Com equipamentos de proteção individual que lembram praticantes de rapel, duas equipes de jovens agricultores colheram na região de Torres, entre abril e junho, 25 toneladas de frutos de juçara. Em termos percentuais, representa um aumento de 2.400% em relação à safra de uma tonelada, em 2008, quando o consumo da polpa começou a ser incentivado pelo Centro Ecológico.
Influenciaram nesse resultado o crescente interesse das famílias agricultoras e a comercialização para o mercado institucional, feiras, lojas especializadas, cooperativas de consumidores, indústrias e restaurantes da Região Metropolitana de Porto Alegre, Serra e Litoral Norte.
Além disso, um encaminhamento do Encontro sobre a Palmeira Juçara, realizado em maio de 2022 em Três Cachoeiras, também permitiu trabalhar na busca por soluções para a colheita, então apontada como um gargalo da produção do fruto. “Eu vejo que nesse ano a gente deu uma evoluída em relação a essa questão da segurança. Na parte da colheita, o uso dos equipamentos de proteção,” avalia Leonel Gauer, do grupo Ecotorres do José.
Como líder de uma das equipes de colheita, Leonel vê nos itens de segurança, aliados da produtividade. Outro equipamento de auxílio citado pelo agricultor é a corda: subir com uma corda na mão para colher o cacho lá em cima. “Tu desce ele (cacho) pela corda, assim vai mais rapidinho até embaixo, e se caso não tiver ninguém para segurar lá na hora de chegar no chão, coloca ele com delicadeza assim no chão, soltando a devagarzinho”. Combinada com os outros equipamentos, a corda já permitiu a Leonel colher até cinco cachos numa subida.
Outra liderança, Marcelo Vieira, da Agroindústria Morro Azul, chegou à marca de 10 mil quilos nesta safra. Caso tenha colhido dois cachos de sete quilos em cada palmeira de 8 metros de altura, o agricultor terá feito pelo menos 714 subidas. Sem considerar as descidas, Marcelo pode ter percorrido mais de 5.700 metros, o que equivale à altitude mínima do Monte Everest, no Nepal.
A chuva, que tanto atingiu outros cultivos, assim como o vento, também impactou a juçara, porém com menos intensidade, segundo os relatos dos agricultores. Um deles, Natan Fernandes, disse que até colheu mais do que nos anos anteriores, de pouca chuva.
Áreas de colheita e trabalho
A maioria das áreas de colheita são sistemas agroflorestais e consórcios de banana com juçara em aproximadamente uma centena de propriedades nos municípios de Dom Pedro de Alcântara, Morrinhos do Sul, Itati, Três Cachoeiras, Três Forquilhas e Mampituba. Em algumas propriedades a colheita é nos quintais agroflorestais, com outras frutíferas, que as famílias mantêm em torno das casas.
Mesmo sendo cansativo e por vezes difícil, o trabalho nestes locais dá um bom retorno financeiro e é gratificante, na opinião de Leonel: “É muito bacana, o ambiente é bonito, o contato com a natureza, estar conhecendo propriedades novas, tendo contato com os agricultores, falar um pouco mais sobre o sistema agroflorestal e levar essa informação”.
Durante a safra, o agricultor, que tem formação em Segurança do Trabalho, reduz a jornada no Nosso Sítio Espaço Agroecológico, em Torres, para se dedicar à colheita que transforma os frutos de uma espécie-chave para a Mata Atlântica, em renda para as famílias agricultoras. “Então a gente já desenvolveu algumas técnicas que, com a prática, vai ficando até mais fácil, mais seguro e menos trabalhoso para colher os frutos”.
Projeto
Em 2022 e 2023, o estímulo à cadeia produtiva da juçara foi viabilizado pelo Projeto Adaptação Climática, apoiado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) por meio do Fundo de Adaptação e Inovação Climática (AFCIA).