Em forro, um dos idiomas de São Tomé e Príncipe, kuá ku buá na ká tadafá significa “bons momentos passam muito rápido”. Foi assim que a agricultora Ana Bela da Costa Cabral resumiu o dia com a família Becker, na comunidade de Morro Azul, em Três Cachoeiras. Por meio de uma viagem técnica viabilizada pela organização internacional Instituto Marquês de Valle Flôr (IMVF), ela e o colega Lucilio Vaz Furtado conheceram o trabalho de uma das primeiras unidades produtivas agroecológicas do litoral norte do Rio Grande do Sul.
“Esta família é agricultura, horticultura, transformadora, terapeuta. Vi aqui “agroturismo”. Esta realidade pode contribuir para o meu trabalho porque há uma diversidade de atividades que realmente estão nos projetos da minha família”, avaliou a produtora orgânica de São Tomé.
Além de Cabral e Furtado, mais sete agricultores e técnicos trabalharam e pernoitaram nas propriedades das famílias Martins Rosa, em Torres, Cardoso Martins, em Morrinhos do Sul e Fernandes, em Três Cachoeiras. A vivência integrou a agenda proposta pelo Centro Ecológico para o grupo na região, entre os dias 13 e 19 de novembro. Nessa semana, visitaram os Orgânicos Schardosim, em Dom Pedro de Alcântara, a cooperativa de consumidores Ecotorres e a Feira Ecológica Lagoa do Violão.
Conhecimento da realidade
Conforme o agrônomo Ailton Mandinga, a escolha da região se deu pelo conhecimento prévio do IMVF a respeito do Centro Ecológico, sobre o qual tinham algumas referências a partir dos cursos ministrados pelo agrônomo Laércio Meirelles em São Tomé e Príncipe. “Ele fala com alguma propriedade de conhecer a realidade são-tomense, que é uma realidade muito diferente da realidade brasileira”.
Mandinga explicou que a insegurança alimentar no país é muito grande, há escassez de alimentos. Apesar de ter 70% da área com produção orgânica, são essencialmente culturas de exportação como cacau, café, pimenta do reino e coco. Por isso, existe o interesse de conhecer as tecnologias capazes de produzir hortaliças e alimentos em geral sem o uso de agrotóxicos.
Antes da região de Torres, o grupo visitou, em parceria com a Epagri de Florianópolis, em Santa Catarina, a agricultura do município de Angelina. No dia 19 foram para Porto Alegre, onde estava agendada uma visita à Faculdade de Agronomia da Ufrgs e uma experiência em Viamão.
A viagem técnica foi realizada no âmbito do Projeto de Apoio às Fileiras Agrícolas de Exportação, que é um projeto financiado pela União Europeia e pelo Instituto Camões e implementado, neste caso, pelo IMVF.