Falar sobre o significado e origens do DIA DO TRABALHO, no primeiro de maio de cada ano, é até fácil. Basta consultar o Dr. Google e, em poucos linhas, ficamos sabendo de toda sua história: eterno martírio dos que carregam o mundo nas costas ao longo da geografia do mundo. Das pirâmides egípcias aos arranha céus contemporâneos. Um pouco mais difícil é situar o DIA DO TRABALHADOR no século que lhe corresponde, como um sacrifício que acabou sacralizado, numa era em que os trabalhadores deixaram de ser apenas força de tração humana, com severas obrigações perante seus amos e o Estado, para se converterem em cidadãos, com inalienáveis direitos numa moderna ordem social competitiva e democrática. Um círculo concêntrico de direitos, a partir dos direitos civis, precocemente obtidos na Inglaterra, passando pelos direitos políticos, depois da Revolução Francesa, até chegarmos aos direitos sociais no século XX, quando se consagrou o Estado de Bem Estar no Ocidente, não por acaso denominado “Século dos Direitos”.
Mas até chegarmos ao Estado Moderno a humanidade pagou um elevado preço: Quatro séculos de intermináveis guerras mundiais, a primeira delas a Guerra dos Trinta Anos (1618-48) que se encerrou com o Congresso de Westphalia, as duas últimas, 1914/18 e 1939/45, com um passivo de 100 milhões de mortos; prolongadas guerras civis, como a que ceifou a vida de quase um milhão de almas na Guerra Civil americana; golpes reacionários e retrocessos no âmbito corporativo ou de continentes inteiros, como as ditaduras cruéis que varreram o Cone Sul entre as décadas de 1960 e 1980. Hoje, por exemplo, quando falamos em “fordismo” vem-nos à mente o sucesso de um certo Henri Ford, por décadas o maior fabricante de automóveis do mundo, que institui a linha de montagem reduzindo o custo final dos carros e mudando a fisionomia social e urbana do planeta. Poucos sabem que era um autoritário patrão que reagiu violentamente ao reconhecimento do Sindicato dos Trabalhadores como um agente institucional indispensável à regularização das relações capital-trabalho na década de 1930. Explica-se: Era um simpatizante do nazismo e não conseguiu perceber o caráter social da propriedade, nem compreender que não basta a eficiência econômica quando não envolta no manto da Justiça. Achava que bastava cercar-se de pistoleiros que intimidavam e atiravam em operários revoltados para manter a “ordem” no “seu” terreiro. Foi necessária a ação visionária de um Presidente Roosevelt, eleito em 1932 e no cargo até as vésperas do fim da II Guerra, para colocá-lo sob o império da Lei de 1933 que passava a reconhecer o direito dos trabalhadores à organização e representação oficial por sindicatos. A esta época, até a conservadora Alemanha já havia reconhecido um conjunto de direitos sociais dos trabalhadores, inclusive a aposentadoria pública. Estava selado que Estado e Mercado são instituições necessárias, convenientes e indispensáveis ao funcionamento da moderna sociedade. No Brasil, Getúlio Vargas, depois da ruptura de 1930, quando soterrou a Velha República, que tratava a Questão Social como “caso de polícia”, com a garantia da “coluna tenentista” que lhe garantia o Poder Central e o estendia pelas intervenções federais nos Estados, quebrando, ainda que parcialmente, o conservadorismo interiorano, em 1943 aprovava a CONSOLIDAÇÃO DAS LEIS DO TRABALHO – CLT. Desde então, o trabalhador brasileiro se orgulha de sua Carteira de Trabalho e de seus direitos sociais, dentre os quais os pessoais, como horário regulado de trabalho com direito a repouso e férias, assistência social e sanitária, na qual o SUS cumpre importante papel e acesso à educação pública e gratuita. Hoje, mais da metade das vagas das Universidades públicas é ocupada por jovens oriundos das classes mais pobres, maioria deles negros. Isso é o Primeiro de Maio.
Para chegarmos a isso, entretanto, muitos mártires. Infeliz do povo que precisa deste holocausto para chegar a seus direitos democráticos, mas mais infeliz, ainda, aqueles povos que não são ou não foram capazes de oferecê-los: A primeiro de maio de 1886, em Chicago (EUA) uma greve geral, impulsionada pelos anarquistas, em prol da jornada de trabalho de oito horas, sustentada por uma imensa manifestação de milhares de pessoas acaba em tragédia. A partir daí a Segunda Internacional dos Trabalhadores começou a celebrar a data que, afinal, ficou abençoada como o Dia dos Trabalhadores.
Viva o Primeiro de Maio!