Você já deve ter ouvido falar no Dindinho, ou não?
Aquele transporte que parece um ônibus misturado com um trem e que só aparece no início do verão. Já está lembrando, não é? Aquele que você já deve ter utilizado nas praias do litoral gaúcho para ir até a praia ou passear pelo balneário. Lembrou, não é?
Mas você sabe onde surgiu este tipo de transporte aqui no litoral?
Em seu livro A saga das praias gaúchas, Leda Saraiva Soares, relata que Tramandaí utilizava a primeira versão desse transporte na década de 20, mais precisamente na temporada 1927/28. Tramandaí tinha uma peculiaridade que a distingue das demais, ela nasceu às margens do Rio e não à beira Mar. Essa distância chegava a um quilômetro o que fazia do deslocamento, do centro até a praia, muito demorado. Primeiramente para fazer este deslocamento eram utilizadas carretas, depois carroças e cavalos, só em 1927 é que foi implantado o serviço de bondes.
A empresa Carris de Tramandaí é que fazia este serviço utilizando um carro Ford Bigode, com rodas adaptadas aos trilhos, que puxava os bondes que serviam de transporte aos veranistas até a praia. Os hotéis eram os responsáveis pela divulgação e ofereciam como serviço aos seus hóspedes. Os trilhos do bonde partiam da Avenida Capitão Antônio Mariante (hoje Emancipação) e passava em frente dos principais hotéis da cidade Hotel Recreio Gaúcho, Hotel Beira-Mar, Hotel Corrêa, Hotel Sperb, Hotel Strasburger, Hotel Hofmeister, Hotel Saúde e Pensão Amaral. Inicialmente, este tipo de transporte foi chamado de bonde, mais tarde passaram a chamar de trenzinho. A partir de 1934, o serviço foi integrado aos hotéis e o preço da passagem de ida e volta à praia já estava incluído na diária. Foi assim durante anos até serem substituídos por ônibus ou mesmo pelos carros dos próprios turistas e veranistas. Somente em 1960 é que surgiu a empresa de Transportes Coletivo Dindinho e apresentou um novo transporte para reviver os nostálgicos bondinhos do passado. A empresa iniciou este serviço com quatro veículos Jeep Land Rover que tracionavam dois vagões cada um. Cada vagão tinha capacidade para 32 pessoas.
A empresa pertencia ao senhor Nery Farias e funcionou assim durante alguns anos e até estendeu este serviço aos municípios próximos, como Capão da Canoa. Em 1976 foi vendida e o novo proprietário continuou prestando este serviço até hoje.
Quanto ao nome “Dindinho”, ele surgiu quando o Sr. Nery estava preparando sua frota para um desfile e faltava escolher o nome do seu produto criativo. Seu sobrinho, muito curioso e que o chamava de Dindinho (diminutivo de Dindo, padrinho), não parava de perguntar sobre tudo que o tio fazia. Dindinho o que é isto? Dindinho o que é aquilo? No meio de tanta pergunta chega um amigo de Nery e ele presenciando a curiosidade do menino sugere que o nome da frota fosse “Dindinho”, porque soava de uma forma carinhosa. Nery pensou e lembrou de uma pessoa querida e que estimava muito e que era Dindinho de muita gente, inclusive de sua esposa: João Clemente. Este era filho de Tramandaí, mestre da banda, subprefeito, líder político e pessoa estimada por muitos. Então, por sugestão do amigo e em homenagem a esta figura, sua frota ganhou o nome de Dindinho.
E como se vê, todas as outras frotas que surgiram nas praias do litoral gaúcho também herdaram este nome: Dindinho!
Fonte: Soares, Leda Saraiva. A saga das praias gaúchas: de Quintão a Torres. Martins Livreiro, 2000.