Sem água, sabonete e álcool em gel, população fica vulnerável para o coronavírus e também sofre com os efeitos da crise econômica. Amarildo dos Santos, ex pintor, que teve sua casa incendiada no bairro São Jorge, diz: “Lavo as mãos na poça d’água quando chove, com a divulgação da doença e ouvindo o carro de som que mandava ficar em casa e nos cuidar. Tentamos fazer higiene nas Quatro Praças, mas fomos xingados e escorraçados com a explicação de que ali não era público. As pessoas discutem sobre a doença, de lavar a mão, de passar álcool em gel, máscaras, mas não existe isso na rua. É só na televisão”.
Para muitos, o produto oferecido por voluntários e por algumas igrejas, é um luxo que não estamos acostumados ter. “Na rua não tem nada disso”, me disse. “Falam que a gente tem que lavar as mãos, mas vamos lavar onde? A gente não tem água. Não acredito que eu vá pegar essa doença. Tenho fé, Deus vai me proteger. Já passei por muita coisa nessa vida e tô aqui trabalhando de baixo de chuva e sol”.
Viu pela TV de um bar – diz que tudo o que ele sabe é o que viu lá. “Eu sei que já matou muita gente. Vi que os sintomas são tosse, febre e falta de ar”. Desde então, seus dias na rua estão se tornando cada vez mais difíceis. “Olha, é isso o que eu tenho pra comer”, disse abrindo um saco com dois salgados. “Essa doença começou e agora as pessoas têm medo de sair de casa e não entregam mais comida”, lamenta.
Muitos aqui nas ruas de Torres trabalham com reciclagem, diz ele. As empresas, lojas, tudo fechando, diminuiu o lixo. Agora é mais difícil encher o carrinho – eu sou pobre, nem essa doença vai me querer, e há aqueles que já olham o contexto e se preocupam mais com a falta de comida”, diz Amarildo.
Perguntei para Amarildo se alguma equipe de profissionais está rodando as ruas de Torres para orientar a população de rua quanto ao coronavírus. Ele e o grupo reunido na Paróquia Santa Luzia afirmaram nunca ter recebido nenhuma abordagem do órgão nenhum.
ACOLHIMENTO
Os médicos defendem a ideia do acolhimento como possibilidade de prevenção. Além de albergues, é preciso pensar em como conscientizar essa população sobre a importância dessa higienização e oferecer até mesmo nas ruas a possibilidade pra que isso aconteça.
Uma possível solução para monitorar os sintomas dessas pessoas, é a criação de centros de acolhida emergenciais. O Lions Clube de Torres disponibilizou sua sede para tal atitude, e ginásios das escolas também poderiam servir como um desses centros. Tendo um lugar para entrar no, um colchão para dormir e pessoal da saúde acompanhando, já minimiza a situação.
Outro lado: Prefeitura de Torres não dispõe de um albergue, apenas faz a destinação de um local para acolhimento da população de rua. Há local onde podem se alimentar e tomar banho, mas não foi realizada a capacitação dos profissionais das Unidades Básicas de Saúde para intensificar as abordagens de pessoas em situação de rua – com orientação dos profissionais das equipes volantes ou Consultório na Rua. Para na identificação de caso suspeito ser realizada pesquisa de onde a pessoa em situação de rua dorme e circula, para identificar contatos e possíveis novos suspeitos, além de encaminhar a pessoa para um eventual atendimento.
*Dani dos Santos Pereira é presidente da Associação de Bairo de Torres Sugestões e reivindicações podem ser enviadas para daspe@terra.com.br |