Vegano: e por que não ser um?

11 de novembro de 2014

 

 

1 ° de novembro foi o dia mundial do ‘veganismo’, filosofia que defende um estilo de vida totalmente livre da exploração animal.  Uma escolha que ultrapassa a alimentação e é baseada em respeito e ética.  

 

Por Maiara Raupp

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Criado em 1944, na Inglaterra, por Donald Watson, o movimento vegano vem ganhando cada vez mais espaço na sociedade brasileira. Essa derivação do  vegetarianismo  abole o consumo de qualquer subproduto animal, defende o direito dos animais e busca uma vida mais sustentável. í‰ bem comum que as pessoas limitem seu conceito de veganismo í  alimentação, mas vai muito além disso. Inclui mudanças em diversas áreas. Os adeptos a esse estilo de vida não utilizam nenhum alimento (carne, leite, ovos, mel) ou produto (lã, pele, seda, pérolas, plumas) de origem animal, nem usam cosméticos ou medicamentos que são testados em animais. Não compram animais de estimação, não frequentam circos e nem zoológicos, explicou a nutricionista torrense, Isadora Azambuja.

No Brasil, não há dados sobre o número de veganos. Estima-se que 4% da população brasileira (cerca de 7,6 milhíµes de pessoas), seja de vegetarianos, muitos deles, veganos. Dados do Instituto Ipsos reforçam que 28% dos brasileiros têm procurado comer menos carne. Hoje, o modo de vida vegano vem ganhando cada vez mais adeptos, mas ainda existem muitos mitos em relação a possí­veis carências nutricionais, o que é um equí­voco, afirmou Isadora. Segundo ela, a dieta vegana só comprometerá a saúde se ela não for bem planejada, o que pode possibilitar déficit de vitamina B12, cálcio, ácidos graxos, í´mega-3, vitamina D, ferro, zinco, riboflavina (vitamina B2) e iodo. Porém, planejada adequadamente, com orientação de um nutricionista, é apropriada a todas as fases da vida, podendo até prevenir certas doenças, completou Isadora.

A nutricionista ainda deu dicas dos alimentos que podem ser substituí­dos no lugar da carne sem perder o ní­vel vitamí­nico essencial í  saúde. Podemos substituir os alimentos de origem animal por grãos, frutas, verduras e legumes, hortaliças e oleaginosas de forma a manter a ingestão de vitaminas e minerais adequadas. Para a reposição da proteí­na, por exemplo, indispensável ao crescimento e renovação celular, pode-se incluir a simples combinação do feijão com arroz, tipicamente brasileira. Estes alimentos em conjunto têm aminoácidos que se completam, formando uma proteí­na tão completa quanto í  da carne e dos ovos, assim como a proteí­na de soja, largamente utilizada na dieta de veganos e vegetarianos. Para incluir o ferro presente na carne vermelha e no ovo, temos os vegetais verdes escuros como espinafre, brócolis e couve, orientou Isadora.

 

FOTO: A nutricionista Isadora Azambuja

 

Custos da dieta

 

Por incluir produtos diferenciados e ainda incipientes no mercado, a dieta alimentar dos veganos é um pouco mais cara do que o normal, no entanto é possí­vel uma adaptação fácil e barata. Segundo a nutricionista Isadora, que também é especialista em gestão da segurança de alimentos, aproveitar as frutas, legumes e verduras da época é essencial para a economia. í‰ o que faz a historiadora Adriana Conceição, vegana há 9 anos.   Se você comprar apenas os industrializados veganos eles serão mais caros que os alimentos com derivados animais. Mas, uma alimentação vegana bem preparada, com muitos grãos e legumes pode ser mais barata. Além disso, deve-se pensar a relação custo benefí­cio, já que investir em uma boa alimentação é investir em saúde e não em consultas médicas e farmácia, disse Adriana.

O professor Leonardo Gedeon, também é da mesma opinião. Barato ou caro depende da concepção de cada um. Se pensarmos que o remédio está em nossa alimentação numa proposta de prevenção de doenças, todo investimento em alimentação natural sai em conta. Dependendo dos produtos que se compra torna-se mais oneroso manter a mesa farta e diversificada, porém sempre há alternativas que possibilitam uma alimentação balanceada numa perspectiva ética, ambiental e vegetariana, concluiu ele, que se tornou vegetariano em 2007 motivado pela vivência na Cultura Rastafari, pela ética e defesa dos Direitos Animais e pela preservação do meio ambiente. Primeiramente fui eliminando a alimentação carní­vora por etapas até chegar ao veganismo, onde me mantive por mais de 3 anos. Hoje sou ovolactovegetariano, contou Léo.

A advogada torrense Kareen Martinato já acha barato manter uma dieta vegana. í‰ muito mais barato. A carne e derivados são elitistas. Um quilo de carne custa o dobro, o triplo, o quí­ntuplo ou mais que um quilo de grãos (embora sejam necessários sete quilos de grãos para produzir um quilo de carne). Para produzir um quilo de grãos, é preciso de 1300 litros de água enquanto para produzir um quilo de carne bovina são necessários 15 mil litros (segundo informaçíµes de relatório da ONU). E tudo isso tem um preço. Econí´mico, mas sobretudo ambiental e social. Comparativamente com carní­voros, veganos economizam, em média, perto de 40% ao mês somente em alimentação, finalizou Kareen.

 

Vegano ou vegetariano: qual a diferença?

 

Mesmo que os estilos de vida sejam bem similares, os vegetarianos e os veganos possuem algumas diferenças. De acordo com a nutricionista Isadora Azambuja as particularidades estão basicamente na alimentação. A diferença é estabelecida pelas variaçíµes do vegetarianismo, já que em alguns casos ocorre a ingestão de alimentos de origem animal, desde que não haja o abate do mesmo para sua produção. Os ovolactovegetarianos, por exemplo, não consomem nenhum tipo de carne (nem frango, peixe ou frutos do mar), mas consomem laticí­nios e ovos. Os lactovegetarianos, além de não consumir nenhum tipo de carne, excluem também os ovos da dieta. E os vegetarianos estritos, são os que têm a dieta mais próxima aos veganos. Não consomem nenhum tipo de carne, laticí­nios ou ovos em sua alimentação. No entanto, em sua maioria, consomem alimentos produzidos por insetos, como própolis e mel , ou os próprios insetos. Já os veganos excluem alimentos e produtos com qualquer ingrediente ou insumo de origem animal ou ainda testados em animais. Entre os produtos não utilizados pelos veganos, além das carnes, leite, ovos estão o couro (pele), a gelatina (tendíµes e cartilagens), o mel, corantes feitos í  base de animais e outros insumos derivados de animais, exemplificou Isadora.

 

Desafios do veganismo

 

Mesmo que muitas vezes seja difí­cil encontrar alimentos que se enquadre na dieta vegana, a historiadora Adriana Conceição não se entrega fácil. Natural de Florianópolis, mas residente em São Paulo, Adriana viaja muito a trabalho e muitas vezes têm que percorrer vários lugares para encontrar algo para comer. Uma vez em Córdoba, na Argentina, rodei mais de 2h entre padarias e restaurantes e não conseguia comer nada. Daí­ acabei comendo uma empada com queijo. Outra vez foi no interior do Amazonas, depois de 4 dias comendo banana, farinha de mandioca e arroz branco comi ovos que alunas trouxeram do sí­tio onde moravam. Mas isso não é o meu cotidiano. Só acabo comendo algo com derivados se for a última opção, afirmou Adriana, que decidiu ser vegana após assistir o documentário A carne é fraca.

Para a historiadora, a indústria da carne é algo profundamente destrutivo. Optei por ser vegana pelos animais e por motivos éticos. Depois que decidi e tinha consciência legí­tima de minha escolha, nunca senti vontade de voltar a comer carne, assim como não me importo de sentar junto de pessoas que estão comendo. Sempre penso que é minha escolha de vida e acima de tudo uma escolha polí­tica. Muitas vezes pode ser complicado, mas nada se compara a manter o coração e a consciência tranquila em respeito aos animas, destacou Adriana, acrescentando ainda que sempre que pode aproveita para ser ativista e falar da questão, sem ser chata e sem emitir julgamentos, apenas buscando compartilhar sua escolha. Trabalho muito tempo de modo voluntário para a campanha Segunda Sem Carne. í‰ muito gratificante e uma oportunidade de contribuir para o mundo de PAZ que acredito ser possí­vel. Sou também sócia e voluntária da Sociedade Vegetariana Brasileira, que de modo institucional vem levando a causa para várias instâncias sociais, concluiu ela.

 

Famí­lia vegetariana

 

 

FOTO: Leo Gedeon e Famí­lia

 

 

Nem a esposa, nem a filha de 8 anos do professor Leonardo Gedeon ficam de fora da dieta vegetariana. Por escolha própria de cada um, a famí­lia se mantém unida inclusive nas refeiçíµes, diferente de muitos adeptos. Somos todos vegetarianos, no entanto minha esposa e minha filha comem peixe, eu não, apenas derivados de leite e ovos. Nossa alimentação é muito saudável na minha opinião. Ela nos mantém com a imunidade alta e com disposição para realizar atividades fí­sicas, além de incentivar o consumo de sucos, água, frutas, verduras, fibras, grãos e sementes, raí­zes, leguminosas, com a percepção de união e integração com a ordem natural da vida, ressaltou Léo, que se tornou vegetariano por questíµes religiosas, éticas e ambientais.

Mesmo comendo eventualmente peixe, a filha de Leonardo tem uma consciência ética em relação aos direitos animais surpreendente. Esses dias ela foi pescar com uns familiares e fisgou um peixe. Começou a chorar de remorso, contou ele, confessando ainda que a base da dieta de sua filha é vegetariana, no entanto, em outros cí­rculos sociais ela acaba ingerindo algum tipo de carne esporadicamente. Não consigo ter controle nesse sentido, completou.

Leonardo revelou também que nunca gostou muito de churrasco, mesmo sendo gaúcho. Pra mim o churrasco nunca foi ˜bom™ apesar da forte tendência cultural do sul. A indústria da carne traz danos irreversí­veis para a preservação do meio ambiente. Não sinto vontade de me alimentar com o sofrimento animal. Por isso procuro comer os alimentos de origem vegetal, concluiu ele.  


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