Hora de Revisar

22 de março de 2013

Diariamente passam em nossa casa dois senhores moradores das ruas de Torres para o seu café da manhã. Nos últimos dias se faziam acompanhar de um garotinho aparentando uns três anos de idade. No terceiro dia da vinda do garoto questionei sobre quem era e porque estava na rua tão cedo. Um deles disse que era seu filho que morava com a mãe e que estava junto com ele porque não tinha creche nesse mês de março. Perguntei se ele morava na rua também, o pai reafirmou que ele morava com a mãe que estava ali adiante (meio escondida para que eu não a visse). Então porque ela não fica em casa com a criança, questionei. Resposta: porque não tem comida para dar a ele. Ponto. Ponto e pronto. Uma criança é submetida a andar nas ruas, manhã cedo, porque sem creche não tem comida a cada dia que passa. Hora de revisar a forma de férias das creches.

 

Em dezembro passado contratamos uma funcionária nova para a fábrica de sorvetes. Em meados de fevereiro, com a baixa da produção, ela migrou para trabalhar como funcionária da nossa casa, porém trouxe consigo a grande preocupação do que fazer no mês de março com sua garotinha de cinco anos que freqí¼enta creche municipal para que ela possa trabalhar. Na busca de solução decidimos ajudá-la a pagar uma escolinha particular para não ficarmos o mês de março todo sem seus serviços e ela sem o seu salário, fundamental í  sobrevivência da sua famí­lia. Vai sair pesado, mas resolvemos o problema. Porém, tenho certeza de que muitas outras famí­lias estão também atravessando esse mesmo tipo de dificuldade, bem como os hotéis, os restaurantes, o comércio, outras empresas e todas as suas funcionárias com filhos pequenos que frequentam creches públicas. Hora de revisar a forma de férias das creches.

 

Há alguns anos travamos uma grande batalha para conseguir creches no turno inverso ao da escola para crianças a partir de seis anos que ficavam ociosas e sozinhas em casa enquanto as suas mães trabalhavam, especialmente nos veraneios em que o dia todo era vazio de escola, a fim de que a garotada não ficasse em casa ou nas ruas sem acompanhamento de adultos. A cidade mantinha também um projeto de lazer, recreação e alimentação para a meninada a partir dos onze anos, no qual havia entre as tarefas a limpeza das praias e coleta do lixo recolhido mais tarde pelos garis. De repente foi aprovada uma lei federal de que as creches atenderiam obrigatoriamente todas as crianças menores até a pré-escola e, a partir dos seis anos de idade, elas deveriam frequentar a escola que manteria atividades no turno inverso. A primeira parte da lei foi atendida, mas a segunda ainda está em implementação, apenas algumas escolas oferecem alimentação e atividades no turno inverso. Os dois projetos municipais que davam certo em Torres foram abandonados, substituí­dos por uma lei capenga que não contemplou de forma plena a meninada acima de seis anos e os pré-adolescentes. í‰ questionável onde ficam e o que fazem essas crianças enquanto as mães saem de casa para trabalhar, como se alimentam e como ocupam as horas em que ficam sozinhos em casa ou nas ruas dos bairros onde moram. Hora de revisar a falta de projetos complementares para férias e turno inverso ao das aulas.

 

Não é inteligí­vel que projetos que foram bem trabalhados a ní­vel municipal, que davam certo e ofereciam í s mães uma boa base de tranquilidade para trabalharem fora e participarem do sustento de suas famí­lias, projetos que atendiam também í  garotada maior fossem extintos porque criança não pode trabalhar, como se limpar as praias e as ruas durante duas horas recolhendo o lixo, fosse prejudicial a garotos já grandinhos, capazes de correr e de jogar bola com energia, os quais ainda participavam dentro do projeto de atividades lúdicas e recebiam três refeiçíµes ao dia. Os projetos não foram repensados í  luz da nova legislação, apenas foram extintos. Hora de revisar e criar formas de não deixar ociosa essa infância toda durante as férias de verão e no turno inverso ao da escola.

 

Nem toda lei atende todas as necessidades. í‰ nos municí­pios, é nas cidades que a vida verdadeiramente acontece e é nelas que a criatividade pode fazer a verdadeira diferença. Num paí­s continental com o Brasil é preciso criar soluçíµes regionais e locais, que não contrariem leis gerais, mas que as personalizem e ofereçam alternativas de solução conforme as necessidades locais reais. As férias das creches podem ser rotativas: quem deve estar de férias são os funcionários, não a meninada nem as mães. As atividades em turno inverso são fundamentais e precisam ser implementadas em todas as escolas, inclusive as estaduais, o que depende exclusivamente da vontade polí­tica dos governos. Porém projetos de férias criativos é privilégio de quem tem governos habilidosos e competentes na busca de soluçíµes personalizadas para suas cidades. Hora de revisar.

 

 NOTíCIAS DO ATELIíŠ DO ARTISTA

O ATELIíŠ DO ARTISTA, aquele espaço mágico onde se faz e se ensina a fazer o belo, localizado bem ali na confluência das águas que correm permanentemente pela Rua Bento Gonçalves e se acumulam na esquina com a Rua Coronel Pacheco, continua comercializando obras decorativas e telas e quadros já emoldurados, dispondo ainda de algumas das últimas obras do saudoso artista plástico DELVILLE e de muitos artistas locais e regionais

 

Recentemente a artista plástica natural de Bento Gonçalves, ELIANE PASQUETTI, ministrou oficina de pintura em tela com o tema ROSAS. Novas oficinas serão realizadas ao longo do ano, além de muitos outros cursos oferecidos permanentemente pelo Ateliê com as artesãs e artistas plásticas  SANDRA PETERSEN, ROSí‚NGELA BRINO,   CRISTINA DOMINGUES e outros convidados a ministrarem aulas e oficinas.

 

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