo que os principais itens coletados em 2017 são muito semelhantes aos encontrados nas edições de 2015 e 2016. “As principais fontes de poluição apresentam um padrão que pode e precisa ser revertido”, destacou Ott, continuando. “A ideia do evento não é simplesmente limpar as praias e rios, mas despertar a atenção das pessoas para o crescente problema mundial que o plástico vêm se tornando, e incentivá-las a buscar soluções em nível local”, reforçou o representante do Gemars. Ele ainda contou que o Chile, por exemplo, apresentou este mês (em reunião da Organização das Nações Unidas) uma proposta de banir o uso de sacolas plásticas em toda a zona costeira do país.

Representantes de outras entidades também manifestaram-se durante o evento. Lembrando do desastre de Mariana, o ambientalista e artista plástico Paulo França declamou alguns belos versos: “Sou filiado a natureza, Eu voo livre, não sigo siglas. A babilônia não dou ouvidos, pois os grilhões, continuam partidos”. Presidente da Associação dos Surfistas de Torres, o biólogo Gustavo Canela, falou da consolidação do DMLRP em Torres, parabenizando os organizadores. Representantes do Greenpeace Brasil elogiaram a mobilização ambiental em Torres, e ressaltaram uma recente (e grande) descoberta da biologia: 10 ml km de barreira de corais encontradas em pleno Rio Amazonas, corais estes que sobrevivem mesmo sem praticamente receber luz. Felipe Reginato, da Ecosurf, reforçou o discurso do plástico como inimigo da vida marinha. E Denver Reginato, representando a secretaria de Turismo de Torres, destacou a satisfação da prefeitura de Torres em apoiar e receber este evento na Guarita desde 2014, ressaltando a vontade (antiga já, mas com pouca ação real) de instituir um espaço estruturado para Observação de Baleias Francas – no mesmo prédio público que recebeu os estandes e palestras do DMLRP, na Praia da Guarita.

Agradecendo a participação de todos, o idealizador do projeto Praia Limpa e organizador do evento, Alexis Sanson, ressaltou que haveria uma distribuição especial de brindes aos voluntários: um estojo, feito de material reciclado a partir do plástico e outros resíduos coletados nas próprias ações do DMLRP em Torres. Finalizando, Alexis disse que “temos agora avançar em ações concretas de redução do uso de plástico em nossas praias!” O final do evento desse ano foi marcado ainda por uma atração especial: um show das baleias-francas em frente à Praia da Guarita, lembrando a todos da responsabilidade de cada um de nós na conservação das praias e oceanos.


Publicado em: Meio Ambiente






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