A chuva intensa trazida pelo último ciclone de setembro, entre os dias 26 e 27, afetou bastante a produção de hortaliças na região de Torres. No entanto as Panc, plantas alimentícias não convencionais, se mantiveram fortes ou se recuperaram logo depois do primeiro dia de sol.
“Eu fiquei encantada, porque outras verduras convencionais (as mais conhecidas, como alface, rúcula, chicória, etc.) estavam com as folhas caídas, amassadas, prejudicadas pela chuva. E as Panc não. Eu achei elas muito resilientes”, observou a agricultora Maria Inês Gonçalves Flores, do Sítio Café na Roça, em Três Forquilhas.
“A alface foi exterminada e o almeirão também. Chicória resiste um pouco mais, mas praticamente acabou com a horta”, relatou Nelson Bellé, do Centro Ecológico. Por meio de fotos enviadas no final da quinta-feira, dia 28 de setembro, Bellé mostrou a integridade do almeirão roxo, da capuchinha, urtiga, bertalha, taioba, na sua horta urbana em Três Cachoeiras. “São plantas que resistem mais, mas elas sofrem também. Não quer dizer que não sejam prejudicadas, mas muito menos. Quer dizer, eu tenho uma salada para comer, eu tenho coisas para comer na horta. Se eu depender dessa alface ali, não colho nada. Por enquanto destruiu tudo”.
A pouco mais de meia hora de Três Cachoeiras, no município de Mampituba, a experiência de Maria Scheffer com as Panc também atesta que, por serem rústicas, são mais resistentes às intempéries. Há algum tempo a professora e agricultora vende para o hotel Parador da Rede Casa da Montanha, em Cambará do Sul. “Numa outra época , quando o cozinheiro era mais dessa linha , vendíamos capuchinha, lírio do brejo (flor e raiz), azedinha, malvavisco, major Gomes, serralha, almeirão selvagem (uns conhecem por chicória do mato), flor de begônia, tansagem”. Atualmente ela vende em média uma caixa de urtigão por semana, com 50 a 70 folhas, por R$ 50 reais, e mais folhas de bananeira.
Liege Matos, da Verde no Prato, de Torres, é outra produtora que reconhece nas Panc plantas comestíveis que não precisam de muitos cuidados, porque são espontâneas. Com elas a empreendedora consegue diversificar as cestas entregues naos clientes a domicílio, uma vez que o clima, as pragas, a dificuldade de conseguir mudas e sementes de qualidade vêm dificultando bastante a produção de hortaliças. “As nossas Panc são: dente de leão, bertalha, erva de pepino, beldroega, ora pro nobis, peixinho da horta, almeirão verde, rúcula selvagem e picão preto.”
Avenida Paulista
A disposição de servir Panc não é exclusividade do cliente de Maria Scheffer. O restaurante Terraço Jardins, no Hotel Renaissance em São Paulo, tem em seu cardápio saladas com Panc, que variam de acordo com a época do ano. “Neste mês estamos utilizando as seguintes panc: capuchinha, amaranto, beldroega, serralha, folha de trevo”, informou a Food and Bevarage assistant Gabriely Miranda. Segundo a funcionária, o cardápio é totalmente inspirado na cultura brasileira, caipira e caiçara, valorizando ingredientes de produtores locais. “Trazemos experiências exclusivamente brasileiras, para que nossos hóspedes e clientes possam realmente conhecer comidas intrigantemente saborosas de nosso país”.
Grupo local
Acreditando nesta crescente aceitação do uso das Panc, a Empresa Leal, de Três Cachoeiras, está estimulando um grupo de agricultoras e agricultores da região a se organizar para que as Panc cheguem a uma tradicional rede de supermercados. “É uma coisa nova e a gente vai ter muita coisa pra aprender “, reconhece Marli Justo. A agricultora acredita que é preciso fazer um trabalho de divulgação para que as pessoas consumidoras também tenham conhecimento sobre os nutrientes, benefícios e preparo das Panc.