OPINIÃO – Gentrificação no Bairro Predial, em Torres

Este fenômeno de gentrificação vem afetando o bairro, que tem alteração das dinâmicas da composição do local (tal como novos pontos comerciais ou construção de novos edifícios), valorizando a região, mas afetando a população de baixa renda, muitas delas que inclusive vivem no local há mais de 50 anos. 

|Parte do Bairro Predial (Imagem via Google Maps)
18 de agosto de 2023

O Bairro Predial, em Torres, vem sofrendo um processo de gentrificação, onde pelo atual Plano Diretor o bairro tem parte como zona de revitalização urbana, que nunca sofreu intervenção municipal como prevê a lei. Este fenômeno de gentrificação vem afetando o bairro, que tem alteração das dinâmicas da composição do local (tal como novos pontos comerciais ou construção de novos edifícios), valorizando a região, mas afetando a população de baixa renda, muitas delas que inclusive vivem no local há mais de 50 anos.

O quantitativo de famílias não é exato porque nunca foi feito cadastramento municipal, sendo que o levantamento realizado pela associação de Moradores do bairro no ano de 1991 foi limitado ao perímetro da área negociada com a Cia Predial e Agrícola S/A. Importante ainda, nesse ponto, indicar que o município não fez levantamento na área denominada, mas devido à valorização do bairro atualizou valores para fins de cálculos de ITBI, gerando a especulação imobiliária no local. E esta correção acabou tornando praticamente impossível para os moradores fazer a confecção das escrituras definitivas de seus imóveis, devido o alto custo do valor registrado de suas propriedades. E para ajudar, a Associação dos Moradores do Bairro Predial, com aprovação dos moradores teve de fazer parceria, contratando uma empresa para fazer a Regularização Fundiária, pelo REURB, com isso evitando a desvalorização dos imóveis.

As principais consequências da gentrificação são a segregação sócia espacial e o aumento da desigualdade social. A valorização do bairro vem implicando no crescimento descontrolado com ocorrência de impactos. No nosso ponto de vista, a falta de serviços por parte da prefeitura no sentido de revitalizar o bairro (como prevê a lei) vem prejudicando o local de maneira geral, o que tem ocasionado que as pessoas sejam praticamente forçadas a migrarem para outros lugares.

Há pouco tempo, os moradores viam no local a queima de lixo (o rio) e viram também ser construída a ponte e as ruas de acesso com pavimentação asfáltica que leva ao município de Passo de Torres SC. Está tudo bem. A regeneração, nesse nível, é nossa amiga. Estamos vendo a vida comunitária ser empurrada para as margens, vendo surgir a nova classe média e promissora. Os habitantes nativos têm um forte senso de comunidade, a classe média que chega traz um forte senso de individualismo materialista.

 

Valorização imobiliária: O Bairro Predial se tornou mais desejável devido à localização, pois tem potencial de desenvolvimento, é central e possui toda infraestrutura (apesar de inadequada e com valores ainda baixos, mesmo que os preços dos imóveis tenham aumentado) devido à especulação imobiliária, devido à demanda por espaços urbanos.

 

Investimentos em infraestrutura: Agora com a nova proposta do Plano Diretor entregue à Câmara de Vereadores de Torres, estaremos reivindicando mudanças para adequar e melhorar a infraestrutura da região que deixa a desejar, pois, o bairro com parte sendo de “Área de Revitalização Urbana” ficou no ostracismo, sem nenhuma ação da prefeitura em 28 anos, período de vigência do atual Plano Diretor, não havendo nada de investimento para recuperar ou revitalizar o bairro como prevê a lei. Com becos e ruas estreitas (muitas sem calçadas, dificultando a mobilidade urbana) ainda existe a necessidade de aberturas de ruas, de programa municipal de habitação, transporte público eficiente e áreas de lazer. Mesmo sem infraestrutura adequada houve valorização dos imóveis por ser zona central, e isso vem atraindo empreendedores que aguardam a conclusão do novo Plano Diretor para definirem o rumo de seus empreendimentos, assim como moradores com maior poder aquisitivo vêm mudando as atividades socioeconômicas da região.

 

Diferenças entre gentrificação e revitalização – A principal diferença da revitalização é que ela é focada na melhoria da qualidade de vida da população que mora no local. Ou seja, a ideia é manter os moradores, mesmo tendo o poder público municipal nada feito na área considerada de revitalização urbana. No entanto, infelizmente, mesmo com o descaso da prefeitura, o bairro Predial foi valorizado, e começou a atrair mais pessoas interessadas em morar no local e aumentando a especulação imobiliária, com a valorização, ocorrendo a gentrificação.

Sabemos que a gentrificação é um processo natural da cidade. Mas a forma como esse desenvolvimento urbano vem sendo realizado, sem interferência da prefeitura, acaba impactando negativamente na população de baixa renda. Com a pressão para vender suas casas por valores abaixo do mercado, as pessoas vão morar cada vez mais longe do centro, ficando longe de seus empregos ou, muitas vezes, acabam ficando desempregadas devido à dificuldade de locomoção.  Isto quer dizer que a gentrificação prejudica diretamente a população periférica, aumentando os problemas sociais da cidade.

 

 




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