A ineficiência mata: o triste fim de um cavalo em Torres

"No sábado (22), por volta das 17h, os torrenses assistiram a uma cena do século passado, uma carroça desgovernada na contramão na avenida Castelo Branco rumava em direção à caminhonete de uma mulher e seu marido" (por ATPA - Proteção Animal).

26 de junho de 2019
Por Renata Fortes (ATPA – www.atpacoracaoanimal.org)

No sábado (22), por volta das 17h, os torrenses assistiram a uma cena do século passado, uma carroça desgovernada na contramão na avenida Castelo Branco rumava em direção à caminhonete de uma mulher e seu marido. De dentro da caminhonete, o pânico de uma tragédia que aconteceria em segundos…e aconteceu! Mas, nessa história, a tragédia continuou durante três horas e o desfecho virou estatística.

Caída no chão, com fratura exposta uma das vítimas aguardava a ação dos órgãos públicos, enquanto turistas e moradores tentavam remediar o seu sofrimento. Depois de um considerável tempo chegou a Secretaria de Obras do Município com uma retroescavadeira e um caminhão. Todos se perguntaram: para atender a acidentada?

O condutor da carroça, segundo relato dos presentes, estava alcoolizado e o equipamento da carroça em péssimo estado de conservação. Foi inevitável deixar de relembrar o falecimento de morador em acidente causado por carroceiro, que também infringiu as regras de trânsito.

Indignada com a “prestação de socorro” enviada pela Prefeitura, a proprietária da caminhonete entrou em contato com o secretário municipal, Sr. Júlio Agapio, que, segundo ela nas redes socais: “se valendo de toda sua ‘autoridade’, me disse que o dono do cavalo era o único responsável pelo animal, que era ele que deveria dar um destino ao mesmo, que a Prefeitura não teria participação para recolher ou sequer acolher o animal, que a Brigada decidisse o desenrolar do caso, que buscasse os direitos do animal onde eu bem entendesse, e suas últimas palavras foram… ‘passar bem’, e desligou o telefone.” Passar bem?

Enquanto isso, a vítima mais grave permanecia na via pública, ao olhar tenso de turistas e moradores. A revolta era geral. Pessoas do bem iniciaram uma tentativa de socorrê-la. Um médico particular foi chamado e atendeu a vítima de forma gratuita, medicamentos foram doados na hora e um morador imobilizou a sua perna, para a fratura não piorar.

A secretaria de obras inciou o “resgate”, usando uma retroescavadeira e, com cordas, içou a vítima para colocá-la no caminhão. A ‘enjambração’ não deu certo, as cordas arrebentaram e a vítima caiu no chão, agravando o seu estado! Os presentes se revoltaram mais uma vez.  

Nova tentativa, dessa vez a vítima foi colhida do chão com a “pá” da retroescavadeira, e posta no caminhão, exausta. Dali, em vez de rumar para um atendimento médico, foi levada para um sítio. A notícia que circula nas redes sociais é de que foi morta no dia seguinte, eutanasiada.

A identidade da vítima deste acidente não interessou à Prefeitura, a sua vulnerabilidade e os seus direitos. Ela é apenas mais um número na estatística das mortes de animais em Torres por omissão de socorro, que esta colunista acompanha desde 2012. A vítima era uma égua explorada, que sequer tinha ferradura. Visivelmente mal nutrida, sua vida era conduzida para puxar fretes em meio a fumaça dos carros por um ser humano incapaz de lhe ofertar o mínimo de dignidade e cuidado, alcoolizado e sem noção expões a vida de todos que transitavam em Torres naquele dia.

A Prefeitura de Torres possui dois veterinários concursados e um reboque para animais de grande porte. O que todos estão se perguntam nas redes sociais: por que a Prefeitura preferiu ser ineficiente e causar mais sofrimento ao animal e a todos que se envolveram e presenciaram o acidente?

Maltratar animais é crime, conforme art. 32 da Lei 9.605/98, e as práticas que submetem os animais à crueldade são proibidas pela Constituição Federal. Animais sentem dor física e psíquica, como nós sentimos, por isso recebem proteção legal como outros seres vulneráveis em nossa sociedade: crianças, pessoas com necessidades especiais e idosos.

A Prefeitura mantém as carroças nas ruas, por meio do projeto Carroceiro Legal, e, pelo visto, não exerce a devida fiscalização. Gestor público consciente sabe que carroças e trânsito não combinam.

Infelizmente, a Prefeitura de Torres demonstrou, mais uma vez, que precisa agregar a sua administração valores como compaixão e empatia pelos munícipes, humanos e não-humanos. Além do dever de cumprir a legislação, é claro.




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