BELVEDERE: de frente para o passado e de costas para o futuro

"Há tempos venho pensando em como escrever sobre uma boa lembrança da minha infância e um marco de Torres esquecido e marginalizado pelo menos nos últimos trinta e poucos anos: o Belvedere" (por Roni Dalpiaz).

31 de maio de 2021

Há tempos venho pensando em como escrever sobre uma boa lembrança da minha infância e um marco de nossa cidade esquecido e marginalizado pelo menos nos últimos trinta e poucos anos.

O Belvedere.

Belvedere em italiano quer dizer mirante, mirador ou observatório. Terraço no alto de um morro e de onde se descortina um belo panorama.

Busco lembranças de quando conheci o Belvedere. Na minha memória ficaram gravadas algumas cenas aleatórias e descontinuadas de como era o lugar no final dos anos 60. Lembro de um extenso espelho d´água com uma grande quantidade de peixes coloridos. No meio deste espelho d´agua um obelisco demarca o local como uma grande flecha cravada na água. Lembro, também, da linda vista para uma lagoa, uma mata e, ao fundo, os morros.

No ano de 1967 desceu na praça da prainha um helicóptero, nele estava o então presidente da República do Brasil, o General Costa e Silva. De lá, o presidente, se deslocou para uma clareira as margens da BR 101, próximo onde hoje está o posto Belvedere. No percurso alunos das escolas do município o saudavam com acenos de bandeirinhas do Brasil. (eu não estava nesta, mas estava na chegada do presidente Médici em setenta e poucos. Que mania que eles tinham de colocar os estudantes fazendo isso naquele tempo!).

Nesta data seria inaugurada parte da BR 101 entre Torres e Osório.

Houve uma grande preparação para este evento significativo para o estado e para o país. Bondosa quantidade de carne foi assada e oferecida aos convidados e a população que lá assistiu a inauguração.

Meu pai foi o responsável por trazer, de caminhão de Capão da Canoa, o chope (da Brahma) que seria consumido na festa. Diz ele que foi escoltado por batedores durante todo o trajeto, visto a importância da carga. Era uma multidão, e pelo que se sabe, faminta e sedenta, pois não sobrou nada do caminhão de chope que teve que ser reforçado com caixas de cerveja adquiridas na cidade.

Após a inauguração o Belvedere passou a ser um local procurado pelos torrenses. Geralmente aos fins de semana as famílias torrenses costumavam ir até lá para olhar a BR 101, a mata atlântica, fazer piquenique ou apenas admirar a novidade. Essa prática perdurou por muitos anos até o lugar ser ocupado por uma zona do meretrício. Esta “atividade”, mais tarde, também foi substituída (ao que parece) e atualmente existe um restaurante, um parador para caminhoneiros e, mais recentemente, um posto de combustíveis.

Hoje, parece que a cidade virou as costas para o velho Belvedere.

Nada é feito no sentido de regatar este que é um patrimônio importante e histórico da cidade. Eu sei que a cidade não tem, digamos assim, como característica principal a preocupação em preservar e/ou resgatar esse tipo de patrimônio (e muitos outros), mas quem sabe, outros, que também tenham boas lembranças do lugar, possam fazer um pouco de pressão sobre as autoridades e a própria sociedade, na tentativa de resgatar, além das memórias, o próprio lugar.

Bem, essas são lembranças que por vezes surgem empurradas por memórias emprestadas.

Acredito que o Belvedere ainda esteja não apenas na minha memória, mas em boa parte da memória dos torrenses.

 

Fontes: Memórias emprestadas pelo meu pai, Lerio Dalpiaz, e pelo “seu” Silvio B. Costa – cliente da minha galeria de arte.




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