Graças ao trabalho realizado gratuitamente por aves, insetos e até mamíferos, quase 100 plantas alimentícias cultivadas no Brasil produzem frutos e sementes. São estes animais que levam os grãos de pólen das anteras – parte masculina das flores -, para o estigma, o órgão feminino, num processo chamado polinização.
O maior grupo de polinizadores é formado pelas abelhas. No mundo e no Brasil são elas as responsáveis pela polinização de aproximadamente 73% das plantas cultivadas. No entanto, desde o início dos anos 2000, as investigações sobre a mortandade nas colmeias levaram a responsabilidade ao uso de agrotóxicos.
O consultor em Meliponicultura Nadilson Ferreira, que há 15 anos se dedica ao estudo e preservação das abelhas, alerta que, mesmo quando não morrem devido aos herbicidas e fungicidas, elas sofrem os efeitos subletais. “Esses efeitos subletais fazem com que essas abelhas às vezes não morram imediatamente, mas elas ficam enfraquecidas. Elas não conseguem mais realizar seus voos a contento. As trocas de informações não acontecem como deveriam ser. Os voos são curtos, muitas vezes as asas ficam disformes. Ela não podem nem voar. Às vezes, até na fase larval, não conseguem ir adiante e se conseguem, as abelhas nascem fracas e deprimidas”.
Sem ferrão são as mais ameaçadas pelos agrotóxicos
Apesar das manchetes na imprensa tratarem sobre a mortandade das Apis mellifera, e de elas obviamente sofrerem com os venenos, Nadilson vê com mais preocupação a sobrevivência das abelhas nativas, registradas como visitantes de 107 cultivos e como polinizadoras de 52.
No Brasil, são 324 espécies de abelhas nativas, também chamadas de abelhas sem ferrão. Segundo o especialista, dessas 324 espécies, 24 são abelhas sem ferrão sociais. “E aí tem as 300, que são abelhas solitárias. E aí, coitadas delas, não se sabe praticamente nada, mas elas estão no meio ambiente, sofrendo os mesmos processos, com o agravante de serem muito mais sensíveis”.
Nadilson relatou que, embora os testes com agrotóxicos usem as Apis para avaliar o impacto das substâncias sobre as polinizadoras, diversos artigos científicos afirmam que as espécies sem ferrão são muito mais sensíveis. “A ponto de quantidades ínfimas de produtos que não matariam a Apis, matarem as abelhas sem ferrão. Então são assim fatores muito preocupantes e que essas abelhas muito pouco são criadas pelos meliponicultures e estão sendo atingidas diretamente por esses agrotóxicos todos e não está sendo reposta no ambiente, na velocidade que seria necessária e até o ambiente destruído”.
Para Nadilson Ferreira, uma medida importante para proteger as abelhas sem ferrão é buscar diversificar os sistemas agrícolas. Conforme o pesquisador, muitas vezes em seu raio de voo as abelhas não conseguem ultrapassar grandes extensões cultivadas com uma única espécie de planta – as chamadas monoculturas extensivas – para chegar a um dos poucos ambientes naturais que restam. Em consequência disso, elas acabam não saindo destes espaços. “Então ficam aquelas populações presas naquela ilha. Acontece o retro cruzamento e com isso vai começar a acontecer depressão daquelas populações que está fadada ao desaparecimento por causa disso”.
Encontro de criadores de abelhas sem ferrão
Sábado, 24 de setembro, Torres vai sediar o 3º Encontro de Abelhas Sem Ferrão. O doutor em Zootecnia polinização e produção de sementes Nadilson Ferreira será um dos palestrantes. Mais informações sobre o evento pelo fone/ whatsapp (51) 98425-6403