Lá pelos idos de 1979, quando estudava o “segundo grau” (hoje, ensino médio) em Araranguá, eu e meus colegas torrenses tivemos que apresentar, em uma disciplina, a cidade de Torres e o estado do RS. Lembro que fizemos uma grande pesquisa para conhecermos melhor nossa própria cidade e região. Fizemos até incursões para o interior do município, que naquele tempo incluía os distritos de Três Cachoeiras, Morrinhos, Dom Pedro de Alcântara e Mampituba. Foi um trabalhão, mas como prêmio maior não foi a nota do trabalho (que nem me lembro) e sim o conhecimento de muitos lugares que nem tínhamos ideia de que existiam. Como bom torrenses, só conhecíamos a cidade ou parte da cidade, e quase nada do interior.
Ao apresentarmos o tal trabalho, passamos a conhecer o interior do município e, também, a reconhecer lugares comuns da cidade que pouco visitávamos. Foi realmente um olhar para dentro do lugar que vivíamos e por ali estar não o visitávamos com frequência e nem dávamos o valor merecido, só visto quando o mostramos para os outros colegas.
Lembro, também, que na apresentação todos os componentes estavam com uma camiseta com um desenho da guarita, assim como a pasta utilizada para colocar os papéis que serviram de suporte para a leitura. O desenho era sem detalhes, era preto no branco “maciço”, a guarita, parte da torre sul e o anfiteatro, todos em preto, no fundo branco.
Nosso trabalho estampava, em sua capa, o símbolo maior da cidade: a guarita. Não lembro se falamos sobre a guarita em si, se entramos em detalhes, não guardei nada deste trabalho, apenas a lembrança e uma fotografia que recebi há alguns anos. E foi ela, a foto, que me remeteu ao trabalho escolar e ao tema desta coluna. Porquê sempre que se falava em Torres a primeira coisa que vinha na mente era a Guarita?
Hoje acho que isto mudou.
A cidade de Torres está cada vez mais vinculada ao Balão, ao balonismo, pouco se fala (institucionalmente ou não) nos morros ou na guarita. Acho que se perguntássemos hoje o que lembra você quando se fala em Torres, a resposta seria balão. O que mudou?
O balonismo hoje está se tornando mais “importante” que a própria natureza ímpar torrense. O antigo símbolo de Torres, a Guarita, está perdendo ou já perdeu o lugar para o balão. Isto lembra a história de uma espécie não nativa que entra em um lugar e desbanca as espécies nativas daquele lugar. Será?
Será que estamos deixando de lado o bem mais precioso, o bem que não tem em nenhum outro lugar, só aqui, e estamos valorizando outro que existe em qualquer lugar do mundo?
Será que não existe uma maneira de uni-los em vez de separá-los?
Não vejo mais a antiga valorização da Guarita, me parece que todo o investimento está sendo direcionado apenas para os balões. Não falo apenas do poder público, mas também dos investidores privados da nossa cidade. A maioria das empresas esqueceu de incluir a guarita em suas mídias e investe maciçamente nos balões.
Uma pena.