UMA FACHADA DE LEMBRANÇA – FACHADISMO: UMA ESPERANÇA?

Considero importante dizer que apesar de não concordar com a proliferação do fachadismo, muitas vezes ele é a melhor das piores soluções (por Roni Dalpiaz).

Neste caso, excepcionalmente foi aceito a conservação apenas da fachada de histórico imóvel na rua Júlio de Castilhos (em branco e azul - canto direito) por que o restante não havia como recuperar...
13 de setembro de 2021

Várias cidades do mundo têm em sua arquitetura o grande interesse turístico. Por este motivo, mantiveram um olhar diferenciado na manutenção dos prédios históricos e da paisagem com o mínimo de alterações possíveis.

Vi recentemente no Facebook uma foto de Oxford em 1810 e outra do mesmo lugar e ângulo em 2015, o que as diferenciava era o asfalto e os carros, que só existiam na segunda foto. Acima das duas fotos estava escrito: “Não é preciso destruir o passado para se obter o progresso. ”

Pois bem, em nossa cidade de Torres há bem poucas edificações que tenham valor histórico, na verdade o núcleo urbano da cidade se iniciou por volta de 1800 e a partir daí por bastante tempo só existiam duas únicas ruas. E era nestas ruas que estavam os casarios mais antigos da cidade. Com a expansão da cidade, muitos chalés foram sendo construídos à beira mar na região da prainha, isso já na década de 1920 em diante, e lá foi sendo formado um pequeno bairro de veraneio, com casas de diversos estilos, principalmente as de influências mexicanas. Esse conjunto de casas dava a esta parte da cidade um ar pitoresco que remetia aos antigos verões do século passado.

E, sem dúvida nenhuma, se tratava de um local com grande apelo turístico valorizado por quem vinha de fora, mas pouco valorizado pela cidade. Fato comprovado pela destruição quase que total desta antiga paisagem urbana. Poucos exemplares ainda restam, e certamente serão destruídos logo ali adiante. Eram só duas pequenas áreas urbanas que poderiam ser, de alguma forma, preservadas ou protegidas do avanço das construções. Infelizmente elas estavam na rota da especulação imobiliária.

Mas não é só aqui que isso acontece, nem mesmo os grandes destinos turísticos estão livres disso. Porém em alguns lugares em vez de colocar toda a construção “no chão”, as empresas que as compram mantêm suas fachadas “em pé”, e modificam todo o “recheio” da construção, ou ainda, constroem algo totalmente novo e moderno alheio à fachada.

“Um exemplo significativo do emprego dessa técnica é o Pelourinho em Salvador, Bahia, onde uma corrida pela preservação dos casarões históricos, somada à necessidade de torná-los úteis e usáveis, fez com que seu interior fosse totalmente demolido, apenas a fachada ficou de pé. ”

Um exemplo torrense do Fachadismo está na foto em destaque. Neste caso, excepcionalmente foi aceito a conservação apenas da fachada por que o restante não havia como recuperar. Esta foi a solução para a não destruição total desta casa de grande valor histórico e afetivo para a cidade, a casa onde morou o maestro e fundador da primeira banda da cidade, Antônio João Ramos.

Neste caso, excepcionalmente foi aceito a conservação apenas da fachada de histórico imóvel na rua Júlio de Castilhos (em branco e azul – canto direito) por que o restante não havia como recuperar…

 

Considero importante dizer que apesar de não concordar com a proliferação do fachadismo, muitas vezes ele é a melhor das piores soluções.

O Fachadismo não é nenhuma novidade, após as destruições causadas por catástrofes naturais ou por bombardeamentos durante as guerras, muitas fachadas que resistiram foram conservadas, alterando, ou melhor, refazendo todo o resto. Nestes casos, prevaleceu a vontade de recuperar uma memória ou identidade perdidas, na tentativa de preservação de um certo patrimônio afetivo. A fachada assume-se como elemento simbólico que tem o poder de retomar referências históricas, numa aceitação do simulacro da operação do fachadismo.

Também é verdade que muitas vezes esta falsa proteção do patrimônio edificado acaba se transformando em um arremedo fraudulento do que foi um dia. Janelas são aumentadas, paredes reduzidas, vidros modificados, pisos, cores, texturas, tudo alterado de forma a não refletir a fachada de outrora. A história que afinal fica contada é falsa, vazia, desinteressante e muitas vezes inestética.

Muitas das casas históricas da cidade já desapareceram e as poucas que ainda estão de pé contam um pouco da história da cidade. Seja de forma plena ou em partes, algumas destas casas permanecem de pé.

Os casarios açorianos que abrigaram uma loja de artigos de pesca e uma casa de sopas, em nossa cidade, estão só à espera do tempo. Mas não para resgatá-los, mas sim para exterminá-los.

Essas casas, se tiverem sorte, terão suas fachadas preservadas e se transformarão em outros exemplos de Fachadismo na cidade. Porém o futuro delas não será este, provavelmente serão demolidas e darão lugar a alguma construção moderna como tantos outros exemplos espalhados pela cidade.

A demolição integral destes e de outros patrimônios edificados, significa apagar memórias coletivas, testemunhos históricos e patrimoniais (material e imaterial; erudito, nobre ou comum) e escrever novos capítulos na história das cidades.

A simples demolição destas casas, destruirá todo o seu passado. Porém, a antes odiada ideia do fachadismo surge como uma solução não só para a manutenção de suas fachadas, mas da memória coletiva, que de algum modo celebrará o legado histórico dessas antigas casas.

É tempo de recorrer a uma «última arma», discutível, sem dúvida, mas muito melhor que a demolição pura e simples: a da preservação da fachada, e/ou parte do edifício em causa, integrando-a na nova construção; são só vantagens: não impede a escavação para pisos subterrâneos (…) e tem ainda por si o fator cultural de não se perder a ligação com um pedaço de história da cidade, que antes fica assim «embutida», a fazer parte de uma nova história… e tudo isto para além de vir ainda a prestigiar o edifício (…) tudo pelo preço de não demolir o plano da fachada, durante a construção! José Manuel Fernandes.

 

Fontes: https://caosplanejado.com/patrimonio-perverso-ouro-preto/

http://cidadedepirenopolis.blogspot.com/2014/05/diga-nao-ao-fachadismo.html

http://www.jornalarquitectos.pt/pt/jornal/j-a-256/o-fachadismo-da-reabilitacao

José Manuel Fernandes, Editorial – Em defesa da fachada, revista Arquitectura n.º 146, Maio1982. Fotos de Fatos no Twitter: “Você não precisa destruir o passado para se ter o progresso. https://t.co/w2nJPyrPYW” / Twitter




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