FANTASMAS DO PASSADO DE TORRES (Parte 7): Ossadas encontradas no centro da cidade

"Essa já foi contada pelos irmão Barcelos da Silva e até por mim. Mas como ela é muito boa, sou quase que obrigado a recontá-la. É o caso das ossadas humanas encontradas na construção do antigo centro comercial em frente ao Farol Hotel" (Por Roni Dalpiaz)

25 de junho de 2020

Essa já foi contada pelos irmão Barcelos da Silva e até por mim. Mas como ela é muito boa, sou quase que obrigado a recontá-la. É o caso das ossadas humanas encontradas na construção do antigo centro comercial em frente ao Farol Hotel.

Pois é, mesmo parecendo pacata a rotina de Torres nunca foi necessariamente tranquila. E mais uma vez esta aparente calmaria foi quebrada com o achado de duas ossadas humanas durante a escavação de um terreno no centro histórico da cidade próximo ao Farol Hotel.

Não! Não foi na escavação do novo prédio em construção em frente ao hotel, mas a escavação para a construção do novo centro comercial naquele local há 47 anos! O local onde foram achados os ossos era o pátio da casa dos herdeiros do desembargador Vieira Pires, que residiu lá por mais de 25 anos.

Na época, de acordo com o Bento Barcelos, o delegado de polícia Ruben de Abreu, chamou pela rádio local os moradores mais antigos da cidade para ajudá-lo a desvendar o mistério: De quem seriam estes ossos?

Primeira hipótese: Prisioneiros e desertores das forças legalistas da revolução de 1893, degolados e enterrados neste que seria um dos cemitérios da cidade.

Segunda e terceira hipóteses: As duas levantadas pelo delegado da época: um crime passional, em que o marido mata o casal de amantes e os enterra nos fundos de casa ou duas vítimas de uma peste como a varíola.

Quarta hipótese: As ossadas pertenceriam a Manoel Rodrigues e Cândida Maria Purcina (Filha do Alferes Manoel Ferreira Porto), pois no lugar havia uma grande cruz, antes da construção da casa do desembargador.

O jornal Correio do Povo noticiou o acontecido e publicou a entrevista com várias pessoas da comunidade, que deram credibilidade a quarta hipótese, e entre elas estavam duas figuras ilustres o exator aposentado Idílio Ferreira Porto e o ex-prefeito e advogado Moises Camilo de Farias.

Farias, deu o seguinte depoimento:

“Era uma cruz de madeira, com um metro e meio mais ou menos. Estava encravado num pedestal de escadas, feito de estuque (composição de barro em armação de madeira) coberto com cal. Nós crianças, brincávamos em redor dela e os adultos promoviam festas religiosas na Santa Cruz”.

Porto, acrescentou:

“A cruz foi transferida para o lado norte da Igreja de São Domingos das Torres talvez há mais de 35 ou 40 anos. Mas, nunca ouvi falar que houvesse alguém sepultado sob a cruz. E ali também nunca foi cemitério, disso tenho absoluta certeza”.

Versão aceita

“Seriam os cadáveres dos doadores de uma sesmaria de terra para a igreja. Na colônia de pescadores da margem esquerda do rio Mampituba, do lado catarinense, moram os bisnetos de Manoel Rodrigues. Eles supõem que os ossos encontrados sejam de seus bisavôs, Manoel Rodrigues, o Neco, e Cândida Maria Purcina. Manoel Rodrigues, bisneto de Manoel Neco Rodrigues, não afirma que os ossos encontrados nas obras do Centro Comercial de Torres sejam de seus bisavôs. Mas garante que, se for um homem e uma mulher, podem ter certeza que são eles. Quando estes doaram o terreno para o santo, pediram para serem enterrados ali. Não lembramos bem o local, porque tudo era campo aberto, mas ficava naquele morro onde está a cidade”.

De acordo com João Barcelos, na Torre Norte, onde se iniciou a cidade de Torres, existiu no mínimo três cemitérios, e esse lugar coincide como o primeiro deles.

“O primeiro localizava-se próximo ao prédio da antiga sede da SAPT em frente ao Farol Hotel, que possivelmente seria o local onde foram encontradas as ossadas do casal Cândida e Manoel Rodrigues da Silva, genro de Manoel Ferreira Porto. O segundo, conforme Ruschel, foi criado entre 1861 e1862 (conhecido por cemitério dos degolados), e permaneceu até 1898 em razão da invasão das areias. Existem versões de que este cemitério se localizava no pé do morro do Farol, na praia da Cal. O terceiro, ao lado do Farol, no alto da torre, existiu desde 1894 e foi desativado na primeira década de 1950 (outras fontes dizem ter durado até 1960). Dizem que em suas portas ocorreram no mínimo dois fuzilamentos! ”

As ossadas foram enviadas ao IML, porém não conhecemos o resultado das análises e nem o destino dado aos ossos. Apenas se sabe, de acordo com a memória dos velhos moradores de Torres e dos descendentes de Neco Rodrigues, que os ossos seriam da metade do século passado e nada indica que pudessem manter-se praticamente intactos, inclusive com madeiras dos caixões ainda com pedaços de rendas. Embora dado como desvendado o mistério, ainda restam dúvidas!

Fontes: Correio do Povo: Reportagem 21 de Maio de 1973 pesquisada pelo historiador João Barcelos da Silva. Vale do Mampituba, Bento Barcelos da Silva. Diário a bordo, Roni Dalpiaz.

 

 




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