DIÁRIO DE MOCHILA – Retornando ao Sul, terra natal

Buenas! Na semana passada, escrevi sobre meus dias andando pelo paradisíaco Parque do Jalapão, no Tocantins. Nessa edição, falo de um dos momentos mais emocionantes e diferentes de minha jornada, quando retornei para minha terra natal. Boa leitura!

FOTO - No Morro das Furnas, em Torres
17 de setembro de 2022

Voltando ao sul

 

Um ano e meio sem aparecer no sul. Um ano e meio sem ver minha família e amigos. Eu saí de uma forma muito abrupta e precisava ficar um bom tempo fora do meu “antigo mundo”. Sempre mantive contato com todos, mas aparecer lá, não. O discurso que eu pregava para minha família e amigos era de que, no final do ano (2021), eu iria retornar para minha terra a fim de revê-los e depois retomar a estrada. Mas eu menti. Logo que entrei no Tocantins, comprei uma passagem de avião de Goiânia para Porto Alegre (mais barata que achei na região que eu estava), para o dia 23 de agosto. Bem antes do final do ano que meu discurso dizia. E, propositalmente, um dia antes do aniversário de minha mãe. Eu sempre amei fazer surpresas e essa seria uma das mais marcantes de minha vida. E não falei para ninguém até o dia que cheguei. Fortes emoções viriam…

De Palmas, peguei uma carona com um amigo caminhoneiro até Goiânia, onde embarquei rumo a Porto Alegre. Nos dias que antecederam o embarque, eu estava nervoso, diferente. Rever tudo aquilo que representou meu passado me deixava esquisito. Principalmente pelo fato de que minhas últimas semanas no sul foram muito pesadas, quando tive crises de ansiedade e depressão (antes de iniciar minha viagem). Mas ao mesmo tempo, uma felicidade gigantesca de saber que eu iria rever as pessoas mais importantes de minha vida. Enfim, uma mescla de sentimentos, e não poderia ser diferente.

 

Surpresa, cheguei!

FOTO – Com a família

Quando o avião começou a aterrissar na capital gaúcha, tive uma primeira sensação estranha.  Ver aquela cidade de novo. Sentimentos bons e ruins ao mesmo tempo. A segunda grande sensação que tive foi a do frio. Era inverno no sul e eu, praticamente desde o início de minha viagem, frequentava apenas estados com muito calor. Já fui preparado e agasalhado. De Porto Alegre, ja peguei um ônibus para Torres, cidade em que meus pais moram. Era véspera de aniversário de minha mãe e, no dia seguinte, a ideia era fazer a grande surpresa. No caminho liguei para o meu irmão, morador de cidade vizinha a Torres, avisando que eu estava no sul. Expliquei pra ele manter sigilo e de minha ideias para a surpresa. Chegando, fui para a casa dele, procurando ficar o mais escondido possível. Cidade pequena todo mundo se conhece e não queria correr o risco de alguém me ver por lá.

Após nos abraçarmos e conversarmos bastante, a noite desenhamos como faríamos no dia seguinte, aniversário de minha mãe. Acordamos cedo, entramos no carro e fomos para Torres. Era um lindo dia de inverno. Antes de fazermos a surpresa, pedi para que o Guile (apelido do meu irmão) me levasse na praia para eu rever o mar, afinal, faziam 10 meses que eu não via a água salgada. Maior período de minha vida que fiquei afastado do oceano. Após eu matar essa saudade, fomos para a casa dos meus pais. Eles moram em um apartamento térreo, como se fosse uma casa. Após o Guile se certificar que eles estavam por lá, coloquei meu mochilão nas costas e fui caminhando até a entrada. Meu coração parecia que iria sair pela boca de emoção e felicidade. Ao entrar, o primeiro que me viu foi meu pai, Fausto. Primeiro, fez uma cara de não entender nada, mas passado o susto, abriu um sorriso gigantesco. Minha mãe, que estava na cozinha, ao ouvir a movimentação estranha, veio para a sala. Eu já sabia ela, Teresa, que naquele dia completava 63 anos, não tinha histórico de problemas cardíacos. Mas mesmo assim, tive medo que ela pudesse ter algum ‘piripaque’. Mas deu tudo certo. Ao me ver, suas pernas amoleceram e por um momento pensei que ela fosse cair. Ao mesmo tempo, abriu um grande sorriso que foi enxaguado por uma chuva de lágrimas. E nossas lágrimas de juntaram no momento em que eu a abracei. Não sei explicar a sensação que tive nesse momento. Escrevendo aqui e agora, estou chorando de me lembrar. Foi uma sensação de paz e amor total. Minha mãe, enquanto me abraçava, parecia não acreditar que era eu mesmo. Ela fazia caras que eu nunca tinha visto. O melhor presente que ela poderia receber no seu dia, disse ela. Após isso, abracei fortemente meu pai e tivemos a mesma troca de amor. Eu estava em casa de novo.

As surpresas não pararam por ai. Ate então, minha família ja sabia de minha presença, mas meus amigos não. Por uma grande casualidade, a namorada de um dos meus grandes amigos estava, naquele mesmo dia, comemorando também seu aniversário. E a noite teria um encontro de todos em um bar da cidade para a celebração. Passei o dia em casa com minha família, conversando muitos e muitos assuntos e matando a saudade e, a noite, fui aonde meus amigos estavam. Ao aparecer, meus amigos não entenderam nada. Muito engraçado ver a cara das pessoas numa surpresa como essas. Os primeiros segundos são de confusão que depois é tomada por felicidade. Abracei todos eles e curti a noite por lá. Após isso, anunciei em redes sociais minha presença no sul, por onde fiquei cerca de um mês.

 

30 dias no sul

FOTO – Pipe com amigos de Torres

Esse período foi estranho para mim. Eu estava a cerca de 1 ano e meio andando sem rumo pelo Brasil. Praticamente, sem nenhum tipo de rotina e todo dia com algum tipo de novidade. Lugares novos, pessoas novas, realidades novas, experiências novas, etc. E de uma hora para outra, estou no lugar que representou meu passado com meus velhos conhecidos e dentro de uma certa rotina. Isso para mim foi um baque. Impossível ser diferente. Confesso que, antes de chegar, pensei que seria até pior. Meu alento era estar perto das pessoas que mais amo. Isso, sem dúvidas, foi bom demais. Eu nem lembrava mais o que era estar perto de pessoas que realmente te conhecem e vice versa. Pensando nesse aspecto, o tempo que fiquei pelo sul ainda foi pouco para todos que eu queria rever e da forma que queria. Enfim, mescla de sentimentos. Fiquei a maior parte do tempo por Torres e alguns dias também pela capital, Porto Alegre. Fiz (muitos) churrascos, vi o amanhecer em cima de um dos morros de minha cidade (coisa que ao longo de toda minha vida, nunca havia feito), relembrei as boas histórias do passado com meus amigos e matei toda saudades que pude de minha família. Eu havia ido para o sul com a ideia muito concreta de seria apenas uma visita. Que a jornada continuaria de onde eu havia parado (Tocantins). E estar lá me confirmou isso. Apesar dos maravilhosos reencontros, meu caminho tinha que seguir. Esse período me fez relembrar que tenho muitas pessoas que me amam e que amo também. Além disso, de que sempre que eu quiser, posso estar por lá de novo. Mensagem que deixei muito clara principalmente para os meus pais. Que minha vida continuaria sendo a estrada mas eu sempre estaria por ali.

 

E a estrada segue…

 

Antes de pegar o avião rumo ao Tocantins, fiquei alguns dias em Florianópolis para rever meus amigos de Naufragados, local que havia sido minha primeira parada em minha viagem. A ideia era comemorar o aniversário de Fabinho (nativo de Naufragados que fiquei muito amigo e que infelizmente é viciado em crack ). Mas ao chegar lá, não o encontrei. Ele já estava a alguns dias sem aparecer por lá. Possivelmente no centro da cidade usando a droga. Tentamos contato de todas as formas e nada. Mas outros amigos estavam por lá e curti da mesma forma. Dou destaque para uma meditação que fiz um dia antes de embarcar, em cima de um morro com visão para o mar. Foi a meditação mais profunda que já tive até hoje. Atingi um nível de presença e consciência que nunca havia atingido. Uma consciência que me deixou claro que eu estava no caminho certo e que minha jornada estava apenas começando. Pareceu ser um aviso meu para mim mesmo. Um aviso que, após ter passado aqueles estranhos dias no sul, me fizeram relaxar e me deram toda empolgação para entrar no avião e seguir estrada. Havia muito Brasil pela frente ainda…

Na semana que vem falo de quando retornei ao Tocantins e de uma das histórias mais marcantes que tenho até hoje, quando resolvi passar também uns dias no estado do Pará. Até lá!


Publicado em: Turismo






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