Após anos de lutas na justiça, menina torrense com raro caso de má-formação óssea consegue cirurgia

Isadora Selau dependia de cara cirurgia para conseguir corrigir curvamento e encurtamento dos ossos das pernas, que a impede de caminhar normalmente. Luta constante de sua mãe Zeli, com apoio da Promotoria de Torres, garantiu que operação fosse paga pela Prefeitura de Torres e Governo do RS

FOTO: Zeli Selau com a filha Isadora, pouco antes da cirurgia (Arquivo pessoal - Facebook)
23 de janeiro de 2019

Depois de quase 7 anos lutando na Justiça, a torrense Zeli da Silva Selau conseguiu que a filha fizesse a primeira cirurgia para tratar uma malformação óssea. Isadora Selau, que completará 7 anos em abril, nasceu com o problema nas duas pernas – um severo curvamento e encurtamento dos ossos das pernas, que a impede de caminhar normalmente – bem como problemas na mão esquerda. Natural de Torres, ela vive com a mãe e uma irmã na Praia da Cal, em Torres. e no passou pelo procedimento cirúrgico há muitos anos esperado no último sábado (19) na AACD, em São Paulo. Nesta segunda (21), Isadora ainda se recuperava na UTI.

A história de Isadora e a luta da mãe Zeli pelo tratamento da filha também haviam sido relatadas pelo Jornal A FOLHA recentemente. Em julho do ano passado, divulgamos uma vaquinha online e outros eventos beneficentes que estavam sendo realizados para ajudar Isadora a custear seu tratamento – muito caro. “No Brasil só existem mais três casos iguais ao da menina”, ressaltava Zeli da Silva Selau ao jornal A FOLHA. Ela contava que, desde que nasceu, Isadora era levada para consultas no hospital São Lucas da PUC, em Porto Alegre,  em busca de tratamento. “Segundo os médicos, a solução seria fazer uma cirurgia mais específica, só que o hospital não teria condições de fazê-la –  sendo que inclusive, falou-se da  possibilidade de amputação e colocação de próteses, pois com a idade (e o crescimento da criança) o problema tende a se agravar”, complementava a mãe. Com o crescimento, os pés de Isadora não teriam condições de sustentar seu peso. Apesar dos problemas, a menina nunca deixou de brincar, correr e até dançar (na ponta dos pés).

Algum tempo atrás, Zeni recebeu orientação para consultar um cirurgião especialista em alongamento ósseo, no estado de São Paulo. A verba para a viagem veio através de doações e de um bingo beneficente – conforme recomendação da Promotoria de Justiça de Torres, que acompanha o caso da menina desde que nasceu.  Segundo o especialista paulista, seria  possível fazer a correção da má formação, mas o tratamento será longo e é necessário que se façam três cirurgias complexas, em intervalos de um ano entre uma e outra. E o grande problema para a família Selau seria o valor das operações: cerca de R$ 500 mil. “Eu preciso de um milagre e conto com a ajuda de quem puder para conseguir realizar o sonho da minha filha (de poder calçar sapatos normalmente)”, suplicava Zeli.

 

FOTO: Isadora brincando no balanço de sua casa, em foto anterior a cirurgia (Arquivo pessoal – Facebook)

 

Luta na justiça

 

Isadora tinha apenas dois meses, a mãe entrou com um processo contra o governo do Rio Grande do Sul e a Prefeitura de Torres para que a filha pudesse passar pela cirurgia. Mas, só agora, em janeiro de 2019, conseguiu que os governos pagassem o procedimento.

Segundo ressaltou ao G1 o promotor Marcelo Araújo Simões, o estado e o município de Torres não queriam custear o procedimento na capital paulista. “Dessa vez, conseguimos alguns orçamentos novos para a cirurgia. E a Justiça realizou o bloqueio desse valor nas contas públicas do estado do Rio Grande do Sul e do município de Torres”, explica o promotor ao site G1, em matéria publicada nesta segunda-feira (21). “Dessa vez, conseguimos alguns orçamentos novos para a cirurgia. E a Justiça realizou o bloqueio desse valor nas contas públicas do estado do Rio Grande do Sul e do município de Torres”, explica o promotor.

Segundo Simões, o valor total do orçamento, contando a cirurgia, despesas com as passagens e a estadia em São Paulo, foi de R$ 465 mil. Metade do valor foi descontada do estado e a outra metade, do município. “O Tribunal não conhece o caso. Eles enxergam um pedaço de papel e se assustam com o valor. Estamos há sete anos tentando de tudo. As outras vezes que a gente tentou na Justiça, uma vez o estado e o município recorreram e conseguiram reverter a medida do Tribunal. Depois, eles não concordavam em levar a menina para São Paulo. Eles acabaram usando medidas legais para ir protelando”, afirmou o promotor ao G1.

 

Contrapontos da Prefeitura de Torres e Estado do RS

 

O município de Torres informou em nota ao G1 que “o valor de R$ 465.608,00 foi bloqueado nas contas públicas, sendo a metade deste valor nas contas do Município e a outra metade nas contas do Estado”. Conforme determinação judicial, este valor deve ser utilizado para despesa de hospital, equipe médica e cirurgia, deslocamento e diárias para Isadora e sua mãe Zeli. “As passagens foram reservadas pela família. Portanto, coube ao município o transporte da paciente e de sua mãe até o aeroporto de Florianópolis, onde embarcam para São Paulo na quinta-feira. O transporte foi realizado pela Secretaria Municipal de Saúde”, acrescentou o município de Torres.

O Estado do Rio Grande do Sul informou que “a paciente Isadora Selau vinha recebendo o tratamento necessário no SUS do Rio Grande do Sul, por meio do Hospital Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre. Contudo, houve solicitação da família, nos autos da ação judicial, para que fosse dada continuidade ao tratamento no Estado de São Paulo, o que foi autorizado pelo Juiz de Direito”.

 

Cirurgia de 15 horas

Isadora com o médico que chefiou sua cirurgia, o ortopedista José Carlos Bongiovanni

 

A cirurgia de Isadora teve início na manhã de sábado, e só acabou às 23h. A operação de 15 horas envolveu um total de oito cirurgiões, e foi chefiada pelo ortopedista José Carlos Bongiovanni, do Hospital Albert Einstein, conforme relatou Zeli nesta terça-feira (22) ao jornal A FOLHA.

Agora, dona Zeli ficará com Isadora em São Paulo durante algum tempo – para os trabalhos de fisioterapia e reabilitação pós-operatória “Os médicos disseram que a cirurgia foi um sucesso, deu tudo certo. Por enquanto vamos ficar por aqui, pois tem tudo que ela precisa, um atendimento bem humando, preocupado com todo o cuidado com o emocional da criança. Agradeço a Deus, e também à equipe médica e ao promotor Marcelo que foram atenciosos com a gente “, explica Zeli ao jornal A FOLHA.

Conforme a mãe, a menina fará novas consultas no futuro, e deverá passar por outras cirurgias. “Não sei quanto tempo vamos ter que ficar aqui [em São Paulo], mas quando voltarmos faremos um grande evento com todo o pessoal que nos apoiou, que rezou por nós. Faremos também uma missa para agradecer”, concluiu a mãe de Isadora.


Publicado em: Justiça






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