Seminário do Comitê Mampituba debateu situação dos recursos hídricos de Torres e região

Evento ocorreu em celebração do Dia Internacional do Meio Ambiente no dia 05 de junho

Representantes de entidades ambientalistas e instituições focadas na gestão das águas marcaram presença
12 de junho de 2017

 

Na tarde do dia 05 de junho, celebrando a passagem do Dia Internacional do Meio Ambiente, o Comitê Local de Gestão da Bacia Hidrográfica do Rio Mampituba (Comitê Mampituba) realizou o Seminário Ambiental em Recursos Hídricos. Foi um rico painel com informações importantes sobre nosso ambiente natural, nossos mananciais hídricos e alguns hábitos essenciais para a cidadania humana. Apoiadores do evento, prefeitura de Torres, Corsan, ONG Onda Verde e Associação dos Surfistas de Torres estavam representados no seminário, bem como outras entidades preocupadas com o meio ambiente e a gestão das águas. Alunos do SENAC Torres e turmas do ensino médio das escolas Marcílio Dias e Jorge Lacerda também marcaram presença.

 

Gestão das águas do Rio Mampituba

 

Abrindo o evento, a presidente do Comitê Mampituba, Leonila Ramos, ressaltou a temática do Dia Internacional do Meio Ambiente em 2017 (“conectando as pessoas com a natureza”). Após, ela lembrou da missão do Comitê Mampituba e deu espaço para a primeira presença da tarde palestrar: o engenheiro agrônomo Nabor Guazelli.

Um dos fundadores da ONG Onda Verde, que há décadas atua em prol do meio ambiente da região de Torres, Nabor sempre foi uma das principais lideranças pela formação do Comitê Mampituba. Ele lembrou que o trabalho  pela formação de um órgão para gerenciar e preservar as águas do rio, que marca a fronteira entre o RS e SC,  vêm de muitos anos, reforçando a persistência (por décadas) da ONG Onda Verde sobre a pauta . “Foi em 2010, a partir da  criação das Unidades de Gestão de Recursos Hídricos de Bacias Hidrográficas (pelo Ministério do Meio Ambiente) que foi possível abrir as portas para a criação do Comitê Mampituba. Audiências públicas foram realizadas e, em 2012, foi criado o Comitê Local da Bacia do Mampituba. O comitê é responsável apenas pelas águas gaúchas do Mampituba, já que 60% das águas do rio estão em área catarinense” contou Nabor.

Após a formação do Comitê Local do Mampituba no lado gaúcho, faltava ordenar a gestão das águas do rio localizadas no lado catarinense. Por isso, intensificaram-se nos últimos anos as tratativas em busca da federalização do Comitê Mampituba. Entretanto, no final de 2016 a Agência Nacional de Águas (ANA) descartou esta possibilidade (por dificuldades burocráticas e pouco tamanho da bacia do Mampituba), sugerindo que a gestão das águas do lado catarinense do rio fosse integrado a Bacia ‘vizinha’, do Rio Araranguá.  E é isso que deve ocorrer em breve, conforme sentenciou no seminário Luís Ismael Leme, vice-presidente do Comitê da Bacia do Rio Araranguá. Leme ressaltou que “existe previsão de que, em julho, seja aprovado o novo regimento com a integração dos Afluentes do Rio Mampituba ao Comitê Araranguá “.

 

O problema do óleo de cozinha

 

Na sequência, foi a vez do projeto de Educação Ambiental “Óleos para o Futuro” – realizado pelo Comitê Mampituba – ser apresentado. O projeto busca conscientizar o quanto o óleo de cozinha é um elemento poluidor quando descartado nas águas – uma vez que poucas gotas de óleo são capazes de deixar insalubre vários litros d’água. E para embasar o assunto palestrou Gerson Güths, que divulgou o trabalho de sua empresa Logsul Logística Reversa, que trabalha, aqui em Torres com a coleta do óleo de cozinha e encaminhamento para reciclagem (onde o produto vira matéria prima para produção de palmilhas de sapatos e materiais plásticos). Gerson reforçou sobre os malefícios do óleo de cozinha – componente que, na água, causa desde a morte de peixes e fitoplânctons (responsáveis principais pela fotossíntese, que nos fornece oxigênio) até a disseminação de doenças e geração do venenoso gás metano. “Ou seja: não descarte o óleo doméstico nos vasos sanitários ou nas pias – até porque o óleo ajuda a entupir a tubulação, gerando problemas hidráulicos.

E é muito fácil ajudar no processo de reciclagem do óleo de cozinha: basta guardá-lo numa garrafa PET e entregar nos locais adequados de coleta. Em Torres, os pontos de coleta são na escola Marcílio Dias, na Unidade da Corsan, nos postos de combustível da Rede SIM, no Supermercado Dia, Universidade Ulbra,  Coelho Gás, Oligás e com o pessoal da Coleta Seletiva. Conforme o secretário executivo do Comitê Mampituba, Christian Linck da Luz, a entidade vêm iniciando uma divulgação junto aos condomínios/ prédios de Torres, para que estes se mobilizem para a prática de recolhimento adequado do óleo de cozinha.

 

FOTO: Estudantes também prestigiaram seminário

 

Panorama geológico torrense e saneamento

 

Dando continuidade, representantes da prefeitura de Torres tiveram espaço para falar no seminário organizado pelo Comitê Mampituba. A geóloga Maria Elizabeth da Rocha destacou aspectos geológicos da nossa região, ressaltando as mudanças que Torres passou – em decorrência do cenário de urbanização – desde os anos 30 até hoje. Ela  lembrou que boa parte da cidade era formada por dunas e (principalmente) banhado. “Vivemos em área baixa, no nível do mar e originalmente com excesso de banhados, por isso temos tantos alagamentos. Com a urbanização aterramos boa parte de Torres em cima de ‘terra podre’, o que diminui a estabilidade das construções. É difícil  até fazer fossas sépticas adequadas em vários pontos da cidade, pois o solo é muito próximo do lençol freático”, disse Maria Elizabeth. Em função da situação geral do solo torrense,a  geóloga sublinhou que a melhorias da drenagem pluvial (água da chuva) devem ser uma meta do município. O arquiteto e urbanista da prefeitura de Torres, Marcelo Koch, lembrou das dificuldades históricas do esgotamento sanitário na região, os desafios para o descarte de efluentes em contraste com a necessidade de preservar o meio ambiente.

E o assunto saneamento seguiu em pauta com a chefe da Unidade da Corsan de Torres, Juliana Mesquita Inácio.  Representando a estatal responsável pela água e esgoto no município, Juliana destacou que toda a área urbana de Torres é contemplada com água tratada, sendo ainda que 55% da cidade tem esgoto coletado e tratado – maior percentual dentre os municípios do litoral norte. Também falando em nome da Corsan, o engenheiro da regional Litoral Norte, Rodrigo Lupin, lembrou os altos custos envolvidos em obras de saneamento, destacando que em 10 anos a estatal investiu cerca de R$ 500 milhões no Litoral Norte gaúcho. Para Torres, Lupin disse que os próximos investimentos deverão chegar já no próximo semestres (na casa dos R$ 2,4 milhões) para finalização de algumas redes remanescentes.

Na sequência do Seminário Ambiental em Recursos Hídricos, quem palestrou foi Miriam Mackedanz, analista da Corsan. Aproveitando a passagem do Dia Mundial do Meio Ambiente – celebrado no mesmo dia 05 de junho em que o evento ocorreu – Miriam salientou que todos tem que fazer sua parte, assumir responsabilidades para vivermos em harmonia com o ambiente natural. A analista disse que boa parte da água doce disponível no mundo está poluída, citando que há 20% da população mundial sem acesso a água limpa e 1400 crianças morrendo (diariamente) por doenças decorrentes da falta de água potável. “Apenas 27 países do mundo entregam água potável e fazem coleta e tratamento de esgoto para 100% da população. No Brasil, são 85,4% de domicílios com água e 63% dos brasileiros com rede coletora de esgoto – apesar de muitos domicílios não estarem efetivamente ligados a esta rede (fazendo, estes, despejo de esgoto irregular)”, falou Miriam. Apontando alguns gráficos, ela ainda destacou que Torres tem nível europeu de tratamento de esgoto, mas os municípios conectados com a Bacia Mampituba (como centenas de outras pequenas cidades do Brasil) não possuem rede de tratamento de esgoto adequada.

Concluindo o evento, foi dado espaço para o público tirar suas dúvidas com os palestrantes. Após, a presidente do Comitê Mampituba, Leonila Ramos, agradeceu a presença de todos e finalizou o seminário – que com debates importantes e ações viáveis desenhou um belo panorama sobre a realidade dos recursos hídricos .

 


Publicado em: Meio Ambiente






Veja Também





Links Patrocinados