O conflito aberto entre Israel e Irã, imenso país, com 90 milhões de habitantes, com raízes e cultura herdadas do clássico Império Persa, iniciou-se com um severo ataque – de surpresa, sem declaração de guerra – , dos israelenses no dia 13 último – 13/06/2025. Ele se insere em dois processos:
O primeiro, de caráter histórico, com a criação pelas Nações Unidas do Estado Israel na Palestina, num território de maciça presença de palestinos, administrado pela Inglaterra desde o final da I Guerra Mundial. Dali foram eles sumariamente expulsos pelo nascente Estado de Israel, que nada tem a ver com o Israel bíblico, abrindo um contencioso com o predominante mundo árabe que reagiu, foi à guerra, mas acabou, várias vezes, derrotado. O novo Estado, sempre apoiado pelos Estados Unidos, a ponto de ser visto por alguns como seu verdadeiro 51º. Estado membro, mostrou-se militarmente vigoroso e decidido a levar a cabo um política de expansão colonial e hegemônica sobre a região Os palestinos, acossados, acabaram confinados na Cisjordânia, hoje sob controle do grupo oriundo da liderança de Arafat, e na Faixa de Gaza, sob controle do Hamas, mais radical, frustrados em seu intento de criar um Estado próprio. A longa luta dos palestinos neste sentido, entretanto, contestada por Israel, projetou-se em toda a região, repercutindo mundialmente, e vinha sendo fortemente sustentada pelo Irã, antiga Pérsia, não árabe, o qual, desde 1979, se encontra sob tutela dos aiatolás, muçulmanos xiitas, apesar de sua inclinação à uma “ Solidão Estratégica”. Para estes, Israel deve ser varrido do mapa, estendendo seus braços no apoio a grupos de resistência como Hesbolah, no Líbano, Hamas, em Gaza, e hootsies, no Iêmen, além de outros, mais isolados na Síria. Sonham, enfim, com a hegemonia xiita sobre os muçulmanos.
O segundo processo, ligado ao ataque recente de Israel, se situa em dois contextos, um interno, pelo relevo da extrema direita em Israel, liderada por Bibi Netanyahu, quem, em 1996, já defendia a expulsão dos palestinos e negação do Projeto do Estado Palestino. O episódio mais odioso desta guinada interna vem sendo levado a cabo no bombardeio indiscriminado sobre Gaza, que já matou mais de 50 mil pessoas, além da colonização judaica da Cisjordania, muitos deles religiosos radicais; outro, externo, marcado pela crise da ONU como mecanismo de efetivação do Direito Internacional em escala global, hoje incapaz de evitar intervenções armadas abusivas de países mais fortes sobre mais fracos, processo acentuado pelo Governo Busch II, depois dos atentados ás Torres Gêmeas em N.Y. em 2011 e que acabou arrastando o exército americano para as aventuras sobre o Iraque , Líbia e Afeganistão, sempre na defesa de “um mundo (Ocidental, judaico-cristão) baseado em regras” e não mais na CARTA DAS NAÇÕES UNIDAS. Mais recentemente, a Rússia avançou nesta iniciativa, com a OPERAÇÃO ESPECIAL de ocupação da Ucrânia, em 2022, numa guerra cruel que já se arrasta por mais de 3 anos. Teme-se, também, que a China, mais dia, menos dia, invada o que considera sua província rebelde, Taiwan. Trata-se de um colapso, com base no fato consumado, nas regras de convivência internacional: Os fortes atacam, os mais fracos, padecem, isso sem entrar no mérito dos antecedentes de cada caso. Israel, agora, assumiu a mesma posição ofensiva, na suposta defesa de sua segurança EXISTENCIAL, isto é, de sobrevivência enquanto Estado. Dotado de inequívoca superioridade militar na região vem se impondo de uma forma cada vez mais insinuante. Já havia feito isso, principalmente sobre o Líbano e Síria, onde ainda ocupa as colinas de Golan. Avançou mais recentemente, com o apoio de outros países, sobre Síria, contribuindo para a deposição de Al Assad, sobre Gaza e, AGORA sobre o Irã. A matéria é complexa, exige cuidado e aprofundamento em seu estudo. Uma das conclusões aponta para o que disse, no artigo Defending India, Jaswant Singh, ministro da Defesa da Índia em maio de 1998: “ depois do show que os EUA deram na Guerra do Golfo de 1991, se um país quiser enfrentar os EUA, precisa de armas de destruição em massa, de preferência nucleares. Com efeito, assim o fizeram India, Paquistão e Coreia do Norte. Líbia, Síria, Iraque não (ainda), e acabaram destroçados.
Ninguém sabe até quando durará o conflito. Israel conta, para seu êxito na construção de “Um novo Oriente Médio”, ocidentalizado, sem contestações radicais, com o apoio americano, ainda indeciso e dividido quanto ao uso de seu poder de destruição do poder do Irã. Este, com maior e redobrada capacidade de resistência no longo prazo , talvez procure, sem rendição, uma trégua. Tétis, mãe de Aquiles, o grande herói grego na Ilíada, o vestiu com as vestes da invencibilidade mas, ainda assim, entregou-o ao Destino, sempre mais poderoso que os próprios deuses. O futuro nos dirá sobre o futuro…