FANTASMAS DO PASSADO DE TORRES (PARTE 4): Ninfa do Rio Três Forquilhas

"Seguindo a mesma linha das três colunas anteriores, desta vez conto duas outras histórias. A primeira, trata-se de uma lenda que foi narrada dentro do romance “Além da quarta lagoa”, de autoria do escritor Francisco Raupp. A segunda, é outra história de fantasmas e tesouros. As duas histórias têm em comum o fato de acontecerem em dois antigos distritos do município de Torres, Três Forquilhas e Dom Pedro de Alcântara" (Por Roni Dalpiaz).

Rio Três Forquilhas
1 de junho de 2020

Seguindo a mesma linha das três colunas anteriores, desta vez conto duas outras histórias. A primeira, trata-se de uma lenda que foi narrada dentro do romance “Além da quarta lagoa”, de autoria do escritor Francisco Raupp. A segunda, é outra história de fantasmas e tesouros. As duas histórias têm em comum o fato de acontecerem em dois antigos distritos do município de Torres, Três Forquilhas e Dom Pedro de Alcântara. E, as duas, tratam de aspectos relacionados com a natureza e sua interação com o homem.

Francisco Raupp, filho de torrenses e descendente de alemães, narra no romance “Além da quarta lagoa” a epopeia de Karl Rauther em busca da sua Karlsburg, uma utópica cidade encravada na promissora região de São Domingos das Torres. O livro, como já disse, é um romance e não vou contá-lo porque certamente despertará a curiosidade em leitores interessados em aventura recheada de aspectos históricos da nossa região. Vou, então, contar só a parte que destaca o fantástico, o imaginário, os seres elementares da natureza.

Na busca pela implantação da cidade de seus sonhos, Karl se vê as margens do rio Três Forquilhas e observando a dificuldade para transpor suas águas, se depara com um obstáculo ainda maior.

“A paisagem as margens do rio Três Forquilhas é encantadora, principalmente pelas várias “catedrais da selva” que lhe bordam as barrancas. Karl, depois de examinar bem o rio e estudar um modo de atravessá-lo, recolhe-se para debaixo de uma das figueiras, onde deposita os arreios. Senta na tromba da raiz, de costas para o rio, pensando como vencê-lo. O Três Forquilhas o intimida. Suas energias físicas e mentais estranhamente, vão lhe fugindo, deixando o corpo. O seu cão, Metternich, começa a ficar inquieto, irritado, indo e voltando da barranca do rio. Subitamente, uma revoada de pássaros e de aves rompem a monotonia do paradisíaco ambiente. No meio do rio, as águas começam a borbulhar como se estivessem fervendo, e a energia geradora da ebulição, surpreendentemente, desenha-se na flor d’água, tomando a forma de um corpo humano.

Karl, paralisado de espanto, tenso, os olhos dilatados, observa as evoluções do estranho fenômeno. O corpo lá no rio não anda em linha reta, mas em círculos, como uma piorra, e avança devagarinho em direção à costa. Como se uma força centrípeta o detivesse, de vez em quando para e fica rodopiando vertiginosamente, abrindo, por sucção, um fosso na água. A Ninfa surge no meio do rio e se dirige até Karl.

A Potâmide (Ninfa dos Rios) quer saber o que Karl faz neste território que pertence somente a ela. Até hoje nenhum ser humano teria chegado neste lugar. Ela quer saber quais os planos de Karl e de acordo com sua resposta ela irá autorizar ou não sua passagem pelo rio. Mas isso seria decidido durante a noite e no dia seguinte ele teria sua resposta.

Karl, dormiu meio que anestesiado. No dia seguinte acordou já passado das 10 horas da manhã. Desespera-se. Encilha a mula rapidamente. Ao botar o pé no estribo exclama: É impossível! Incrível! Não pode ser! Estamos na outra margem! Meu Deus, como isso aconteceu? Karl estava do outro lado da margem, sua autorização fora confirmada.

Com sua alma carregada de fantasmas e o coração sofrendo, Karl deixa as margens do rio Três Forquilhas, galopando até chegar ao fim da quarta lagoa.”

Há quem não ignore a existência de seres que zelam por nossos rios, nossas florestas, nossa natureza. De acordo com os gregos e romanos da antiguidade, as Ninfas eram as divindades benéficas que representavam as forças elementares da natureza. Frequentemente descritas com vestidos leves e quase transparentes, e tendo seus cabelos compridos soltos ou entrelaçados, as Ninfas viviam tanto quanto uma árvore, sem jamais envelhecer, e moravam em fontes, lagos, rios e riachos, mares, bosques, florestas, prados e montanhas, onde se mantinham livres e independentes, auxiliando os deuses no desempenho de funções secundárias.

Assim como no Rio Três Forquilhas, os seres elementares podem estar em outros tantos lugares próximos a nós, como na “Cova Funda”, em Dom Pedro de Alcântara. Mário Krás Borges, contou no livro Almanaque das Torres, essa famosa história de fantasmas no mato da Cova Funda, que era uma mata virgem e hoje não passa de um trecho arborizado da estrada de acesso ao município de Dom Pedro de Alcântara.

“Os moradores próximos dali eram as famílias dos Buenos e Hertzogs, cujos descendentes ainda se encontram por ali, exercendo o comércio e trabalhos agrícolas. Lá pela década de 1920, o tráfego era somente pela estrada antiga, cujo sulco foi cavado pela constante passagem das rodas ferradas dos carros de boi, era bastante fundo (daí o nome do local) tendo por cima frondosas árvores que, à noite, formavam frondosa escuridão. Então, alguém que se atrevesse a passar por lá, embora com toda a precaução, estava no dia seguinte na casa de comércio do seu “Chico Hertzog, a mais próxima do local, contando que “viu” barulhos na mata, luzes que giravam em torno do tronco das árvores, vultos que pulavam nos barrancos altos da estrada, de um lado par o outro, com muita agilidade. Também na garupa dos cavalos vultos semelhantes a seres humanos, costumavam se agarrar acompanhando os viajantes até a saída do mato. Assim, a credulidade era total e as notícias corriam céleres por todo o município e região, amedrontando muita gente. Muitos alimentavam as suposições de fabulosos tesouros enterrados por jesuítas… mas ninguém desejava descobrir tais tesouros…

Os construtores da nova estrada preservaram a bela Figueira à saída do mato, mas as suas raízes estão retalhadas pelas pás e picaretas dos caçadores dos supostos tesouros ali enterrados, isto depois que o local em parte foi desmatado.”

 

Fontes: Francisco Raupp, Além da quarta lagoa. Mário Krás Borges, Almanaque das Torres-Gazeta.

Foto: https://www.ferias.tur.br/fotogr/117405/riotresforquilhaspormarssis/itati/

 




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