OPINIÃO – A crise grassa, mas os ricos ficam cada vez mais ricos

Globalmente, um estudo de banco suíço estima que existiam 59,4 milhões de milionários em todo o mundo no final de 2022 sobre um população mundial de 8 bilhões de pessoas - sendo um quinto desta população mundial morrendo de fome.

Fonte da imagem - site: História do Mundo
1 de abril de 2024

Contrariamente ao que muita gente pensa, sobretudo de esquerda, Mercados, existem no mundo desde o começo da civilização, cujos marcos são a conquista da sedentarização com o cultivo do agro e formação das primeiras cidades. É uma instituição humana.  Uma cidade, enfim, não sobrevive se não houver um mercado onde tenha acesso a produtos indispensáveis à sua subsistência. A divisão do trabalho cidade/campo impõe a troca de mercadorias. Havia mercados no Antigo Egito, na índia primordial, na China etc.

Mas o aparecimento de uma sociedade na qual tudo se converte em mercadoria, inclusive a força de trabalho, num frenético processo de mercantilização que faz da economia a senhora da organização social, deslocando todas as suas demais expressões a mero adereço, é fenômeno recente. No Ocidente tem início com as feiras medievais, convergem para a emergência comercial das cidades italianas que comerciavam com a África e Ásia, nas quais aparecem os primeiros bancos, germinam no curso das Grandes Navegações nos séculos XVII e XVII e culmina na Revolução Industrial.   Deixa no seu rastro uma invejável capacidade de revolucionar permanentemente as técnicas de produção e relações sociais, como o advento e generalização do trabalho assalariado e a locupletação da sociedade com produtos e serviços nem sempre necessários, mas suficientes para alimentar com polpudos lucros sua cadeia de oferta.  Quem melhor demonstrou este processo não foi nenhum defensor do sistema capitalista, mas justamente um de seus maiores algozes: Karl Marx. Sua principal obra se denomina, justamente, O CAPITAL, e ele próprio sempre dizia que preferia dissecar criticamente o sistema que lhe correspondia do que aviar, como pregoeiro de uma nova sociedade, receitas para a cozinha do futuro.

Mas se Marx reconheceu as potencialidades do capitalismo, apontou, como poucos, suas lacunas. Uma delas são as crises constantes das economias de mercado. Como a produção de mercadorias não obedece à nenhuma plano geral mas apenas ao apetite dos seus produtores pelo lucro, a realização destas expectativas só se dá quando os consumidores compram os produtos, o que nem sempre ocorre. Daí crises sistemáticas que varrem o “convés”, destroem milhares de empresas, geram desemprego e miséria e, no limite do colapso, reerguem-se em novas bases. Outro grande problema destas economias é a produção de desigualdades. Elas não são exclusivas do nosso tempo. Na verdade, acompanharam o processo dito civilizatório, distinguindo a população por critérios de idade, gênero, prestígio e poder, castas, senhores e escravos etc., mas nas sociedades contemporâneas, com a disseminação do trabalho assalariado, pago regiamente pelos contratantes pelo preço que vale sua sobrevivência, de forma a garantir-lhes a devida lucratividade, as diferenças sociais, se acentuam. Essa, aliás, uma das fontes das rebeliões das massas e de suas pressões, seja por mudanças radicais que apontaram, para a montagem de sistemas alternativos, como o socialismo, seja para exigência de uma intervenção regulatória do Estado como garantia social através da formulação de Políticas Públicas: o capitalismo regulado. O pós II Guerra Mundial consagrou esta última opção criando um tempo de paz e prosperidade nos países centrais como nunca se teve antes visto. Ficou conhecido como pacto social-democrata. As últimas décadas, porém, congelaram ambas as saídas: Revolução e Reformas Sociais. O capitalismo desregulou-se sob a égide do neoliberalismo.

Endogenamente, também, no mundo ocidental, o crescimento do sistema financeiro foi, gradualmente, substituindo o próprio setor produtor de mercadorias, transformando-se numa fonte predatória de riquezas em escala global. Coincidindo com isso, desde 1971 os Estados Unidos desvincularam o dólar de qualquer lastro transformando-o numa moeda volátil de curso global.  Nunca antes, os manipuladores desta fonte ganharam tanto e tanto espoliaram sociedades e nações, sem nada entregarem em troca: nem produtos, nem empregos. A consequência, apontada por vários economistas críticos, tem sido o crescimento do abismo social, do qual não escapa sequer uma economia planificada como a China. Globalmente, um estudo de banco suíço estima que existiam 59,4 milhões de milionários em todo o mundo no final de 2022 sobre um população mundial de 8 bilhões de pessoas, um quinto dela morrendo de fome. Tornou-se conhecida a revelação de que 1% controla 99% das gentes.  No Brasil tínhamos em 2022  414 mil milionários para uma população de 213 milhões, dos quais 70 milhões em idade de trabalhar já nem incorporam à força de trabalho, esta  na ordem de 100 milhões, dos quais apenas 40% goza de alguma dignidade salarial e condições de vida. Aliás,  120 milhões de brasileiros, entre ativos e inativos,  ganham até um salário mínimo… Milionário segundo o estudo é todo aquele que dispõe , pelo menos, um milhão de dólares, pouco mais do que cinco milhões de reais. Depois do Brasil México, Noruega são os países que também aumentaram o número de milionários.

Mesmo com este cenário social lamentável, verificamos, no Brasil, um  número cada vez  maior de bilionários ano a ano.  De acordo com o índice em tempo real da Forbes, o país tem, aliás,  61 pessoas com fortunas estimadas em mais de 1 bilhão de dólares… Um ano antes, o grupo era composto por 55. Ou seja, mesmo com a crise e baixos níveis de crescimento econômico os ricos ficam , acintosamente, cada vez mais ricos. Como se indaga um velho tango, muito conhecido – QUIZÁS -: “Hasta cuándo? Hásta cuándo…?”




Veja Também





Links Patrocinados