A ERA DO VAZIO

"A era do vazio tenta colocar em diferentes níveis o mesmo problema geral: a agitação da sociedade, dos costumes, do indivíduo contemporâneo da era do consumo de massa, o surgimento de uma forma de socialização e individualização inédita, que rompe com o instituído desde os séculos XVII" (por Ismael Netto).

Por do sol na Serra Branca
16 de março de 2018

 

Continuando a sequência de artigos sobre o pensamento de filósofos franceses modernos e influentes. Hoje iremos falar de Gilles Lipovetsky, sociólogo, professor e filósofo nasceu em 1944, em Millau, na França. Professor de Filosofia em Grenoble é autor de várias obras publicadas pela grande editora francesa Gallimard.

A era do vazio tenta colocar em diferentes níveis o mesmo problema geral: a agitação da sociedade, dos costumes, do indivíduo contemporâneo da era do consumo de massa, o surgimento de uma forma de socialização e individualização inédita, que rompe com o instituído desde os séculos XVII.

Aparece uma nova forma de controle de comportamentos, bem como uma diversificação incomparável dos estilos de vida, uma impressão sistemática da esfera privada, das crenças e dos papéis, ou seja, uma nova fase da história e do individualismo ocidental.

O processo de personalização implica uma nova maneira de organizar, de se comportar a partir do privado. Existem novos procedimentos que contêm novos propósitos, valores e legitimidade social: valores hedonistas, respeito pelas diferenças, culto à libertação pessoal, relaxamento, humor e sinceridade, psicologia, livre expressão, em suma, um novo significado de autonomia.

Na sociedade pós-moderna reina a indiferença em massa, o sentimento de repetição e estagnação, autonomia privada, inovação superficial e futuro não é considerado ou assimilado; Esta sociedade quer viver aqui e agora. Não tem ídolo nem tabu, somos governados pelo vazio, um vazio que não envolve nem a tragédia nem o apocalipse. Você também pode notar uma nova era de consumo que se estende à esfera privada; o consumo da própria existência através da propagação dos meios de comunicação de massa.

O valor narcisista aparece como uma consequência e manifestação do processo de personalização, de um individualismo limitado ao individualismo total. Também pode-se dizer que é uma era de “deslizar” onde não há base sólida ou ancoragem emocional estável; tudo se desliza para uma indiferença relaxada.

A era pós-moderna está obcecada com informação e expressão, onde todos podemos ser o locutor e ser ouvidos; A liberdade de expressão, a prioridade do ato de comunicação sobre o que é comunicado, a indiferença com o que é comunicado, a comunicação sem objetivo ou público, o emissor tornou-se o principal destinatário. Existe a necessidade de se expressar, mesmo que por si mesmo, se comunique comunicando-se, expressar-se apenas pelo ato de expressar, isto é, a lógica do vazio.

O medo moderno de envelhecer e morrer é parte do neonarcisismo: o desinteresse para as gerações futuras intensifica a angústia da morte. É o processo de personalização que evacua qualquer posição transcendente gera uma existência puramente atual. O indivíduo enfrenta sua condição mortal sem nenhum suporte transcendente.

Através do excesso de imagens, a personalização ocorre: a humanização vem com o aumento da inflação da moda. Então, há mais e mais estrelas e menos investimento emocional nelas, é gerada uma indiferença aos ídolos, feita de entusiasmo fugaz e de abandono instantâneo. Hoje não há tanta devoção ao Outro como a realização e transformação de si mesmo, cada uma com suas línguas e em seus vários graus, movimentos ecológicos, feminismo, cultura psi, educação legal de crianças, moda “Prática”, trabalho intermitente ou tempo flexível.

O princípio da realidade é substituído pelo princípio da transparência que transforma o real em um lugar de trânsito, onde o deslocamento é fundamental: a personalização é uma colocação em circulação. O espaço público tornou-se um derivado do movimento.

Os indivíduos aspiram mais a um destacamento emocional, devido à instabilidade que as relações pessoais sofrem no presente. O medo do desapontamento, o medo de paixões descontroladas nos leva a escapar do sentimento; levantar as barreiras contra as emoções e abandonar as intensidades afetivas é o fim da cultura sentimental, o fim do “final feliz”.

Quanto mais livres, os relacionamentos se tornam emancipados das antigas restrições, mais raras é a possibilidade de encontrar um relacionamento intenso. Em todos os lugares, encontramos a solidão, o vazio, a dificuldade de sentir, de ser transportados para fora de nós mesmos, daí o voo em experiências que não fazem nada além de traduzir essa busca por uma experiência emocional.

 

*Ismael Netto é Administrador,  Especialista em Comércio Internacional e  Professor Universitário.

 

 




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