O feriado do dia 12 de outubro passado mostrou – de certa forma – um novo momento no comportamento de turistas perante a pandemia de Covid-19. Em Torres e nas praias da região, o movimento foi bastante acentuado, mostrando que – com a proximidade do verão – as pessoas começam a ter menos preocupação de serem contaminadas ou de contaminarem outros.
As praias estavam cheias de pessoas sentadas em grupo (geralmente pequenos), a maioria sem máscaras, o que sugere que pelo menos em ambientes mais arejados (mesmo que cheios) a população que faz turismo não está acreditando (e muito menos obedecendo) as “ordens” das autoridades. O que também preocupa, pois já foi cientificamente comprovado que o uso de máscaras reduz as chances de se contaminar (ou contaminar os outros) com o coronavírus. No calçadão da Prainha – onde o movimento foi muito intenso, com centenas de pessoas muito próximas umas das outras em vários momentos – percebia-se que o apreço pelas máscaras era muito pequeno
A maioria dos restaurantes da área turística de Torres (Rota Gastronômica), que percorre a beira do rio Mampituba estavam lotados. As regras para convivência em época de pandemia foram respeitadas pelos proprietários dos estabelecimentos de gastronomia, mas as filas eram grandes – o que dá a impressão de menos medo dos turistas e moradores de Torres perante os riscos de contaminação pelo Novo Coronavírus. Em alguns casos o jornal A FOLHA recebeu depoimentos de donos de restaurantes que diziam estar com movimento similar ao recebido nos melhores dias de feriados tradicionais em Torres, como o Réveillon.
Movimento se repete na região do Litoral Norte
Segundo informou para A FOLHA a presidente do Sindicato dos Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares do Litoral Norte do RS (SHRBS LN), Ivone Ferraz, os estabelecimentos de hotelaria cumpriram as normativas de ocupação de no máximo 70% das acomodações dos leitos, mas ficaram lotados na maioria (dentro dos 70% permitidos). Os restaurantes também mantiveram certas regras de limitações de ocupação de espaço de cliente e também se mantiveram lotados no feriado.
Em meio a dias de sol, muitos hotéis e restaurantes não puderam atender as listas de espera de hóspedes e clientes de almoço e janta, o que diminuiu o faturamento potencial do setor. Mas, por outro lado, mostra a força que devem ter os feriados e finais de semana que se aproximam (desde que o tempo também ajude).
Este comportamento dos estabelecimentos de Turismo se repetiu praticamente de forma igual em todo o Litoral Norte do Rio Grande do Sul. Também, conforme relato da presidente do SHRBS do LN, Ivone Ferraz, as regras de protocolos sanitários foram todas mantidas. A FOLHA notou que alguns estabelecimento buscaram até diferenciações acima da exigência das leis sanitárias para fazer sucesso com seus clientes, uma forma de fazer “de um limão, uma limonada”. Ivone também festejou o que chamou de “espírito otimista” da maioria dos clientes perante os riscos de contaminação em viagens. Ela ressaltou que o perfil do turista foi de pessoas que moram próximos aos destinos (no caso local no RS e sul – de Santa Catarina) e que resolveram viajar perto e de automóvel próprio, para não entrarem ainda em aviões ou ônibus.
No Hotel Guarita Park – onde Ivone é operadora – a maioria dos hóspedes se mostrou otimistas e sem muita paranoia perante os riscos de contaminação, o que projeta um horizonte bom para o turismo local, com uma tendência de flexibilização dos medos pessoais e coletivos perante a pandemia.
Conversando diretamente com turistas
No ultimo domingo (11), a equipe do Jornal A FOLHA conversou com algumas pessoas que se encontravam na Praia Grande, em Torres, para saber a opinião delas em relação ao próximo veraneio, em decorrência das limitações que o momento atual está passando por conta da Covid-19.
O movimento visto nas areias da praia era eminentemente de jovens, em pequenos grupos, além de algumas poucas famílias. Na orla não se via aglomerações, ao contrário: o que se notava era que havia um distanciamento entre os grupos.
“Não estou com medo de ficar aqui na praia, ao ar livre”, falou Bruno, 36 anos, auxiliar de escritório na cidade de Canela. “Na minha cidade o movimento está bem maior que aqui em Torres. Viemos passar o dia e pensamos em alugar um apartamento para veranear”, continuou. “Nós ficamos em isolamento, entre nós, e nos cuidamos”, encerrou Bruno, que estava acompanhado da esposa, filho e um casal.
Outra turista que procurava um apartamento para alugar em janeiro era Daiane, 37 anos, administradora financeira de Bento Gonçalves. Acompanhada do marido Paulo Roberto, e do cãozinho, pretendem passar uns dias aqui no veraneio que se aproxima. “Estou tranquila em relação ao momento atual. Meu filho já pegou a Covid-19 e não teve maiores complicações. Acredito que vamos ter que aprender a conviver com este vírus e não podemos deixar de viver”, declarou a turista, que também estava pegando uma praia no domingo.
Já para Cynthia Kincher -missioneira, 50 anos, nascida em Hong Kong e criada nos Estados Unidos – que estava com sua família (marido e dois filhos) hospedada em uma pousada na Beira-Mar, a hospedaria estava muito boa, dentro das normas de segurança. “Sinto-me muito tranquila de estar aqui em Torres, é uma linda cidade e minha vontade é de ficar mais uns dias”, festejou. “Fui muito bem recebida e pretendo voltar”, afirmou Cynthia, que hoje reside em Ivoti.
Conversando com outras pessoas perguntamos se pretendiam viajar para um destino mais longe. E a resposta era que não – a ideia é ficar nas praias gaúchas, pois em outros estados, as praias são mais movimentadas e recebem turistas do Brasil inteiro. Os veranistas que estavam na praia parece preferirem ficar mais perto de suas casas, como já apontavam pesquisa em plena pandemia, em julho.
Parece que no que depender de nossos turistas, o veraneio será bom, pois na realidade as pessoas estão com uma ‘vontade reprimida de viajar’, pelo longo período de quarentena que passaram. Agora, resta se preparar para recebê-los, com toda a segurança que o momento exige.