Reunião sobre novo acesso no Parque da Guarita mostra divergências da população quanto ao polêmico projeto

O anúncio pela Prefeitura de Torres de um novo acesso para veículos no Parque Estadual José Lutzemberger, mais conhecido como Parque da Guarita, resultou em muitos questionamentos por parte de cidadãos torrenses e simpatizantes da cidade. Em meio a este panorama, foi definida uma reunião, no auditório da Casa da Terra, para apresentar o projeto na tarde de quarta-feira (25).

FOTO: Apesar de não ter sido anunciada publicamente, bom público compareceu na reunião
30 de julho de 2018

O anúncio pela Prefeitura de Torres de um novo acesso para veículos no Parque Estadual José Lutzemberger, mais conhecido como Parque da Guarita, resultou em muitos questionamentos por parte de cidadãos torrenses e simpatizantes da cidade. Em meio a este panorama, foi definida uma reunião, no auditório da Casa da Terra, para apresentar o projeto na tarde de quarta-feira (25). Apesar de não ter sido publicamente divulgada, a reunião acabou contando com um bom público, que foi ao local ouvir as explicações de técnicos e secretários da prefeitura, bem como se posicionar sobre o novo acesso no parque turístico e fazer sugestões pessoais sobre melhorias no local, principal cartão postal da cidade.  Secretários municipais, vereadores de Torres e representante de entidades também se fizeram presentes.

A reunião foi conduzida pelo Secretário municipal do Turismo, Alexandre Porcattt, apoiado pelo secretário municipal do Meio Ambiente, Julio Agápio e outros  servidores da prefeitura de Torres. Inicialmente, técnicos da prefeitura apontaram que a necessidade de melhorar questões de trânsito, desafogando um pouco a área do Parque da Guarita, é a principal razão para a  construção de um segundo acesso para veículos. “Considerando a alta demanda de veículos no Parque da Guarita e entorno durante a alta temporada, o novo acesso terá saída direta para a rua Alfiero Zanardi, desafogando a Av. Caxias do Sul. Será um acesso de mão única e com passeio para pedestres, com a via sendo feita com blocos de concreto, sem gerar grandes impactos ambientais”, explicou o agrimensor da prefeitura de Torres..

O biólogo e funcionário de carreira da Prefeitura de Torres, Rivaldo Raimundo da Silva, trabalhou no licenciamento da obra, e fez um histórico desse processo, iniciado em agosto do ano passado. “Cinco possibilidades de acesso foram analisadas, sendo que a decidida foi a que teria menos impacto no meio ambiente do Parque da Guarita. O local escolhido já é antropizado (área cujas características originais foram alteradas pelo homem), tendo em conta que lá já passa uma passarela para pedestres (próximo aos banheiros do Parque). No projeto estão previstas as obras, manejo da vegetação e aterramento/nivelamento do terreno. As árvores que puderem, serão transplantadas para outros locais (12 no total), mas 20 árvores terão que ser cortadas”, contextualizou Rivaldo, ressaltando ainda que uma medida compensatória será aplicada para as árvores cortadas (390 mudas serão plantadas na cidade).

Rivaldo ainda fez uma retrospectiva, em imagens, da área do Parque da Guarita dos anos 50 pra cá, mostrando o quanto o caráter natural daquela área foi transformado pelo homem, incluindo ai o projeto paisagístico de José Lutzemberger, implantado em 1974 (época na qual o estacionamento da Guarita foi projetado). “Á área era de dunas na região, e teve intervenção assim mesmo durante a implantação do Parque da Guarita(algo que hoje em dia nem seria aceito). A implementação da Guarita como Parque turístico nos anos 70 garantiu a preservação daquele local, mas trata-se de um Parque manejado/construído pela ação humana em diversos locais”. O biólogo da prefeitura reforçou que – do ponto de vista legal e técnico –  o projeto está correto, por mais que a questão seja polêmica. “Há quem goste e quem não goste do projeto. Eu, particularmente, não gosto. Mas não podemos ver só o lado ambiental, há de se ver o todo: e o novo acesso irá efetuar melhorias no trânsito turístico, bem como no acesso de veículos de emergência (como ambulâncias e bombeiros). O impacto ambiental seria pequeno, e tendo maior fluidez no trânsito diminui-se a poluição dos veículos”, concluiu Rivaldo.

 

Divergências, discussões e dezenas de opiniões manifestadas

 

Desde que foi anunciado pela prefeitura de Torres na semana passada, o projeto já gerava diversas polêmicas nas redes sociais. O Projeto Praia Limpa Torres, por exemplo, manifestou-se contrário ao novo acesso para carros, bem como qualquer tipo de iniciativa que modifique o traçado original, causando dano paisagístico no Parque Estadual José Lutzenberger, em post que repercutiu no Facebook. E os presentes na reunião convocada pela prefeitura para apresentar o projeto tiveram a chance de se manifestar –  e na maioria mostraram seu descontentamento quanto a iniciativa, apresentando seus pontos de vista e sugestões.

O turismólogo Francisco Reis, que trabalha com turismo receptivo em Torres, atua diretamente na Guarita e vê o Parque Estadual necessitando diversas melhorias – como lixeiras, placas de sinalização e incentivo a condutores turísticos mirins – que seriam mais essenciais do que a construção de um novo acesso para veículos motorizados. “Sugiro que comece a se pensar na possibilidade de que o acesso ao Parque da Guarita seja feito sem carros, que se visite apenas à pé ou com transporte alternativo (bicicleta, skate)”, complementou Reis. Alguns dos presentes, como o biólogo Francis Custódio (que trabalhou por 5 anos junto ao Parque Estadual), questionaram se o novo acesso realmente seria útil e necessário para melhorar o trânsito das redondezas da Guarita, se seria tão necessário ao ponto de fazer mudanças no projeto paisagístico do local e impactar no ambiente. “A capacidade de carga segue a mesma no estacionamento (do Parque da Guarita), o número de carros não vai nem aumentar ou diminuir. Agentes de trânsito podiam ajudar a coordenar o trânsito lá (nos períodos de alta temporada)”.

Diversos posicionamentos foram apresentados, e houveram algumas manifestações indignadas. Foram pessoas que indagavam a natureza da reunião e pensavam ser inútil apresentar propostas para um assunto que, consideravam, não estava exatamente aberto a debates. “Já tá tudo definido pela prefeitura. Isso aqui (reunião e sugestão de propostas) não vai adiantar nada” falou alto um cidadão, em momento que algumas pessoas chegaram a deixar o recinto.  Em meio a esta incerteza, os secretários municipais Júlio Agápio (do Meio Ambiente) e Alexandre Porcatt (do Turismo) indicaram que as sugestões colhidas na reunião serão apresentadas para análise do prefeito Carlos Souza, e que o novo acesso, ainda que esteja bem encaminhado, ainda não está 100% definido. “Dentro da prefeitura, o novo acesso foi bem debatido e analisado, sendo que chegamos a conclusão de que o projeto aqui apresentado era o melhor com menor impacto no ambiente do Parque da Guarita”, salientou Agápio.

Projeção do novo acesso do Parque da Guarita, que sairia para a Av. Alfiero Zanardi

Maioria de posições contrárias (mas também algumas favoráveis) ao novo acesso

 

Os pronunciamentos do público então seguiram quanto ao parque da Guarita e o novo acesso de carros. Houveram outros comentários negativos ao projeto, reforçando o ponto de que o mesmo iria impactar o ambiente sem ter mudança significativa no trânsito local. O presidente da AST (Associação dos Surfistas de Torres), Giuliano Homem, indicou que o caminho seria, ao invés de querer pavimentar, buscar plantar mais árvores. Ele sugeriu que houvesse ticket eletrônico para controlar quem visita a Guarita, melhoria na acessibilidade para cadeirantes e o incentivo ao uso de transportes alternativos no local.

Quem também questionou o projeto foi o vereador torrense Rogerinho Jacob, reiterando o questionamento quanto ao que estava sendo debatido na reunião, se isso poderia realmente efetivar mudanças. “Discordo do projeto porque dá preferência para os carros, quando há tanta coisa mais necessária para cuidar no parque. Não tem nada melhor pra fazer com esse recurso?” indagou. Outra vereadora a se manifestar foi Gisa Webber, que manifestou-se a favor do fechamento da Guarita para a entrada de carros – questionando ainda o custo da obra do novo acesso, o valor arrecadado com a entrada de carros na Guarita e o custo da manutenção do mesmo parque estadual. O Secretário de Turismo Alexandre Porcatt não tinha os dados no momento, mas posteriormente informou ao jornal A FOLHA que o custo do projeto em debate é de cerca de R$ 70 mil (com recursos advindos da própria receita do Parque da Guarita).

Apesar da maioria dos presentes na reunião se manifestarem contrária ao novo acesso para carros no Parque da Guarita, alguns cidadãos defenderam o projeto. Um deles foi o empresário Ataualpa Lummertz, que destacou o fato do turismo ser o setor que mais traz renda para Torres, e que projetos como o previsto para a Guarita são favoráveis neste quesito. “Toda a estrutura para o turismo é bem vinda, e não podemos esquecer que a verba dos veículos é utilizada para a manutenção do Parque”, disse Ataualpa, que chegou a ser vaiado. Já Valdinei Silveira disse que o meio termo sempre costuma ser o melhor caminho, alertando contra os perigos do extremismo. “Quero uma cidade preservada para meus filhos e netos, mas vamos usar o bom senso, não vamos tornar o turismo inviável. Se fosse para acabar com o dano ambiental do homem no Parque da Guarita, teríamos que fechar totalmente o parque para a entrada das pessoas”.

Houveram também colocações mais ponderadas, como a do cidadão Gabriel Cardoso, que sugeriu que houvesse estacionamento oblíquo para os veículos no parque estadual, assim organizando melhor o trânsito. Já o tenente Gabriel, da PATRAM, levantou a possibilidade de haver um prazo e calendário de projetos que possam gerar polêmica, para que esses fossem divulgados e efetivamente discutidos com a população. Outras vozes exaltadas acabaram se manifestando, embasando-se principalmente na ideia de que o novo acesso ao Parque  da Guarita trairia danos ambientais. O biólogo e servidor da prefeitura Rivaldo da Silva voltou a fazer uso da palavra para salientar que a administração municipal não quer dano ambiental para Torres, lembrando que são exatamente as belas paisagens o principal diferencial que atraí turistas para a cidade – sendo que isso tem que ser preservado.

Concluindo a reunião, o secretário do Meio Ambiente de Torres, Julio Agápio, agradeceu as muitas sugestões que foram apresentadas, salientando que algumas são interessantes para fins de consideração. Sobre ideias mais radicais, como o fechamento do Parque da Guarita para carros, ele ponderou: “No futuro, podemos pensar se vamos ter um Parque da Guarita sem carros, mas trata-se de uma questão que deve ser equalizada e muito bem debatida (em outra oportunidade), pois há muita gente que deseja ir até a Guarita de carro”. Agápio ressaltou ainda que uma medida compensatória irá garantir um recurso para investimento em lixeiras no parque estadual. O Secretário do Turismo Alexandre Porcatt reforçou que o Turismo é feito por um conjunto de ideias, reiterou que algumas sugestões levantadas serão analisadas para implantação no Parque da Guarita e encerrou a polêmica reunião – em meio ao som de algumas vaias.

 


Publicado em: Turismo






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