DEPOIS SERÃO SÓ LEMBRANÇAS DE TORRES…OU NEM ISSO

"Em uma cidade turística, o patrimônio histórico, seja ele edificado ou não, deveria ter prioridade ao suposto apelo pelo progresso. Isso deveria ser levado ainda mais a sério em cidades que possuem poucos exemplares preservados e em condições de contar um pouco da história local".

17 de setembro de 2021

Existem lugares em que casas velhas (não antigas ou sem valor histórico) são substituídas por novas casas ou novos prédios, resultando em um impacto positivo, revitalizador. Porém, na maioria dos casos não é isso que acontece!

Em uma cidade turística, o patrimônio histórico, seja ele edificado ou não, deveria ter prioridade ao suposto apelo pelo progresso. Isso deveria ser levado ainda mais a sério em cidades que possuem poucos exemplares preservados e em condições de contar um pouco da história local.

Vejamos a cidade de Torres, nela só existe uma pequena área central (centro histórico) que ainda existem algumas casas de valor histórico. Um perímetro delimitado entre a lagoa do Violão, de um lado, e o mar, de outro, terminando na escola Sagrado, e uma ou outra fora deste perímetro.

Já falei várias vezes sobre este assunto em minhas colunas, não sou contra a construção de prédios ou novas construções, apenas quero, assim como muitos outros, preservar o pouco da história da cidade que ainda está de pé.

Como já disse, são poucas as casas que ainda estão aí, porque não preservá-las? Será que meia dúzia de casas históricas de pé irão prejudicar financeiramente algumas construtoras ou o desenvolvimento da cidade? Acho que não.

Em 2017 este jornal noticiou a destruição de uma casa listada no patrimônio da cidade, depois dela outras tantas também se foram, todas na Prainha. Se fizermos um acompanhamento das casas desta lista e das casas que ainda estão por lá, garanto que a lista está reduzida a uma ou duas, no máximo!

Na época, o historiador Leo Gedeon, salientou que o imóvel estava listado como inventariado pelo COMPHAC (Conselho Municipal do Patrimônio Histórico, Artístico e Cultural). Localizado na Prainha ou Praia do Meio, um dos pontos turísticos mais famosos de Torres, o imóvel demolido era um ‘bungalow’ do estilo “missões”.

Outra casa afetada, na época, foi uma das casas icônicas da prainha. Ela foi desmanchada e realocada fora de seu lugar original, perdendo grande parte de seu atrativo. Sobrando para nós, defensores do patrimônio histórico, a falsa satisfação de agradecer por sua preservação. Como se isso fosse uma normalidade.

A casa noticiada em 2017 era do estilo “Missões” de origem espanhola (também já escrevi sobre isto), muito popular nos anos 1930 e difundida em todo o litoral gaúcho (mais ou menos nos anos 1950), com vários exemplares em nossa cidade. O nome “Missões” vem de sua denominação norte-americana: Missions Revival. Sua origem nos Estados Unidos remonta à década de 1890. Na mesma vertente neo-colonial também figura o “neo-colonial hispânico”, “hispano-americano” ou “espanhol”, na época conhecidos como “estilo mexicano” e “bungalows californianos”. Este estilo já era frequentemente encontrado em construções tanto em Porto Alegre, região metropolitana quanto no litoral e, portanto, bem comum. Assim como aconteceu a profusão de casas desse estilo pelo estado, a mesma forma acontece hoje na sua destruição. A maioria está dando lugar a novas construções, assim como acontece aqui em Torres.

Sabe quantas casas destas ainda existem por aqui? Duas, se contarmos com o “Castelinho da Praia da Cal”, que está mais ou menos de pé. Mas inteira mesmo existe apenas uma.

Ela permanece igual desde sua construção na década de 40, ali próxima à escola Jorge Lacerda. Há bem pouco tempo tinha como parceira uma “irmã gêmea”, onde funcionou uma Casa de Sopas e mais recentemente um atelier de pintura. Esta irmã, não existe mais, só sobrou ela.

Ou melhor, não sobrará nem ela. Pelo que sei ela pertence a herdeiros da proprietária e três quintos já foram vendidos a uma construtora (parece que de Porto Alegre) e, sem nenhuma proteção legal, logo logo será apenas uma lembrança em um velho álbum de família. Destino, aliás, da maioria dessas casas.

Como vejo construtoras, imobiliárias e outras empresas relacionadas a esta área, mobilizadas em cuidados ambientais, movimentos em prol da cultura local e regional, envolvidas com criação de conteúdos sobre história local nas redes sociais, entre outras atividades, elas poderiam agregar a estas ações, outras que auxiliem ou fomentem a preservação e/ou recuperação do já escasso, porém rico patrimônio cultural edificado da nossa cidade.

Uma dessas ações poderia ser o “prêmio consolação” chamado “Fachadismo” (fruto da coluna da semana passada). Se for impossível a preservação do patrimônio, ao menos a fachada ou parte da casa, poderia ser poupada. Sei que isso não é o ideal, mas da forma e com a velocidade que elas estão desaparecendo, seria um ato desesperado de preservação.

Sei que existem mais pessoas que pensam como eu e várias outras que divergem e aí é que está o problema. Não vemos mais a discussão ou busca por soluções, só vemos elas desaparecerem como “problemas solucionados”. Depois, mesmo, ninguém mais se lembra. Será?




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