Quando vamos ficando mais velhos, por algum bom motivo, ficamos mais esquecidos. Falo em bom motivo, porque existem coisas que preferimos esquecer. Claro que o nosso cérebro é muito complexo e nossas memórias estão ali guardadas em algumas “gavetas” que abrem e fecham não necessariamente quando queremos. Então, as lembranças que queremos buscar nem sempre estão disponíveis. Isso vale para o celular perdido ou a chave do carro até coisas mais importantes e com mais significado para nós.
Na verdade, com o tempo, vamos nos acostumando com esses esquecimentos mais simples com aquela desculpa da idade. Às vezes é cômodo, outras incomoda. Os outros esquecimentos acabam sendo reavivados por alguém ou por alguma situação, sejam eles bons ou ruins. E a vida continua.
Pois bem, minha memória não é mais a mesma, mas, como disse, lembrei de algumas coisas que já tinha esquecido em alguma gaveta, das tantas que estão fechadas por algum tempo, e resolvi vasculhar o que tinha escrito a respeito desse assunto. Então, vou mesclar algumas colunas antigas ao longo do texto para poder lembrar e ilustrar o que estiver falando.
Pouco tempo atrás, o final do verão era um acontecimento festivo por um lado e meio depressivo por outro. Explico. Festivo porque a maioria dos torrenses trabalhava muito durante a temporada e o final representava o descanso da correria e a colheita do fruto deste trabalho. Depressivo porque a cidade ficava vazia, até os torrenses resolviam “dar uma fugidinha” para as praias catarinenses.
“No mês de março, a elite e a não elite de Torres se transfere para Bombinhas. Quer encontrar um torrense? Vá para Bombinhas. Não sei se é verdade, pois nunca fui nesta época, mas dizem que sim. Verdade ou mentira? Bem, isto já virou folclore aqui em Torres. Passeando pela cidade no domingo passado à noite, era raro encontrar um restaurante aberto. Em março, a maioria dos comerciantes aproveita para tirar suas férias e deixa de oferecer seus produtos e serviços para aqueles turistas e veranistas deste mês.” (Março/2014).
Hoje isso mudou um pouco (ou muito). O “partiu Bombinhas” mudou também para “partiu Nordeste/Exterior”, e o “Cidade Vazia” não existe mais, pelo menos para nós torrenses, porque a vida continua exatamente igual, apenas com menos tumulto. Os lucros do verão continuam trazendo sustento e conforto para todos com o “bônus” de durar mais tempo.
“Quem é daqui há mais tempo saberá do que estou falando. Tempos atrás (não muito tempo assim), ao final do veraneio, a cidade ficava vazia. Tudo desaparecia: os turistas, os veranistas, os vendedores, os bares e restaurantes de temporada, alguns hotéis e até alguns torrenses. Agora Torres vai ser só dos torrenses. Agora vai dar para andar nas ruas e ir ao mercado sem filas e atropelos.” (Março/2013)
Enfim, se não me esqueci de como era, vou tentar não esquecer como é. As dificuldades do antigo Balneário, da antiga praia da elite, foram, aos poucos, sendo modificadas pelas dificuldades e vantagens de uma pequena cidade já bem equipada para se tornar independente e próspera. Ainda dependemos do veraneio, dos turistas e veranistas, mas bem menos do que a minha memória alcança.
“É, ‘as águas de março’ não fecham mais o verão! O “verão”, a temporada para nós outros, fica aberta até perto da Páscoa. Claro que sem a força e a densidade de janeiro e fevereiro, mas não deixa de dar uma boa espichada na temporada, adentrando o outono. E, aos poucos, também, a cidade volta à normalidade de baixa temporada. Já bem diferente de outrora, com “vida própria”, ela funciona além do veraneio e passa pelas estações recebendo turistas e “veranistas” o tempo todo. Não na quantidade que gostaria, mas bem acima dos números de antigamente.” Março/2024