Bento Barcelos entre o tempo e histórias de Torres e região

Jornal A FOLHA - sucursal Passo de Torres - conversou com o escritor, meteorólogolista e pesquisador de Torres e região, Bento Barcelos (foto)

Bento na ponta sul da Lagoa do Sombrio e próximo à Sanga da Madeira (Passo de Torres)
8 de abril de 2019

Bento Barcelos dispensa apresentações e preliminares. É uma das mais sólidas referências pessoais e culturais em Torres e Passo de Torre, onde nasceu, de uma descendência dos ancestrais desta cidade, os Rodrigues da Silva. Homem simples, de família de escravos, bisneto do lendário “Homem Seco”, sobre cuja história ele se debruça há tempos. Bento foi um dos organizadores do Partido dos Trabalhadores em Torres – vindo, inclusive, a ser candidato a Prefeito por esta sigla, pela qual seu coração ainda palpita (mais pelas causas que defende do que por sua trajetória no Poder).

Hoje Bento se dedica à literatura, com dois livros publicados “Rabiscando na Areia” e “Vale do Mampituba” – nos quais imortaliza histórias pessoais de pessoas da região e desvenda alguns nós históricos, sempre louvando o papel fundamental que teve Ruschel neste processo.  Bento é também um dos pioneiros fundadores do ESPAÇO CULTURAL FAROL DOS VENTOS, em Torres, que abriga a CASA DO POETA recentemente inaugurada no Passo de Torres. Em visita à sucursal de A FOLHA em Passo de Torres no dia 01 passado, Bento falou de suas experiências. Eis alguns trechos da entrevista.

 

ENTREVISTA com Bento Barcelos

Escritor, meteorólogolista, pesquisador de Torres e região

 

A FOLHA/ Rádio Passo de Torres – Bento Barcelos da Silva, BOM DIA! Prazer em recebê-lo. Além de escritor,você há 50 anos trabalha no Serviço de Meteorologia do Ministério da Agricultura. Diga-nos: Como está e como vai ficar o tempo…?

Bento – Bem, quanto ao clima falam que vão entrar duas frentes frias na região. Explica-se:É o começo do inverno. Mas quero lembrar que antes da friagem vem muito calor, depois chuva, talvez com granizo e ventos muito fortes e , por fim, o friozinho…Já quanto ao clima político e econômico do mundo…Bem… Aí está bem pior. Mas nem quero falar disso. Hoje a minha preocupação maior é com as coisas simples, casos simples, de gente simples aqui da região, muitas das quais convivi e ainda retenho de memória.

 

A FOLHA/Radio Passo de Torres – De tuas histórias, Bento, a que você Parece mais se dedicar é a do Homem Seco? Verdade?

Bento – Talvez. Até porque ela é muito presente na vida desta região. Outras cidades também contas histórias de alguém “seco”: Monge Seco, Mulher Seca etc. Aqui esta história varou o século XX e nos chega com muitas interpretações. No começo não dei muita bola pra isso. Achei que era coisa do meu irmão, João Barcelos, já abalado pela doença que o levou há uns anos. Falava muito sobre isso com o Zaga . Luiz Inácio – , também falecido, que vinha se dedicando à pesquisas históricas de sua cidade, Praia Grande, e da região. Ele me estimulou muito a escrever meu primeiro livro. Nessa época, lá pelos idos de 2009 e 2010, aliás, nos encontrávamos em agradáveis tertúlias na tua (Paulo Timm) e na casa do Edgar Klever, lá na curva Mampituba, quando não na Meteorologia e conversávamos sobre as histórias locais. Mas a diferença do Homem Seco de Torres/Passo de Torres – e fui descobrindo isso – é que não é lenda. É História. Ele existiu. E acabei descobrindo que era meu bisavô…Muito devo, aliás, também a outro pesquisador aqui apareceu por aqui e tem escrito a respeito da cidade: O Diderô Lopes

 

A FOLHA/Radio Passo de Torres – Realmente, Bento. É uma história fascinante. Pena que não dê para contar toda ela aqui neste espaço. Mas você não só tem escrito como tem falado muito sobre o Homem Seco. Como estão programadas estas conferências?

Bento – Na gestão passada na Prefeitura, graças à Débora Fernandes, que lá ocupava uma função na área culturais fizemos bons econtros, nos quais tive oportunidade falar, ao lado de outros personagens históricos da cidade. Vivi, afinal, toda minha já longa vida só aqui. Vi de tudo, desde eletricista cego que anda de bicicleta, até estranhas ondas de luz e calor sobre a cidade, incríveis salvamentos de pescadores caídos no paredão. Conto tudo isso nos meus livros, temperando com o que ouvia de minha mãe. Aí , claro, boto um pouco de tempero. E vou contando pra quem quiser ouvir. Tenho feito encontros no Espaço Cultural Ten Caten e , agora, estamos programando reuniões quinzenas na Casa do Poeta de Torres, que além da sede no Centro Cultural Farol dos Ventos, tem agora também um ponto no Quintal da Dindinha.

 

A FOLHA/ Radio Passo de Torres – E quais os planos para o futuro? Novos livros…?

Bento – Pois é…Agora peguei o jeito. E parece que as pessoas estão gostando. Já vendi mais de 500 livros, sendo que, em 2018 vendi 80 do último livro na Feira do Livro. Já estou aqui juntando mais uns “causos”, como V. diz, e talvez em breve tenha mais outro livro.

 

A FOLHA/ Rádio Passo de Torres – Nossos cumprimentos , Bento, pela sua trajetória, de inegável valor pessoal e dedicação aos livros e às ideias. Como diz o povo: Quem não tem ideias, fala só das pessoas, geralmente em tom de fofoca, mas quem as cultiva até faz da fofoca uma boa lição de vida. Tenho-o como o homem mais ilustrado desta região toda e sei o que custou chegar a isso trilhando a Escola da Vida. Siga em frente.

Bento – Ora essa…! Sou apenas um menino que vendia jornais pelas ruas de Torres e que teve o cuidade de ler o que ali estava escrito. Depois vieram alguns livros. E outros mais. Conheci pessoas como o Físico Bautista Vidal, aqui em Torres, que me abriram horizontes. Sou grato à minha mãe, que me trouxe ao mundo com muitas dificuldades e aos amigos que me rodeiam e estimulam. Grato também por ter tido esta oportunidade de vir aqui , hoje, participando do seu Programa Conversa na Beira do Rio, da Rádio Passo de Torres.


Publicado em: Cultura






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