No último sábado à noite, dia 24 de fevereiro, várias reclamações vindas de restaurantes torrenses localizados na margem do Rio Mampituba chegaram ao jornal A FOLHA. Os donos de alguns estabelecimentos gastronômicos estavam perdendo clientes, em pleno movimento de final de semana, por conta do forte cheiro de óleo diesel que estava sendo exalado a partir do rio. Em um dos casos, uma pizzaria teve – em menos de uma hora – sete mesas desocupadas antes do consumo por conta da reclamação dos turistas que relatavam não ser possível fazer suas refeições com aquele forte odor exalado. A reclamação também foi unânime por parte de outros restaurantes do local, que confirmaram que o mesmo cheiro já se repetira por duas vezes nas últimas semanas.
No domingo, dia 25, a reportagem do jornal esteve no local para averiguar o caso. Lá na beira do rio, notavam-se fileiras de peixes mortos boiando na bordo do Mampituba. O cheiro de óleo ainda era forte, embora não se conseguisse mais localizar manchas como as vistas na noite anterior.
Manutenção de barcos é hipótese
Conversando com pescadores e frequentadores do entorno do rio, inclusive alguns dos proprietários dos estabelecimentos gastronômicos, chegou-se à conclusão que, muito provavelmente, o problema seria recorrente – embora desta vez o mau cheiro tenha sido maior do que em outras ocasiões ao longo dos anos passados. Conforme estas fontes, há um habito dos donos de barcos e oficinas de reparos das embarcações de limpar os tanques dos motores (e os próprios motores) na beira do rio. Jatos de água limpam os tanques e os resíduos seriam ( conforme relatos dos consultados) jogados no rio, sem cuidados com o manejo. O mais grave é que, em alguns casos os tanques estão cheios (ou quase). E para a limpeza, o seu esvaziamento é necessário. Consequentemente, muitas vezes, por falta de cuidados ou de fiscalização, o combustível é descartado no rio, o que estaria causando o problema do mau cheiro e da mortandade de peixes.
A coincidência que poderia confirmar isto é o fato do mau cheiro ser sentido sempre à noite. Isto poderia indicar que os “poluidores” fazem o manejo irregular após o pôr do sol para evitar que a fiscalização ambiental flagre o mau feito ou comprove a prática com fotos ou filmagens. “A causa é cultural, mas de difícil prova. O problema, portanto, deve ser investigado por autoridades, com planejamento e investigação”, sublinhou uma das fontes consultadas pelo jornal A FOLHA.
Alerta no Passo de Torres confirma problema
Noticia veiculada na página da prefeitura do Passo de Torres no Facebook confirma que alguma coisa poderia estar acontecendo em níveis mais graves com o rio nos últimos dias. A matéria alerta para inúmeras denuncias referente à mortandade de peixes no Mampituba, especificamente de bagres. A notícia ressalta que, em Torres, a Policia Ambiental do RS também recebeu denuncias semelhantes.
Em consequência disto, já no dia 22 de fevereiro, o secretário do Meio Ambiente do Passo de Torres, Roger Maciel, juntamente com representantes da Secretaria do Meio Ambiente de Torres, do Comitê da Bacia do Rio Mampituba, da Colônia de Pescadores de Torres e a Policia Ambiental do Rio Grande do Sul – se reuniram para organizar e realizar vistoria no Rio Mampituba, a fim de buscar respostas para tal fato.
E nesta semana, em vistoria realizada a partir de uma embarcação, onde estavam presentes autoridades de ambas cidades que margeiam o Mampituba, foram observados alguns bagres de tamanho médio nadando lentamente, como se estivessem tontos ou intoxicados. Também foram encontrados alguns bagres mortos no trecho da ação, além de relatos de pescadores que foram abordados na encosta do Rio, que reportaram terem vistos peixes mortos, mas em pouca quantidade.
Exames laboratoriais devem confirmar o motivo das mortes
No final da ação de vistoria, ocorreu um encontro para discutir as possíveis causas das mortes dos bagres. Uma das hipóteses levantadas seria a de que as mortes teriam sido causada pela salinidade elevada do Rio Mampituba – devido à ação das marés, ocasionando a morte principalmente dos bagres juvenis. Porém, por se tratar de um evento pontual que ocorreu em poucos dias, há uma grande possibilidade de que algum produto químico (agrotóxico) possa ter causado tal mortandade. Na reunião não foi sugerida especificamente a possibilidade apontada no começo desta reportagem, que coloca a mortandade dos peixes ‘na conta’ do óleo das embarcações.
Para ter um diagnostico mais preciso, os técnicos realizaram coletas de água e capturaram bagres mortos, encaminhados para analises laboratoriais. A Secretaria Municipal de Meio Ambiente do Passo de Torres também fará coleta da água para analise, investigando a presença ou não de agrotóxico na água.
O Secretário Roger Maciel ainda destaca que “São ações como essa que fortalecem ainda mais a busca por soluções ambientais que melhorem a qualidade de vida dos animais e um dos bens mais preciosos para a vida, à água”.
Comitê Mampituba emite parecer
Na Última quarta-feira, dia 28 de fevereiro, o assunto também foi pauta no Comitê Mampituba, cujos representantes vêm participando das vistorias para analisar os recentes problemas do rio. Segundo o Prof. Dr. Christian Linck da Luz – que é biólogo e secretário executivo do comitê – existem várias hipóteses para a mortandade de peixes até o momento levantadas, tais como a salinidade e agrotóxicos. Todavia, Christian lembra que cada espécie tem sua própria biologia e que ainda poderíamos considerar hipóteses como temperatura da água ou patologias (microorganismos). O biólogo lembrou também que o bagre é considerado um animal resistente, pois vive frequentemente no fundo do rio comendo diversos tipos de alimentos, além conseguir viver tanto em água doce, quanto salgada. “Outro aspecto a ser considerado é que, quando existe uma contaminação expressiva, ocorre uma mortandade na cadeia alimentar, ou seja, outras espécies de peixes acabam morrendo e as aves que se alimentam dos peixes, também. E assim, sucessivamente”.
Na reunião do Comitê Mampituba, ressaltou-se a importância de que haja uma parceria entre a sociedade e representantes do governo, para que se tenha recursos para o monitoramento contínuo da qualidade da água do Rio Mampituba, não somente de critérios biológicos (como coliformes) mas também alertando a presença de agrotóxicos e metais pesados.