Mulheres na reciclagem de resíduos sólidos : o trabalho de Iara, catadora e agente ambiental em Torres

Natural de Pelotas, no Sul do estado, Iara (foto) chegou em Torres em 2017. Não lembra o dia do mês em que começou a coletar materiais recicláveis, somente o dia da semana:  uma quarta-feira

5 de março de 2024

No final deste verão, o trabalho de Iara Feijó de Araújo no município de Torres terá contribuído para reduzir o impacto ambiental que seria gerado pela produção e descarte de aproximadamente 6 mil quilos de papelão. De acordo com dados da agência de proteção ambiental dos Estados Unidos (EPA) disponíveis em diversos artigos, reciclar uma tonelada de papelão economiza 26 mil litros de água, 3,3 metros cúbicos de espaço em aterro sanitário, evita a emissão de milhares de quilos de gases de efeito estufa e o corte de 17 árvores*.

Natural de Pelotas, no Sul do estado, Iara chegou em Torres em 2017. Não lembra o dia do mês em que começou a coletar materiais recicláveis, somente o dia da semana:  uma quarta-feira. ”A dificuldade foi aquela né, até saber os lugares direitinho onde colocam as caixas”. Desde então ela e o marido coletam, além do papelão, embalagens PET,  latas de alumínio e sacolas plásticas. Conforme a experiência da autônoma, é um trabalho sem hora para terminar. “Tu começa  tipo 7 horas da manhã, vai até 10, 11, meia noite. Mas é isso aí, sempre lutando pro pão de cada dia”.

Embora nestes seis anos a localização dos materiais tenha ficado mais fácil, o trabalho ainda é precário e visto com preconceito por algumas pessoas, como uma mulher que um dia perguntou à Iara que tipo de lixo ela levava. “Eu disse: eu não levo lixo, eu levo reciclagem, tudo que é reciclável menos lixo”.

Para a empreendedora, a falta de entendimento da população de que é preciso separar os resíduos orgânicos dos secos é uma dificuldade diária. “As pessoas, elas não entendem, elas misturam tudo. A gente passa aquele trabalho pra estar separando. É PET, é latinha, é tudo misturado com o lixo. Essas são as dificuldades que a gente sempre passou. Passa até hoje”.

 

Mulheres na reciclagem

A coleta de materiais recicláveis, em sua forma contínua e planejada, é uma atividade cada vez mais exercida por mulheres. De acordo com o Movimento Nacional dos Catadores e das Catadoras de Materiais Recicláveis (MNCR), de 800 mil pessoas que atuam no setor no Brasil, 70% – aproximadamente 560 mil – são mulheres. A profissão é desde 2002 reconhecida pelos Ministérios do Trabalho e Emprego e a atividade é considerada fundamental à implementação da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS).

 

Preços

O MNCR vem denunciando, por meio de seus canais de comunicação, que após a pandemia de covid-19, está cada vez mais baixo o valor pago pelos materiais. “Baixou muito a renda nos últimos meses de 2023, gera insegurança. Os compradores vêm semanalmente baixando os preços pagos pelos recicláveis o que desestimula por exemplo, o cooperativismo. A situação dos preços , na base da pirâmide, ficou muito pior, baixando a renda e passando muita dificuldade”, afirmam lideranças de diversas regiões do Brasil no podcast “Queda no preço dos recicláveis. Caminhar é resistir e se unir é reciclar”, de setembro de 2023, disponível no Spotify do MNCR. O site da entidade tem mais informações sobre a contribuição da reciclagem para a economia, a sociedade e o meio ambiente.

 

Porquê

Há quase 40 anos a agricultura ecológica é o cerne do trabalho do Centro Ecológico. No entanto, outros temas relacionados à saúde planetária, como a gestão de resíduos orgânicos e sólidos, têm o apoio da entidade, como o projeto de compostagem nas escolas, por exemplo.

A atenção a estes temas é embasada no alerta de instituições de âmbito global que apontam a urgência de limitar a extração e processamento de recursos naturais. Tais atividades, segundo o relatório do Painel de Recursos Naturais das Nações Unidas  “Perspectiva de Recursos Globais 2019” (Global Resources Outlook 2019), representam aproximadamente 50% do total das emissões de gases com efeito de estufa relacionados às alterações climáticas.

 

 

* Comumente pinus e eucaliptos, as árvores usadas como matéria-prima do papel e papelão são muitas vezes provenientes de monoculturas florestais e estão associadas, conforme a organização WWF (World Wide Fund for Nature) à degradação de alguns dos locais e espécies ecologicamente mais importantes do mundo, afetando a sobrevivência e qualidade de vida das pessoas nestes territórios.


Publicado em: Meio Ambiente






Veja Também





Links Patrocinados