LIXO NOSSO DE CADA DIA! A gestão de resíduos em Torres

O jornal A FOLHA conversou com o secretário interino do Meio Ambiente em Torres, Júlio Agápio, profissional com expertise exatamente na gestão de resíduos sólidos

12 de fevereiro de 2018

O lixo nosso de cada dia. Aquilo que nos é descartável, que serviu mas não serve mais. Aquelas cascas de banana, caixas de leite, papel higiênico usado, latas de cerveja, embalagens plásticas que coloco em maleáveis sacos plásticos. Estes estão envelopando latas de lixo diversas, discretamente espalhadas pelo apartamento, que com o passar dos dias vão enchendo. As sacolas logo serão retiradas de suas latas, fechadas com um nó. De lá, serão levadas para o lixo coletivo do prédio, instalado na calçada – (felizmente) com divisória para o Lixo reciclável e o lixo orgânico, útil no centro de Torres. No máximo em alguns dias virão os veículos que irão transportar estes resíduos que passaram por nossas mãos para longe de nossa vista, e a partir dai, geralmente, paramos de nos preocupar com o lixo já produzido… para produzir mais.

Das questões socioambientais, o lixo é o que está mais visível no nosso dia a dia. Está na cara da sociedade, é parte da rotina de todos, ricos ou pobres. E os cuidados com esse processo – em prol da cidadania, da limpeza, da economia e do meio ambiente – deve começar na casa de cada um, deve ser levada para os passeio pelas praias e praças, e também na consciência de que fazemos  parte da cadeia produtiva do lixo. Mas, igualmente, o poder público municipal é também responsável, parte mais que essencial na gestão dos resíduos produzidos em Torres.

 

Sobre a destinação do lixo

 

Para se aprofundar sobre as questões relacionadas a gestão do lixo na cidade, o jornal A FOLHA entrou em contato com o secretário interino do Meio Ambiente em Torres, Júlio Agápio – profissional com expertise exatamente na gestão de resíduos sólidos. Inicialmente ele nos explicou sobre os caminhos do lixo recolhido no município, que na essência deveria ser o mais plenamente dividido entre seco (reciclável) e orgânico (não reciclável) – apesar dessa plenitude ainda estar longe de ter sido atingido na maioria dos municípios gaúchos (incluindo Torres

“Temos um cooperativa de recicladores em Torres que realiza a coleta seletiva em pontos de maior geração de lixo (comércio, restaurantes hotéis, associações de moradores, prédio públicos etc). Após ser recolhido, os resíduos sólidos são inicialmente armazenado com três caminhões baú (para não prensar o lixo e perder qualidade)” indicou Júlio, que continua: “Posteriormente, todo material é levado para a usina de triagem de Torres, a RECIVIDA, onde é separado por tipo (papel, plásticos, metais,vidro etc) para depois ser vendido como matéria prima para novos produtos. Todo valor da venda destes materiais fica com a cooperativa, que rateia entre os cooperativados”.

Já a maior parcela do que é recolhido, que teoricamente deveria ser focada no lixo orgânico não reciclável (como restos de comida, frutas, erva-mate, etc.) é recolhido pela empresa tercerizada Urban, e destinada diretamente para um aterro sanitário, em Içara (SC). “Este aterro sanitário é um espaço impermeabilizado, para evitar o contato do lixo com o solo. O local possui coleta de chorume (líquido gerado na decomposição do lixo) para tratamento correto, bem como drenos de gases (também gerados pela decomposição dos resíduos). Enfim, um local adequado para receber lixo urbano de forma que não cause degradação ambiental”, afirma o Secretário do Meio Ambiente de Torres.

 

Os desafios pela sazonalidade e melhor  incorporação da coleta seletiva

 

Júlio Agápio destacou que os desafios relacionados a coleta e destinação do lixo produzido em Torres  tem que ser  encarados tendo em vista as peculiaridades da sazonalidade. “Saímos de 40 mil habitantes residentes para mais de 400 mil habitantes em alta temporada, no boom entre natal e ano novo (bem como no carnaval). Com isto, a cidade que gera 800-900 toneladas de lixo por mês passa a gerar mais de 2 mil toneladas mensais”, ressalta.

De acordo com o secretário, o maior problema para coleta são os pontos de armazenamento temporário, ou seja, os locais onde a população dispõe seu lixo até a hora do caminhão passar. “Muitos pontos não possuem lixeiras, tambores ou recipientes adequados, sendo que os resíduos ficam no chão ou pendurado em grades, pregos etc, muitas vezes sem discernimento do que é lixo seco ou orgânico”. Ele afirma que a prefeitura de Torres está trabalhando uma forma de padronização destes recipientes, até mesmo para garantir um melhor aspecto visual e melhor condição sanitária/ambiental do lixo. “A ideia seriam coletores coletivos por quadra – uma lixeira grande e padronizada, com separação entre orgânico e seco. Inicialmente nas quadras centrais, inclusive nas proximidades das praias e onde tiver maior adensamento urbano”.

Nem toda a cidade é atendida pelo sistema de coleta seletiva, mas este serviço já é prestado em toda a região central de Torres e principais bairros periféricos. Quando indagamos se a população torrense e veranistas da cidade respeitam a necessidade de separação do lixo, tendo entendimento de quando deve-se descartar resíduos orgânicos e recicláveis – de acordo com o cronograma de coleta – Júlio respondeu que a adesão ao cronograma, em geral, ainda é baixa. A pouca participação social na coleta seletiva talvez justifique-se pelo desconhecimento, pelo fato da cadeia produtiva de reciclagem na cidade ser de apenas alguns anos, relativamente recente . Porém, igualmente há dificuldades para que o processo da coleta seletiva seja plenamente satisfatório – apesar dos gradativos avanços.

Conforme ressaltou o secretário interino do Meio Ambiente, o investimento municipal com a coleta seletiva ainda não é suficiente para que seja exercida uma coleta seletiva rigorosa, porta a porta.  “Por enquanto, o sistema de coleta seletiva ocorre principalmente em pontos de maior geração de resíduos recicláveis. Ou seja, a cooperativa realiza a coleta seletiva no comércio em geral, hotéis, restaurantes e pontos voluntários de guarda ou disposição temporária (como associações de moradores, prédios públicos etc)”.

E buscando tornar mais efetivo este sistema, em conjunto com a cooperativa de recicladores,  está em andamento o projeto em andamento de reestruturação da usina municipal de triagem de resíduos (RECIVIDA). “Quando este projeto for finalizado, teremos condições de otimizar e triar mais lixo gerado na cidade. Já temos hoje 3 pavilhões novos construídos, equipamentos necessários foram comprados. Mas a esteira de triagem que será o ‘pulo do gato’ desta  reestruturação, pois tudo que passa da seletiva passará por essa esteira de 15 metros. Até  15 pessoas podem estar trabalhando com esta esteira, selecionando melhor os materiais e otimizando esse processo. A expectativa é que no segundo semestre tenhamos ela”, completa Júlio Agápio, que estima que o investimento necessário para compra do equipamento (que deve ser feita com recursos da própria prefeitura) seja de no máximo R$ 100 mil

 

Informação e inovação

 

Atualmente, somente cerca de 10% dos resíduos recicláveis recolhidos na cidade são reaproveitados – um percentual próximo de 100 toneladas por mês. Os materiais mais triados e separados são papeis e plásticos. “Mas, este valor pode aumentar assim que as estruturas da Recivida estiverem concluídas, podendo chegar a mais de 30%”, destacou Júlio, que pensa que,para aumentar mais ainda este percentual, será necessário iniciar um trabalho forte de sensibilização ambiental sobre  a temática lixo. “As pessoas precisam saber o que acontece com o lixo depois que sai de nossas casas, para onde vai, quanto custa e o que podemos e devemos fazer para melhorar a situação na cidade.

Quando perguntamos sobre a necessidade de realizar campanhas sistemáticas de informação  em Torres, sobre as potencialidades e vantagens da separação do lixo –  bem como divulgação frequente  das datas de coleta dos resíduos secos e orgânicos – Júlio Agápio afirmou tratarem-se medidas importantes para a conscientização da sociedade sobre o tema.  O secretário informa que uma campanha municipal de educação e conscientização acerca da gestão do lixo já está com um projeto pronto, que deve iniciar junto com o ano letivo das escolas.

“Estamos também pensando em por em prática aqui em Torres os PEVs – pontos de entrega voluntária. Assim, criaríamos ‘eco pontos’ de descarte de lixo reciclável em vários locais da cidade – escolas, associações, estabelecimentos comerciais, etc. Dessa forma, fica possível atender um público maior, recolher mais material com um custo relativamente baixo. Pois, implantar coleta porta a porta é bastante caro”, conclui.


Publicado em: Meio Ambiente






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