OPINIÃO – PLANO DIRETOR E CAMINHO CORRETO

Coluna de Fausto Jr - Jornal A FOLHA - Torres - RS - Brasil

Imagem meramente ilustrativa
4 de novembro de 2021
Por Fausto Júnior

Em meio as possibilidades (finalmente) de editar adaptações no Plano Diretor Urbano de Torres, num sistema democrático (e saudável) naturalmente surgem opiniões colocadas de forma absolutamente segura por pessoas da sociedade, opiniões que são também (naturalmente) rechaçadas por outras opiniões, muitas vezes totalmente contrárias à primeira, mas também levantadas de forma absolutamente segura, como se fossem a única verdade.  Isto é a democracia e a liberdade de opinião. Trata-se de respeitar as óticas das coisas, de respeitar a possibilidade de existir contextos diferentes de enxergar uma realidade. E de saber que, consequentemente, se óticas diferentes são naturais, caminhos diferentes de ação nas coisas coletivas devem ser formados. São cognições inteligentes, mas formadas por contextos diferentes, às vezes antagônicos, o que gera decisões praticamente antônimas.

Veja esta observação mandada por um leitor de A FOLHA para a redação sobre o assunto. Segue de forma original:

Sobre o novo Plano Diretor:

Querem mais prédios, habitantes, IPTU, comércio e renda?

PORQUE NÃO PLANEJAR UMA “NOVA ORLA” ou “ZONA SUL” na ITAPEVA? Com descontração urbana e possibilidade de acessar o “mar de dentro” na Lagoa Itapeva? 

PAREM DE FOCAR SÓ NA PRAIA GRANDE‼

Vejam que o leitor acima está seguro, aponta sua verdade que parece inquestionável e que quer dar sua opinião sobre o que ENXERGA em Torres.  Sua opinião se baseou na ótica que o Plano Diretor estaria sendo feito para que a cidade tenha mais prédios, mais habitantes, mais IPTU, mais comércios, mais renda. E sua opinião sugere que a forma de fazer isto seria desenvolvendo as praias do sul com casas para veranistas, como se  faz  em locais de várias outras cidades do Litoral Norte, como Atlântida (Xangri-lá), Arroio do Sal e etc.

 

PLANO DIRETOR E CAMINHO CORRETO II 

Concordo com a linha de raciocínio do leitor citado acima. E lembro que as praias do sul de Torres estão há décadas sem receber investimentos importantes do setor público. Sequer a pavimentação da Interpraias foi feita, quando no município de Arroio do Sal, por exemplo, praticamente tem toda sua interpraia está asfaltada, numa orla de quase 30 km de extensão. E as praias do sul de Torres (da Itapeva a Praia Paraíso) não têm 5 km de extensão. Concordo que utilizar a Lagoa Itapeva como mais um atrativo natural e de verão poderia também ser uma alternativa para fomento de urbanização de veranismo, principalmente através de casas que tenham acesso ao lago natural.

Mas a cidade de Torres não é somente de VERANISMO. Ela é foco de Turistas que buscam o destino para passar alguns dias, turistas locais, nacionais e internacionais. Por isso possui hotéis em maior número que em outras cidades do Litoral Gaúcho (mais de veranismo).

E Torres cresceu nos últimos anos baseada na vontade cada vez maior de veranistas querendo morar no entorno das belezas naturais ÍMPARES da cidade, como as formações geológicas e morros da Praia Grande, Prainha, Praia da Cal, Guarita. De possibilidades de morarem perto do Rio Mampituba, na esquina dele com o oceano, de morarem perto da Lagoa do Violão, todos locais centrais e longe das Praias do Sul. De morarem em um local que possui captação de esgoto em todas suas vias como o centro de Torres nas praias já citadas. De estarem próximos ao mesmo tempo de infraestrutura comercial, de atendimento de Saúde, de ofertas de restaurantes, itens que só existem em bairros mais centrais.

Será que o caminho para Torres se desenvolver mais, gerar mais habitantes, emprego, gerar mais IPTU e etc., como sugeriu inteligentemente o leitor acima, não é mais fácil e mais autêntico se for feito fomentando o aumento da construção de prédios na região central de Torres? Será que o perfil dos veranistas de Torres não é diferenciado, de pessoas mais exigentes por belezas naturais próximas como as que o centro da cidade e suas principais praias oferecem? Será que o caminho do desenvolvimento de Torres não deveria ser, então, gerando mais infraestrutura ainda para a construção de prédios para classes mais altas, que naturalmente gastam mais e acabam sendo fonte de captação de mais turistas justamente por isso, pela projeção ou pela empatia? Será que, se a cidade buscar desenvolvimento das praias do sul ela não vai concorrer com praias similares e de público similar como as praias gaúchas ao invés de  se armar e se equipar  mais para concorrer com praias mais exóticas (como as de Santa Catarina, por exemplo), e naturalmente com um público mais turístico?

São óticas diferentes que naturalmente levam para raciocínios em caminhos diferentes. Mas são visões inteligentes. Um plano de desenvolvimento de um município, portanto, deve ter os dois ( ou mais) estudos para depois decidir para onde DEVE ir e não para onde QUER ir. A ciência disto está em saber onde os caminhos são coerentes pelos estudos feitos. E o Plano Diretor deveria se basear nisto, se for para o DESENVOLVIMENTO, é claro.

 

ALTURA DE PRÉDIO NÃO INTERFERE NO MEIO AMBIENTE: AO CONTRÁRIO

Outra coisa que em épocas de plano Diretor aparece recorrentemente é a tentativa de pessoas que não querem (legitimamente, porque têm direito a opinião) ver mais edifícios construídos na cidade (principalmente os que tiram a vista de suas janelas) e argumentam que os problemas que estes (edifícios) vão causar fossem ambientais. Mas geralmente não existe impacto ambiental grande de edifícios altos na urbe, se comparados com a construção de casas e de edifícios menores com uso total de área – como atualmente são em Torres. Se não vejamos:

Usaremos 30 casas com quatro pessoas morando em cada uma delas como um modelo. E se compararmos com um edifício onde existem 30 apartamentos onde moram também quatro pessoas por AP, o número de moradores é o mesmo, mas o impacto ambiental das casas é muito maior. São 30 pontos de lixo a ser recolhido pelos garis diariamente, contra um ponto no edifício… São trinta pontos onde cachorros e recicladores podem furar o lixo e espalhar papeis e plásticos no chão, contra somente um ponto no edifício. São trinta entradas de luz e fios nas casas, contra uma entrada no edifício. São 30 entradas de antenas para TV e para internet contra uma. São trinta canos de entrada de água contra um no edifício. São 30 canos de saída de esgoto (que podem estragar e mal cheirar) para o sistema de tratamento contra um grande (e seguro) do edifício. São pelo menos trinta entradas de veículos nas casas contra uma só em um edifício. Enfim: Os impactos ambientais são menores nos edifícios do que nas casas.

 

ALTURA DE PRÉDIO NÃO INTERFERE NO MEIO AMBIENTE: AO CONTRÁRIO II 

Na beira da  orla alguns dizem que prédios altos podem gerar sombra na praia, como gerou em Camboriú, onde os gestores atualmente estão sendo obrigados, inclusive, a aterrar o mar para diminuir o impacto da sobra aos banhistas (como foi feito em Copacabana no Rio de Janeiro na década de 1960 passada). Mas em Torres, a sombra dos edifícios de Camboriú chegaria somente nas dunas (de nos horários de final de tarde no verão – entre 17h e 19h).  É que a faixa de areia em Torres (ao menos na Praia Grande)  é pelo menos quatro vezes maior do que a que havia em Camboriú antes do aterro, talvez bem maior do que a área agora já aterrada.

O que mais prejudica o microambiente na construção de edifícios (e até em casas) são os recuos dos terrenos. Se há recuos laterais exigidos por lei, as pessoas que caminham na rua podem ver o horizonte, além de naturalmente conviverem com locais arborizados entre as construções com recuos maiores. Se fosse assim em Torres  ( ou se for assim em algumas áreas ainda não muito construídas na cidade), pode-se inclusive ter a possibilidade de enxergar o mar quando se está a várias quadras da orla, pois os recuos em conjunto geram corredores de visão, assim como propiciam corredores de circulação de ventos, uma questão que penso ser altamente natural e agradável.

Do jeito que o Plano Diretor atual normatiza as obras na zona de beira de praia de Torres, pode-se construir somente a 9 metros de altura, mas não há necessidade de recuos laterais nas construções, o que gera falta de circulação de ar, gera rajadas de ventos por conta da concentração do nordestão nas paredes fechadas dos edifícios -quase grudados – e falta de área verde nos pátios dos prédios que utilizam toda a área justamente para compensar a falta de altura permitida. E a compensação de vista não existe… As pessoas que caminham no meio dos edifícios (mesmo os pequenos) não enxergam longe, porque não existe espaço entre uma edificação e outra.

Olho no lance…  e no “horizonte”. Vamos ao Plano Diretor.

 

 

 




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