O plano diretor de Torres e o patrimônio histórico

Casa Nº1 (e) e o “Casarão dos Müller” (d) - estas duas edificações torrenses, impregnadas de história e simbolismo esperam, pacientemente, um olhar e ações específicas de cuidado e proteção.

Casa Nº1 (e) e o “Casarão dos Müller” (d)
8 de agosto de 2022

O novo Plano Diretor da cidade de Torres está começando a ser discutido. Na verdade, ele já está pronto, mas de acordo com os responsáveis, ele está aberto a receber sugestões da comunidade torrense (aqui pode-se incluir veranistas e frequentadores da cidade). Sendo assim, esperamos que recebam e avaliem as várias sugestões e questionamentos feitos durante a audiência de apresentação desse novo plano, na noite da última terça-feira.

A grande questão da noite foi realmente a mudança de altura dos prédios na Zona 8. Muitos foram os questionamentos e até surgiram algumas sugestões de mudança, porém não percebi nenhum aceno sobre a exclusão desta proposta.

Outra alteração, pouco contestada, foi a mudança de altura dos prédios nas “Praias do Sul”, que certamente mostra a mudança do foco de crescimento da cidade. Este ponto deve ser melhor analisado, sem dúvida nenhuma.

Dentro das sugestões colocadas na audiência, está uma que se relaciona com um ponto muito negligenciado pelas administrações da cidade: o patrimônio histórico.

A história, para muitos, só está nos livros. Mas se você “perder” um pouco de seu tempo e passear, a pé, pelas ruas da cidade você perceberá uma rica história edificada. São casas, praças, monumentos, pontes, todos testemunhas da história. A história da cidade, a sua história, está ali no antigo casarão, na igrejinha, no Farol, na escola. Eles sozinhos não contam a história, mas ela está ali impregnada nas suas paredes e nos seus recantos.

Esse patrimônio edificado, aqui em Torres, está sem proteção. Ele precisa de lei específica para ser protegido. A igreja Matriz São Domingos das Torres, por sua relevância histórica, depois de muito esforço, foi protegida e tombada. O seu entorno, supostamente protegido pelo tombamento da igreja, foi, mais tarde, demarcado por uma área poligonal de proteção. E isso é tudo. Todo o restante ainda está desprotegido, à espera de um inventário e de leis que possam protegê-los.

Dois desses patrimônios, desprotegidos, foram destacados pelo CEHTR (Centro de Estudos Históricos de Torres e Região) para que fossem desde já incluídos no novo Plano Diretor como de INTERESSE PAISAGÍSTICO, HISTÓRICO-CULTURAL E TURÍSTICO (AIPHT), são eles: a Casa Nº1 (edificação e terreno) e o lote que compreende o “Casarão dos Müller” e seu entorno. Esta inclusão, de certa forma, os protege até o tombamento.

A Casa N°1 hoje sofre uma desfiguração, tanto física como histórica. Ela que se constitui no documento mais antigo ainda existente do nordeste do RS e extremo sul de SC. Como comprovação dessa importância em 2018 foi lançado o livro “Marco histórico de Torres-RS: a Casa Nº1” que publica a pesquisa realizada, por mais de quatro anos, contando toda a sua história, desde a sua construção gradativa, a partir da primeira década de 1800 – dando origem ao núcleo urbano pioneiro da “Villa de São Domingos das Torre” – até a atualidade. Também em 2018, a Casa N°1 foi reconhecida pelo IPHAE “com valor histórico e arquitetônico enquanto patrimônio cultural do município de Tores-RS”:

Assim como a Casa N°1, o Casarão dos Müller deve figurar como ponto de interesse Histórico-Cultural, Arquitetônico e Turístico, por se tratar de uma edificação que se encontra no ponto de Torres mais próximo aos cânions do sul, o local representa um mirante privilegiado de importância estratégica no contexto do projeto de Geoparque Caminhos dos Cânions do Sul, que é um projeto intermunicipal e que em Torres é representado unicamente por uma unidade geomorfológica similar, os morros do Parque da Guarita. Mas além dos intrínsecos e indubitáveis valores históricos e patrimoniais do edifício, a sua localização o torna-se uma peça imprescindível para o planejamento a escala regional. A aparente excentricidade geográfica, em relação ao tradicional “centro” do território municipal de Torres-RS, simbolicamente situado junto ao mar, na verdade é mais um componente relevante para o edifício, na ótica de seus possíveis usos futuros pois encontra-se no ambiente rural. Mas o edifício também pode assumir um papel relevante no âmbito de outro projeto, este a escala municipal, mas com conexões com municípios vizinhos, projeto denominado de Raízes de Torres que visa valorizar pontos turísticos do interior do município, mas pode ser enriquecido com a valorização de elementos de patrimônio material e imaterial para decolar definitivamente como atrativo turístico. Considerando estas perspectivas, o tombamento e o restauro do edifício, são não só importantes do ponto de vista simbólico e patrimonial, mas com um inteligente projeto de reuso, podem auxiliar o desejável modelo de desenvolvimento sustentável do interior do território municipal.

Estas duas edificações impregnadas de história e simbolismo esperam, pacientemente, um olhar e ações específicas de cuidado e proteção. Esta inclusão seria apenas o início!

 

 

Fontes: Rede Cultura Torres; Centro de Estudos Históricos de Torres e Região -Diderô C. Lopes.

 




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