“ Vovó, tu tem medo do Lobo Mau? Diante dessa pergunta começo a responder: – Não, meu amor, não tenho medo do Lobo Mau porque ele é apenas um person a g e m… Paro! Essa resposta não é verdadeira. A resposta verdadeira é que tenho medo, muito medo e o Lobo Mau existe, ah, existe sim! Sim, o Lobo Mau como o da história infantil existe. Há muitos lobos maus soltos por aí travestidos de cordeiros bonzinhos e nossos amigos, lobos maus com as mesmas características malignas daquele personagem da história, ardiloso, manhoso, sagaz, fingido, malvado, insano, capaz de enganar não só as menininhas ingênuas, mas a todos os crentes de bom coração, capaz de matar, bater, sacrificar, judiar, enganar, tudo em prol do alcance dos seus próprios e obsessivos objetivos.
Claro que eu tenho medo do Lobo Mau. Tenho medo do Lobo Mau que fica í espreita nas saídas dos bancos para nos assaltar quando saímos com o dinheiro de aposentadorias ou de algum saque feito, muitas vezes um dinheiro que nem é nosso, mas da empresa para a qual trabalhamos. Tenho medo do Lobo Mau que observa a saída dos alunos das escolas e vende drogas em plena luz do dia í s nossas crianças e adolescentes, aumentando o grupo de jovens viciados e perdidos, reforçando e expandindo as redes do mal tecidas pelos traficantes locais, nacionais e internacionais, que levam nosso dinheiro, nossa saúde, nossa sanidade.
Tenho medo do Lobo Mau considerado pela Justiça capaz de conviver em harmonia com os demais cidadãos e depois de solto sob o amparo da Lei, mata seis jovens de forma inexplicável para nós, os normais. Tenho medo do Lobo Mau disfarçado de pai, incapaz de conter sua própria ira e descontrole emocional, joga pela janela uma menininha de cinco anos que devia ser uma pentelhinha inocente porém perturbadora da paz do seu novo relacionamento com a madrasta insegura e malvada. Tenho medo do Lobo Mau psicopata, maníaco e pervertido que convive com a sociedade escondido sob a batina de sacerdote como se escondia o Lobo sob a pele de cordeiro, espreitando do confessionário a credulidade infantil, conquistando sua confiança e realizando sua sexualidade confiscada pela Igreja sob o voto do celibato obrigatório e da castidade castradora. Tenho medo do mesmo tipo de Lobo Mau modernoso e tecnológico escondido nas redes internéticas de relacionamentos nas quais até os adultos se atiram inescrupulosamente e se expíµem para qualquer lobo malvado abocanhar.
Sim, eu tenho medo dos Lobos Maus em quem votamos com tanta fé nas eleiçíµes passadas e se revelam maus administradores, cujos cargos são usados para negociatas escusas e indecorosas usando o dinheiro público para coisas inexplicáveis, nos deixando í mercê das intempéries e dos acasos, não cuidam da nossa segurança como deveriam, não cuidam da coleta e tratamento do lixo de forma adequada, não planejam a ocupação do solo para moradia de forma racional e previdente, ignoram as áreas de risco onde construímos nossas casas e nos deixam e í s nossas famílias jogados aos acontecimentos nefastos que as chuvaradas e temporais provocam, levando vidas, ceifando esperanças, consumindo com todos os bens que com tanto esforço adquirimos para nosso bem estar.
í‰ verdade, o Lobo Mau existe e anda solto por aí, nos olhando com seus enormes olhos e seus pontiagudos dentes naquela bocarra prontinha para nos abocanhar. Cuidado, netinha, o Lobo Mau existe e é muito, muito mais malvado que aquele lobinho da história.