Histórias que a SAPT guarda – Turismo e pensamento urbano: ‘o futuro é em Torres’

"Na década de 1940, Torres ainda era uma vila litorânea com paisagens de tirar o fôlego, mas pouca infraestrutura. A cidade carecia de saneamento, energia elétrica regular, planejamento urbano e vias de acesso seguras. Foi nesse cenário que a Sociedade dos Amigos da Praia de Torres – SAPT passou a exercer um papel muito além do recreativo"

3 de julho de 2025

Na década de 1940, Torres ainda era uma vila litorânea com paisagens de tirar o fôlego, mas pouca infraestrutura. A cidade carecia de saneamento, energia elétrica regular, planejamento urbano e vias de acesso seguras. Foi nesse cenário que a Sociedade dos Amigos da Praia de Torres – SAPT passou a exercer um papel muito além do recreativo: tornou-se articuladora do futuro da cidade, projetando Torres como destino turístico com vocação permanente.

As imagens desta semana, retiradas do livro Memórias da SAPT, registram um capítulo emblemático dessa construção coletiva: a edificação da segunda sede da SAPT, o Edifício Amigos de Torres. Mais do que um edifício, ele se tornou símbolo de uma visão moderna de cidade. Fruto da Lei nº 337, de 11 de outubro de 1948, o terreno foi doado pelo Governo do Estado com a condição de que ali se erguesse um prédio com hotel, restaurante, salão de festas e apartamentos, respeitando um padrão moderno e ambicioso.

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O projeto, inspirado na fachada de um hotel em Miami – EUA, previa cinco andares construídos em duas fases. A primeira etapa, com 1.500 m², foi orçada em até Cr$ 1.800.000,00, com recursos obtidos por meio de 400 títulos de sócio proprietário e 500 títulos de empréstimo resgatável em 10 anos. A pedra fundamental foi lançada em 1949, e a inauguração ocorreu em 31 de dezembro do mesmo ano, com presença do governador Walter Jobim. Na mesma ocasião, foi inaugurada também a nova usina de energia elétrica da cidade.

O novo edifício não apenas abrigou a sede da SAPT como também sediou o Grande Hotel Torres, um dos primeiros empreendimentos hoteleiros modernos da cidade. Com restaurante, salão de festas e apartamentos, tornou-se um espaço de convivência entre moradores, veranistas e visitantes — e um marco do esforço coletivo de transformar Torres em um balneário moderno e acolhedor.

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As atas da SAPT da época revelam um pensamento urbano avançado: tratavam de calçamento de ruas, instalação de esgoto, iluminação pública, limpeza urbana e uso ordenado da orla.

Outro tema recorrente era a mobilidade. A cidade era isolada por estradas precárias e pela ponte de madeira sobre o rio Mampituba, o que tornava qualquer deslocamento um desafio. Ainda assim, Torres crescia: surgiam chalés, casas de veraneio, e crescia também o número de famílias que, embora presentes só no verão, sentiam-se parte da construção da cidade. Ao lado delas, a população local mantinha o território vivo, trabalhando e cuidando dos espaços com dedicação e pertencimento.

Lideranças como Antônio Vieira Pires, Moyses Camilo de Farias e Antônio José Picoral aparecem frequentemente nos registros como atores-chave das articulações com o poder público. Hoje, são lembrados nos nomes de ruas, como testemunho da sua importância para a cidade.

Aquele período não marcou apenas o início do turismo em Torres. Foi também o nascimento de uma lógica de participação social, em que a cidade deixava de ser apenas destino e passava a ser compreendida como projeto coletivo e bem comum.

Quase noventa anos depois, Torres é referência nacional em turismo: abriga trilhas ecológicas no Parque Estadual José Lutzenberger, é reconhecida como Capital Nacional do Balonismo, com mais de três décadas de festival, e avança em debates sobre geoturismo e turismo sustentável. Mas é fundamental lembrar que esse presente se ancora numa trajetória construída por muitas mãos.

A atuação da SAPT, registrada em atas, projetos e edifícios, mostra que o turismo torrense nasceu da organização comunitária, da visão de futuro e do profundo senso de pertencimento.

E é justamente esse o propósito do projeto Histórias que a SAPT guarda: preservar o passado como forma de planejar o futuro. Em sua essência, museus não precisam ser apenas prédios, podem ser ruas que contam histórias, antigas sedes sociais, documentos resgatados, placas de memória urbana ou até textos de jornal. São espaços simbólicos onde a cidade se reconhece e se narra.

Que o legado de quem ergueu o Edifício Amigos de Torres e sonhou um balneário pujante continue a inspirar. E que o turismo torrense, sempre em movimento, siga sendo expressão viva da memória que caminha junto com o futuro.

 

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Publicado em: Cultura






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