Érico Veríssimo, o maior escritor riograndense, nasceu em 1905 e faleceu em 1975. Em sua homenagem, a Academia Riograndense de Letras dedicou, neste cinquentenário de sua morte, o Ano Érico Veríssimo. Todos os meses, sucedem-se em sua sede, em Porto Alegre, palestras sobre a vida e obra deste ilustre escritor. Excelentes. Tenho assistido.
Li, aliás, na juventude grande parte de seus livros, o primeiro deles, justamente, o primogênito de sua obra “Caminhos Cruzados”, não muito bem aceito pela crítica. Eu, acostumado a ler romances da “Biblioteca Lar Feliz”, da minha mãe, professora, maior parte de autores estrangeiros, fiquei encantado com aquela ambientação e personagens portoalegrenses. Depois li “O tempo e o vento” e vários outros que foram saindo da fornalha editorial ao longo dos anos 60, quando Porto Alegre vivia ainda seus “Anos Dourados”.
Mas de “Solo de Clarineta”, dividido em dois volumes, no qual o autor conta e sua infância e adolescência , que reli recentemente, guardei uma expressão, que agora me ocorre: “Tu querias um concerto (de jazz?), eu te dei um solo de clarineta”. Por que? Porque o mundo está atravessado por tensões incontáveis, conflitos armados de grandes proporções, favelização generalizada nos quatro cantos do planeta, violência incontida nas grandes cidades, nas quais desponta nossa transnacional do crime, crise ambiental quase irreversível e eu, confrontado ao ofício de cronista, esqueço isso tudo, e lhes entrego, hoje, nada mais do que um poema:
Morre-se
Morre-se de tudo. Ou de qualquer coisa
Morre-se de repente, de bala perdida, até num acesso de riso
Morre-se até do nada:
“Ia o transeunte concentrado em si mesmo quando caiu duro.’
Procuram a causa.
Nesta semana morreu a jovem Juliana na boca de um vulcão na Indonésia.
Ninguém para socorrê-la.
Morre-se de maldade alheia, quando nos colhe desprevenidos
E se morre por excesso de compaixão na Poesia
“Então, por gentileza, eu morri”.
Morre-se assim, morre-se assado
Morre-se até envenenado pela própria língua
Manda ver!
Exsurge a morte quando a palavra corta
Ou se extingue a vida lentamente quando pré-datada
“Se me for, morro de uma vez e pronto.
Se ficar morrerei aos poucos, devagarinho…”
Pior do que a morte, porém, é o corredor da morte
Sing Sing
Ontem num Estado americano mataram seis de uma vez
Todos se consideravam inocentes.
“Estou aqui porque os juízes eram corruptos e os advogados preguiçosos…”
Quê sei eu. Pois, da própria morte?
Se tiver que vir, virá. E quando.
Mas, venha, por Deus, docemente
Como os lábios das mulheres que amei
Como a vida que contemplei, os vinhos que bebi, os livros que reli
Como as baforadas dos charutos que curti nos 53 anos do meu filho…
Pois o tempo não é. Dá-se.