FANTASMAS DO PASSADO DE TORRES (PARTE 2): O Crime do Delegado

Dando continuidade ao tema “inacreditável”, iniciado na semana passada, vou recontar desta vez uma história, não de fantasma, mas bem intrigante e igualmente assustadora. A história é de um crime ocorrido na cidade lá pelo início do século passado por volta dos anos de 1920, provavelmente (por Roni Dalpiaz)

FOTO: Antigo Hotel Teló (ou seria Zeló?), em Torres - Arquivo de Roni Dalpiaz
20 de maio de 2020
Por Roni Dalpiaz

Dando continuidade ao tema “inacreditável”, iniciado na semana passada, vou recontar desta vez uma história, não de fantasma, mas bem intrigante e igualmente assustadora. A história é de um crime ocorrido na cidade lá pelo início do século passado por volta dos anos de 1920, provavelmente.

Esta história foi contada por dois escritores, o historiador Guido Muri e Enedir Quadros (no livro de Eduardo Festugato). As versões da mesma história têm alguns detalhes conflitantes, embora o enredo e o desfecho sejam bem próximos. Diferentemente do que fiz na história contada na semana passada, nesta eu vou dar a minha versão aproveitando partes e informações das duas.

A história é “O crime do Delegado”, um crime ocorrido na pacata vila de Torres que envolveu o delegado e um casal dono de hotel há um século atrás.

O hotel Zeló (ou seria Teló, o hotel da foto acima) ficava onde hoje está o posto de gasolina, na esquina oposta ao banco Bradesco. Este hotel era de propriedade do senhor Zeló (conforme narrado pelo seu Enedir) e pela sua esposa Irene Zeló (suposto sobrenome). Dona Irene era uma mulher muito bela e despertava interesse em muitos homens da cidade, apesar dela ser uma mulher casada. Um destes “flechados” pelos encantos da bela dona foi o delegado da cidade, o senhor João Freitas, sendo igualmente correspondido. Da violenta paixão, surgiram vários e arriscados encontros românticos que não passaram despercebidos pela pequena população da cidade, que, logicamente, condenava o escândalo.

Tratando o marido como estorvo ao romance, o delegado resolveu dar um fim a seu oponente. Chamou o soldado “Negrinho” para fazer o serviço. O soldado era seu subordinado e já tinha um antecedente de ter afogado o seu padrinho num poço, e fazia este tipo de serviço por encomenda. Em troca ele recebeu uma fatiota (terno) completa, incluindo chapéu e sapatos.

“Em noite escura postou-se o soldado atrás de arbustos no pátio do estabelecimento, em frente a porta da cozinha. Era aquele momento em que o casal encerrava as lides hoteleiras e aproveitava para o sossegado jantar em comum. O cenário estava armado: a noite trevosa; a cozinha fartamente iluminada pelo grande lampião; somente o nenê no colo do pai é que impossibilitava a bala fatal. A esposa pedia a criança ao incauto marido e insistia, com pretexto ora de mudar a roupa do filhinho, ora de pô-lo na cama, e o pai, como que adivinhando, ainda mais se agarrava ao filho e mais o mimava. Porém a maldade, vestida de mãe, venceu, e o inocente mudou de colo, instante mortal em que o tiro certeiro prostrou o inditoso hoteleiro.”

O delegado de polícia, abriu inquérito para apurar os fatos e, como se esperava, não encontrou o culpado, pois era ele mesmo!

Nesta época o José Antônio Picoral já tinha seu Balneário Picoral aqui na cidade e considerou um escândalo o caso de adultério e assassinato e tomou suas providências.

Um chefe de polícia do estado enviou um delegado especial para investigar o crime, acompanhado de três policiais. O delegado especial permaneceu na cidade durante uns 15 dias, interrogou muitas pessoas e chegou ao tal do Negrinho por denúncia da própria mulher. Preso e após dias a pão e água, o soldado Negrinho, confessou o crime a mando do delegado. Agora só faltava prender o delegado!

Mas essa era a parte mais difícil, o delegado Freitas andava bem armado e sempre acompanhado de dois soldados de confiança. Então o delegado especial resolveu armar uma cilada para o delegado Freitas. Chamou dois moradores de Torres e amigos de Freitas e lhes contou quem foi o mandante do assassinato e solicitou a ajuda dos dois e disse:

– Quando ele chegar… Ele vai chegar daqui a pouco mais, porque eu mandei chamá-lo. Vou cumprimentá-lo e quando eu disser “Boa tarde” e apertar a mão dele, vocês chegam um de um lado e o outro do outro. Passam a mão nos revólveres dele que eu dou “voz de prisão”. E assim foi feito. O delegado assassino nem reagiu.

A Irene Zeló foi condenada como cúmplice do assassinato do próprio marido. O soldado Negrinho, morreu na Casa de Correção em Porto Alegre. O casal assassino, também foi parar na Casa de Correção de Porto Alegre, e graças ao advogado, e mais tarde desembargador, Vieira Pires, tiveram suas penas reduzidas. Em menos de 10 anos já estavam soltos, casados e com uma filha. A princípio moraram na capital e tinham um pequeno comércio, mais tarde parece que voltaram a morar perto de Torres, na Vila São João ou no Passo de Torres.

 

Fontes: Guido Muri, Remembranças de Torres; Eduardo Festugato, Torres de antigamente.




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