Politicamente correto… ( Repetição do editorial de A FOLHA de 20 de junho de 2006)

9 de junho de 2010

       

              Estamos em ano de campanha para presidente, governadores e deputados. A democracia no Brasil ainda é adolescente, está em fase de maturidade e completando apenas 19 anos da primeira eleição para presidente, que sacramentou o direito da sociedade de escolher todos seus dirigentes, após o longo regime de exceção.      

        A maturidade de nossa democracia pode se observar em expressíµes usadas em nosso dia a dia. Por exemplo, a expressão politicamente correto é usada em nosso vocabulário expressando uma atitude de conservadorismo. Politicamente correto, na gí­ria, expressa uma atitude adaptativa; expressa uma postura de não confronto; expressa, enfim, uma situação de continuidade do que já está, de conformismo com o que está em vigor e, de alguma forma, de medo da mudança. Uma gí­ria não sai do nada: ela é criada através de atos corriqueiros e principalmente reais. A expressão politicamente correto, portanto, mostra o que a sociedade acha de polí­tica. Pragmaticamente, a expressão sugere a atitude hipócrita, clientelista, mentirosa e manipuladora que nossa polí­tica através de nossos polí­ticos vem tendo. Mostra que prometer e não cumprir é polí­tico. Mostra, infelizmente, que não se comprometer é polí­tico.  

        A atitude dos homens públicos serve de exemplo em qualquer sociedade. Todos nós somos um pouco de administradores públicos: temos nossas idéias, filosofias, reclamaçíµes, indignaçíµes e sugestíµes. Todos nós, no fundo, admiramos as pessoas que conseguem um cargo eletivo, conseguem o reconhecimento de grupos de pessoas, conseguem um cargo pela prova cabal das urnas. Enfim, os polí­ticos para nós são nossos í­dolos, mesmo que secretos: quem não gosta de ser reconhecido publicamente? Portanto pode-se achar normal as atitudes e posturas do povo. í‰ de se achar normal a tendência das pessoas de se comportarem de uma forma politicamente correta í‰ de se achar normal que a maioria das pessoas se comporte de uma forma previsí­vel, conservadora e continuista. Ser í­dolo do Che Guevara, do Caetano, da Rita Lee, do Gilberto Gil, etc.; ser í­dolo e admirar suas lutas, suas letras de músicas, sua excentricidade e, ao mesmo tempo, recriminar atitudes iguais da sociedade, recriminar suas próprias atitudes, ter preconceito e evitar pessoas com aquelas idéias explicitas é o que as pessoas, na maioria, consideram o politicamente correto. Admirar um sonho, um mundo melhor, mais divertido, mais justo, mais fraterno, mais amoroso e, ao contrário, se mostrar conservador do que está estabelecido e ter medo de exercitar o que admira é o que, enfim e infelizmente, é considerado politicamente correto.  

        Seria muito providencial se, neste momento, as pessoas tivessem um pouco mais de coragem. Principalmente nestes momentos de eleição, seria extremamente útil se as pessoas assumissem o que realmente elas querem. Assumissem mudanças, acreditassem em promessas, escolhessem candidatos… Mas que escolhessem candidatos que se encaixam em seu perfil e torcessem por ele. Seria um crescimento da democracia se as pessoas exigissem compromisso dos candidatos; exigissem compromissos de projetos reais, de mudanças reais, de açíµes pré-estabelecidas. Seria um grande feito democrático se pela primeira vez os eleitores exigissem de seus candidatos posturas pragmáticas para poderem efetivamente cobrar deles adiante, nem que seja não os reelegendo se não forem verdadeiros.  

          Portanto acho que esta é a hora de mudarmos o significado da expressão politicamente correto. Mudarmos para um significado de convicção, de coragem, de serenidade e de compromisso. Isto sim deveria ser o significado de Politicamente Correto. Poderia ser o começo efetivo de um paí­s melhor.


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