WENDROTH, O DEBRET DOS PAMPAS

"Tons claros contrastados com o forte azul do mar e suaves tons terrosos dos penedos. Duas das famosas torres que dão o nome a cidade estão representadas na aquarela de Wendroth, bem como a guarita e uma pequena formação rochosa que aparentemente existia entre elas" (por turismólogo e artista plástico Roni Dalpiaz).

1852 – Penedos de Torres; época do fim da província de São Pedro do Rio Grande do Sul (por Wendroth)
21 de novembro de 2018

Tons claros contrastados com o forte azul do mar e suaves tons terrosos dos penedos. Duas das famosas torres que dão o nome a cidade estão representadas na aquarela de Wendroth, bem como a guarita e uma pequena formação rochosa que aparentemente existia entre elas.

Assim como Pelichek, Wendroth retratou a vila de Torres em sua esplêndida, e ainda pura, beleza. Isto aconteceu, talvez, entre os anos de 1851 e 1852 quando por aqui passou e registrou, com seus pinceis, os cenários do Rio Grande do Sul oitocentista, deixando-nos como legado um importante acervo iconográfico.

Hermann Rudolf Wendroth, alemão vindo para o Brasil logo após 1850 para lutar contra Rosas, o tirano argentino. Ele aportou por aqui com um grupo de alemães conhecidos como brummers que significa resmungões. Além de Wendroth, vieram outras figuras que fizeram história pelo solo gaúcho contribuindo de maneira apreciável para o enriquecimento científico e cultural do Rio Grande do Sul e do Brasil: Carlos Von Koseritz, na defesa dos direitos políticos dos imigrantes, o Barão Von Kahlden, Wilhelm Von Ter Brüggen e Frederico Hänsel que foram membros da Assembleia Provincial do Rio Grande do Sul; Franz Lothar de la Rue, primeiro diretor da colônia de Teutônia; Carl Otto Brinckmann, jornalista em Santa Maria; Carlos Jansen, jornalista em Porto Alegre.

Wendroth, além de combatente, era um artista amador e produzia, também, pequenos textos.

“Seus desenhos e aquarelas significam para o Rio Grande do Sul o que Debret é para o Brasil. Há esboços e pinturas de Wendroth que dão uma ideia muito exata do Rio Grande entre 1850 e 1860. Flora e fauna são revelados, mas sobressai o registro dos usos e costumes: índios atravessando rios em pelotas de couro em que acomodavam família e pertences, o uso do laço e das boleadeiras, cenas de negros sendo castigados por escravos acorrentados, carretas e embarcações da época, tudo com muita minudência”.

Claro que a comparação entre Wendroth e Debret é um tanto, se não muito, esdrúxula, porém seus registros são documentos que comprovam com riqueza de detalhes os usos e costumes daquela época no Rio Grande do Sul da mesma forma com que Debret os retratou em relação ao Brasil. As diferenças aqui ficam na importância dos artistas e na missão de cada um. Debret, um reconhecido artista francês, vindo para o Brasil em missão artística, e Wendroth, um artista amador e mercenário, vindo em missão bélica.

O primeiro, e mais famoso, ainda publicou grande parte de sua obra na sua volta à França. O segundo, o brummer, teve seus trabalhos confiscados pelo exército após sua deserção e posteriormente surrupiados por um certo F. A. Buhlmann que os ofereceu a Dom Pedro II dizendo ser de sua autoria.

Embora não publicados, por vias tortas, os trabalhos de Wendroth foram reconhecidos e valorizados após chegarem as mãos do imperador. Ainda que Buhlmann tenha tentado vendê-los como seus, o verdadeiro autor foi facilmente e para isso cooperou Sofia, uma das retratadas eleitas pelo pintor e que invocava seu nome.

Outro aspecto a ser destacado em comparação a Debret e a outros artistas-viajantes, é que os desenhos de Wendroth não são complementados com comentários explicativos, mas apenas com legendas em alemão. Este pode ter sido um fator que contribuiu para o pouco conhecimento do seu álbum, posteriormente publicado.

“Wendroth pintou vários rostos femininos, legou-nos cenas inusitadas como a de soldados com as calças a meia-canela atravessando um banhado ou de uma batalha em que oito soldados alemães teriam posto a correr um batalhão da guarda nacional usando os urinóis como armas em hospital de Pelotas. Aventureiro, explorou ouro no burgo de Lavras e pintou mineiros em atividade a céu aberto, bem como um rancho a que chamou “minha residência” em Lavras. Fez um estudo das rochas e da presença do metal na região, bem como sobre o carvão de pedra no Rio Grande do Sul. Valorizado pelos ministros do imperador, as imagens de Wendroth passaram a figurar no Museu Nacional.”

O indisciplinado bummer alemão teve um fim desconhecido, presume-se que tenha falecido por volta de 1860 em Porto Alegre ou em Buenos Aires, um fim tão rabugento quanto ele próprio!




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