“INVERNEIO” EM TORRES (OU “ÀS MOSCAS”)

"O interessante é que ainda temos em nossa mente e em nossas ações aquela ideia antiga dos tempos de balneário, sempre alimentada e mantida viva pelos antigos e novos veranistas, que conservam a ideia da “antiga colônia” (Por turismólogo e artista plástico Roni Dalpiaz)

Imagem mostra crescimento urbano de Torres nas últimas décadas
10 de março de 2020

Agora a cidade vai ficar “às moscas”.

Ouvi de pessoas “de fora”, com residência aqui em Torres, esta frase e, pela primeira vez, não me choquei! E não me choquei pelo seguinte fato: não é mais assim!

E não é mais assim já há algum tempo, só que nós “torráqueos” não nos demos conta. Claro que ainda falta muito para não dependermos apenas do verão para sobrevivermos na baixa temporada, mas já mudou bastante. Não somos mais aquele “Balneário” no pior sentido da palavra, agora temos “vida própria” depois da temporada.

O interessante disso tudo é que ainda temos em nossa mente e em nossas ações aquela ideia antiga dos tempos de balneário, sempre alimentada e mantida viva pelos antigos e novos veranistas, que conservam a ideia da “antiga colônia”. Não é por mal que assim falam, é por ignorância mesmo. Ignorância no sentido exato da palavra: estado de quem não está a par da existência ou ocorrência de algo.

Antes que fiquem bravos comigo, reafirmo que muitos torrenses nem sabem ou acreditam nessa nova condição. Um ponto a favor dos “veranistas” ou turistas de temporada, é que estes só vêm para cá na temporada ou em feriados, o que não lhes dá o contato necessário para observar com exatidão o verdadeiro cotidiano da cidade.

O termo “ás moscas” sempre ouvido no final do veraneio na minha infância, nunca foi algo muito claro para mim, porém sabia exatamente do que estavam falando: a saída dos turistas e veranistas da cidade, e a consequente volta ao marasmo e quietude do esquecimento nos longos meses de “inverneio” (parecia que só existiam duas estações: verão e inverno).

Bem, mas o porquê das moscas? Com o tempo e ouvindo várias versões entendi o significado, mas não gostei. A expressão remetia a sobras deixadas para que fossem dividas entre as moscas, ou talvez, o lixo, por eles deixados, atrairia moscas para nos fazerem companhia.

Ou simplesmente, só ficarão os “bicuíras”, ou seja, vazio, “sem ninguém”! Era como se os que ficassem fossem “ninguém”. Triste, porém verdadeiro. Era essa a realidade, e foi por bastante tempo para nós, e segue sendo verdadeira para a maioria das pequenas praias do litoral gaúcho.

Essa era a realidade das chamadas estações balneares, balneários, praias ou o que se chamavam de colônias de férias. Hoje, algumas dessas antigas denominações se modificaram, e passaram a ser chamadas de “cidades”. Agora, com infraestrutura de cidade, não somente a denominação.

Apesar de enfrentar ainda muitos problemas (afinal, quem não os têm?), Torres tem quase tudo que precisa para ser chamada de “cidade de Torres” e não mais “praia de Torres”. Ainda dependente do turismo de temporada, Torres já se credencia a se reinventar e transpor a próxima etapa, a da geração de renda (e emprego) o ano inteiro de forma contínua e estável.

Os elementos necessários nós temos. A experiência acumulada dos mais antigos somados a nova geração (que não possui no DNA os resquícios da subserviência dos primeiros moradores) que está surgindo está dando a “liga perfeita” para este novo ciclo.

Esta é a combinação perfeita para termos uma cidade nos moldes dos grandes destinos turísticos: dependente do turismo, porém autossustentável nos períodos de baixa estação.

Para os que pouco conhecem Torres pós veraneio, lembro que em março a cidade esvazia um pouco mesmo, é que os torrenses também saem para curtir suas férias.

Ah! Mas eles voltam logo e a vida continua por aqui.




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