Afinal, em que estágio civilizatório estamos?

"Ainda comum, mesmo nos discursos políticos, ouvir-se qualificativos pouco edificantes para certos grupos humanos. É o que faziam os gregos que chamavam “bárbaros” todos aqueles que não falavam grego e, certamente, não comungavam dos nobres ideias helênicos. Lamentável. Hoje se sabe que, mesmo aqueles povos ditos “bárbaros”, tinham alta complexidade civilizatória. O mesmo se pode dizer dos povos originários do continente americano, dos povos africanos e do Oriente Médio".

18 de outubro de 2024

 Até há bem pouco tempo,  havia um consenso acadêmico e até mesmo público de que a humanidade estava avançando no rumo da civilização e que para trás ficavam sociedades mais ou menos “atrasadas” neste processo. A Antropologia Moderna sepultou essa idealização “civilizatória”. Podemos ter níveis tecnológicos e, talvez, institucionais, com a emergência do Estado e da Corporações Privadas, com ou sem fins lucrativos, no curso da História Humana, mas isso não nos autoriza a dizer que são mais “civilizadas”.

Não obstante, é ainda comum, mesmo nos discursos políticos, ouvir-se qualificativos pouco edificantes para certos grupos humanos. É o que faziam os gregos que chamavam “bárbaros” todos aqueles que não falavam grego e, certamente, não comungavam dos nobres ideias helênicos. Lamentável. Hoje se sabe que, mesmo aqueles povos ditos “bárbaros”, tinham alta complexidade civilizatória. O mesmo se pode dizer dos povos originários do continente americano, dos povos africanos e do Oriente Médio. Não existem, a propósito, “eleitos”. Isso é pura narrativa ancestral, sempre de fundo religioso,  para justificar procedimentos discriminatórios. Mas pode-se, talvez, falar em crises de algumas culturas.

Um livro, A CONDIÇÃO DE HOMEM, de Lewis Mumford, um dos grandes sábios do século XX (publicado pela Ed.Globo em 1951) é uma verdadeira enciclopédia para se compreender as visões  de mundo (ideologias)- – e suas respectivas crises – , desde os clássicos ocidentais até os modernos. Nessa trajetória, o Ocidente imbricou-se, também, com a construção de um modelo de economia de mercado, que acaba misturando reflexões sobre o que seria uma crise estrutural da cultura ocidental e os desafios econômicos do bloco sob hegemonia dos Estados Unidos. Neste sentido, economicista, porque ele o foi, apesar de crítico, um produto do Iluminismo, foi Karl Marx quem primeiro diagnosticou o fim do capitalismo em sua magistral obra “O Capital”. O capitalismo, disse ele, apesar do enorme progresso material, beneficia somente uns poucos,  capitalistas, os donos dos meios de produção (as fábricas, os bancos, as minas, as terras e investimentos financeiros), guiados pelo lucro. A massa da população, assalariada, ao contrário, vê-se reduzidos à miséria. Isso geraria a autodestruição do sistema.

Num sentido mais geral da cultura, outro respeitado filósofo, aliás, O. Spengler (1880-1936), escreveu há já algum tempo “A DECADÊNCIA DO OCIDENTE”. A obra A Decadência do Ocidente, de Oswald Spengler, trata de visionar o destino de uma cultura, por sinal da única no nosso planeta a ter alcançado a sua plenitude, a saber a cultura da Europa ocidental e das Américas. “O tema estrito é, portanto, uma análise da decadência da cultura ocidental, hoje espalhada pelo globo inteiro.”.

Outras visões, igualmente estruturais e negativas, têm se seguido, como a do Economista Adolf Kozlick, destacando o CAPITALISMO DO DESPERDÍCIO: O capitalismo é um sistema econômico que empurra as pessoas, movidas pela propaganda e pelo crédito, ao hiperconsumismo, adquirindo produtos e serviços além do que lhe é essencial à sobrevivência. O resultado mais visível disso nos Estados Unidos é a obesidade, para não falar das montanhas de lixo acumuladas em depósitos, sobretudo pela diminuição planejada do tempo de uso dos produtos.

Mais recentemente, outras críticas apontam para a SOCIEDADE DO CANSAÇO.  “A sociedade do cansaço” é o nome de ensaio do filósofo sul-coreano Byung-Chul Han sobre uma enfermidade que está acometendo a sociedade como resposta do corpo para o excesso de positividade e cobrança que a sociedade impõe. Concorrência e seletividade.

Finalmente, a SOCIEDADE DE RISCO, título de um livro  de Ulrich Beck,  1986  , demonstrando que vivemos sob intenso risco em várias esferas da vida: Transformação das ameaças naturais em ameaças sociais, econômicas e políticas; Produção de novas formas de perigo pela própria sociedade moderna, Política que transborda do Estado para outras esferas, etc…

Todas estas reflexões, enfim, apontam para um certo esgotamento do mundo em que vivemos, acrescidas pelo impacto das mudanças climáticas e da vida em megacidades favelizadas. Porto Alegre e São Paulo, hoje, são exemplos disso. Salve-se quem puder…Ou como diz a Mafalda: – “Parem que eu quero descer”




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