Com pouco trabalho em meio ao Coronavírus, moradores da periferia ficam ainda mais expostos em Torres

"Basta andar pelos bairros e vilas de Torres para encontrar pessoas sem dinheiro para comprar alimentos para os filhos nem informação para se proteger do vírus que já matou quase 9 mil brasileiros até esta quinta, (07)" (Por Dani dos Santos Pereira

Vista aérea de Torres (foto meramente ilustrativa)
7 de maio de 2020

Basta andar pelos bairros e vilas de Torres para encontrar pessoas sem dinheiro para comprar alimentos para os filhos nem informação para se proteger do vírus que já matou mais de 11 mil brasileiros (até esta segunda, 11)

Luciane depende do Bolsa Família e de um bico para manter os três filhos. Diarista que atualmente anda “sem nada de faxina”, Luciane Nunes do Nascimento, 51 anos, hesitou em responder à pergunta sobre os itens alimentícios disponíveis em sua despensa no momento. Diante da minha insistência para que especificasse o que restava, a moradora do Bairro São Jorge, desviou o olhar antes de informar. – Açúcar — disse Luciane. — Assim, de quilo, açúcar” — esclareceu. Sem chamados para faxinas, Luciane arrumou outro bico: cuida dos filhos de uma vizinha, funcionária de um supermercado, por R$ 200,00 mensais. De resto, pede ajuda a parentes e vizinhos.

A diarista Luciane sofre com a sobrecarga de prover mais comida, uma vez que os filhos não estão frequentando a escola, onde contavam com a merenda. Enquanto aguardava em frente a agência da CEF para receber o auxílio emergencial do governo, Luciane contou que eles vêm conseguindo tomar café da manhã e almoçar – e a frase terminou em reticências, sem listar outras refeições no dia. Às 10h de terça-feira (05), a diarista ainda não sabia o que ofereceria às crianças dali a pouco:

Os mais carentes da cidade sofrem também com outra chaga: a desinformação. Na fila em que Luciane aguardava a abertura do banco, muitas pessoas se perfilavam – grande número sem máscaras de proteção nos rostos ou usando de forma incorreta. Crianças, sem ter com quem ficar, acompanhavam os pais.

João Gonçalves, que aguardava na fila comentava com outros — Isso aí foram os poderosos que fizeram, e quem paga somos nós — dizia João, sobre a pandemia. — Com medo todo mundo fica, mas se tiver que ter doença… Tô por Deus. Paciência.

Desde o início da pandemia, João sobrevive com o salário da esposa, aposentada por invalides. O dinheiro também sustenta os dois netos menores deles, todos vivendo em uma casa de dois quartos. Gastos considerados supérfluos foram cortados, e a alimentação passou a ter os pratos mais baratos possíveis.

— A preocupação está gigante. Nossa filha gravida está chegando com mais uma netinha, as contas chegando. O que compramos de comida está se indo — lamentou o desempregado.

João é mais um brasileiro que tenta conseguir o auxílio emergencial de R$ 600. Até terça-feira, o pedido dele ainda estava sob análise da Caixa. Enquanto isso, parentes, além do pouco dinheiro que sobrou, têm ajudado a família a seguir em frente. João vem evitando sair para não aumentar o risco de infecção, mas pretende percorrer postos de gasolina para distribuir currículos e tentar uma vaga como frentista, função que já desempenhou:

 

Não há nem lixo para recolher

 

No bairro Engenho Velho, a recicladora Tereza Rosa da Silva, 60 anos, viu sua arrecadação cair para quase nada desde o início da crise. Antes, ela passava o dia coletando latinhas, para vender. Com as medidas de isolamento, ela não tem mais o que recolher.

— Eu já fiquei a zero e não tenho dinheiro para me sustentar. Estou vivendo de ajuda, reciclando só o que os outros me trazem. Como não tenho telefone, uma amiga tentou com um vereador, mas até o momento nada recebi da prefeitura, ou do vereador  — contou.

A prefeitura através da Assistência Social tem entregado cestas básicas no Centro de Referência de Assistência Social (Cras) e no Centro de Referência Especializado de Assistência Social (Creas). “As pessoas que estão passando por dificuldades podem buscar o Cras. Podem entrar em contato por telefone, sem necessidade de deslocamento. Importante que o contato seja feito via telefone para evitar aglomerações”, orientou a prefeitura, por meio de nota.

O Serviço de Atendimento à Família (SAF), deveria fazer mais rondas pelos bairros e detectar estes atendimentos emergenciais. Nenhum Presidente de Associações de Moradores foi contatado nesta crise, são eles que detém a demanda da comunidade, e que poderia identificar e ajudar no atendimento da população invisível, o poder público ao priorizar o atendimento agendado, deixa de atender a camada mais necessitada, são estes que tem pressa, pois a fome não espera.

 

Dani dos Santos Pereira é presidente da Associação dos Bairros de Torres

 

Sugestões e reivindicações podem ser enviadas para daspe@terra.com.br     ou Rua Coronel Pacheco, 985.

 




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