OPINIÃO – CONTRASTES EM TORRES

Esses dias, uma amiga compartilhou a foto que ilustra essa postagem, que ilustra também um contraste entre o passado – a antiga prefeitura – e o presente – os balões que colorem a cidade durante todo o ano. De um lado, a beleza dos balões; de outro, o esquecimento de um prédio quase em ruínas.

20 de maio de 2025

Por que o passado está sendo cada vez mais esquecido diante da “pressa” dos dias atuais? Não sei se é uma impressão de quem está envelhecendo, mas os dias parecem, de fato, mais curtos e o tempo, mais veloz. Tenho a sensação de que, mesmo sem muitas obrigações, o dia se mostra insuficiente para as tarefas cotidianas. Pode parecer ansiedade, mas não é. Pode soar como falta de disciplina ou planejamento, mas tampouco é.

Muitas atividades possuem horários, prazos, métodos e condições específicas, e nem sempre se encaixam no tempo que temos disponível.

Deixando o âmbito pessoal e indo para o coletivo, temos um exemplo prático dessa situação.

Esses dias, uma amiga compartilhou a foto acima, que ilustra um contraste entre o passado – a antiga prefeitura – e o presente – os balões que colorem a cidade durante todo o ano. De um lado, a beleza dos balões; de outro, o esquecimento de um prédio quase em ruínas.

À primeira vista, a imagem pode sugerir uma harmonia entre o passado e o presente. No entanto, uma análise mais atenta revela a enorme distância entre eles. A pressa do presente, assim como o balão, segue ao sabor dos ventos do chamado progresso. Não para, pois balão não tem freio, assim como o processo de construção desenfreada em nossa cidade. Não há tempo – ou não se quer dedicar tempo – para observar esses monumentos do passado, pois eles não atendem à urgência do presente. E os dias parecem curtos demais para isso. Enquanto o tempo avança, prefeitos se sucedem e o prédio histórico da antiga prefeitura continua aguardando uma brecha na agenda do futuro.

A publicação da foto, acompanhada do texto original, provocou reações e comentários de amigos que ampliaram e enriqueceram a reflexão sobre o tema. Como essas contribuições foram feitas em uma rede social, optei por reuni-las em um único texto, com o objetivo de apresentar de forma mais coesa e fluida a ideia central que nos une.

 

“Houve um tempo em que Torres prezava por suas histórias, suas paisagens e sua memória coletiva. Hoje, esse tempo parece cada vez mais distante. Em meio a uma avalanche de obras e empreendimentos imobiliários, a cidade vai, pouco a pouco, perdendo aquilo que a tornava única: sua identidade cultural.

O cenário atual revela um apagamento silencioso, mas profundamente preocupante. Um povo sem cultura, sem acesso à sua própria história, perde também sua capacidade de reflexão crítica. Em Torres, isso já se faz sentir. Onde antes havia memória e pertencimento, hoje se ergue o ruído incessante da especulação imobiliária.

Construtoras avançam sobre tudo: paisagens naturais, prédios antigos, praias, vias públicas. Tudo vira terreno fértil para a construção de apartamentos de luxo, voltados a um público que, na maioria das vezes, mal pisa por aqui. Basta observar: muitos dos prédios recém-inaugurados permanecem com as luzes apagadas, inabitados por quase todo o ano. Quem mora, trabalha e estuda em Torres — o torrense de verdade — não tem acesso proporcional aos benefícios dessa “transformação”. Pelo contrário: presencia a destruição de seu patrimônio sem receber em troca nem o mínimo.

Enquanto tanto se constrói, a cidade também vê muito se perder. Bibliotecas? Não há. Auditórios para apresentações culturais? Tampouco. Museu? Existia, mas foi fechado de forma hostil no dia 18 de maio de 2022, justamente no Dia Internacional dos Museus. O espaço, que funcionava no prédio da antiga prefeitura, está abandonado. A omissão do poder público salta aos olhos — e fere quem ainda acredita na importância de preservar a história local.

A comunidade tem o direito — e o dever — de se manifestar. Por que não exigir contrapartidas das construtoras? Por que não transformar parte desses investimentos em um centro cultural de verdade, que acolha artistas, conte a história da cidade, receba estudantes e encante visitantes? O que falta não é demanda. O que falta é vontade política.

É preciso também denunciar o comportamento de certos representantes eleitos. Infelizmente, muitos daqueles que foram escolhidos pelo voto popular parecem ter se desconectado da realidade da população. Ignoram as vozes que se levantam contra o apagamento da identidade local. Agem com miopia política e superficialidade, promovendo a destruição do que resta da paisagem e da memória de Torres.

A crítica aqui não se dirige à cidade, mas àqueles que a administram de forma rasa e sem sensibilidade. Os torrenses que cuidam de suas memórias afetivas, que valorizam a cultura e a história, não devem ser confundidos com esses governantes transitórios. São esses cidadãos conscientes que mantêm viva a chama da resistência cultural.

Torres ainda valoriza sua história. Quem não a valoriza são as autoridades que serão lembradas, no futuro, por suas atitudes pequenas diante de um patrimônio imenso. Este artigo é, antes de tudo, um pedido de socorro — em nome do museu, da memória e das pessoas que ainda pensam.”

 




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