“O orgulho nacional é, para os países, o que a autoestima é para os indivíduos: uma condição necessária para o autoaperfeiçoamento. Orgulho nacional excessivo pode produzir belicosidades e aventuras externas, excessiva autoestima pode produzir arrogância.” A frase foi escrita por Richard Rorty a propósito de seu país, os EUA. (“Orgulho nacional e autoestima: modelo Trump – Pedro Malan – O Estado de S. Paulo)
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Durante muito tempo, o nacionalismo como defesa intransigente do interesse nacional, esteve estigmatizado no debate político. Era visto, como dizia o Senador Roberto Campos, como o “valhacouto dos canalhas”. Ele, aliás, ganhou visibilidade pública justamente depois do Golpe Militar de 1964, cujo lema, na dicção daquele que assumiu o Ministério de Relações Exteriores, Juracy Magalhães era: “ O que é bom para os Estados Unidos, é bom para o Brasil”. Era, enfim, o clima da “Guerra Fria”, justificavam-se. Desde então, aliás, o nacionalismo como corrente política importante no Brasil entrou em descrédito. Leonel Brizola, herdeiro de Vargas e Jango, tendo retornado à vida pública em 1979, era frequentemente ridicularizado na imprensa corporativa pela sua insistência nas “perdas internacionais” sofridas pelo Brasil. Não obstante, deve-se a um inglês, insuspeito Ministro da Rainha Vitória, Lord Palmerston, no século XIX, a famosa frase: -“Os países não têm amigos, têm interesses”.
A origem desta condenação ao nacionalismo está no último quarto do século XIX, quando vários países retardatários na corrida pelo desenvolvimento, face ao círculo de ferro dos países centrais que dominavam o mercado mundial, inclusive Estados Unidos, como recentemente reconheceu Donald Trump, mas também Alemanha e Japão, recorriam à proteção tarifária de seus mercados de forma a estimular suas próprias empresas. Mais tarde, já no século XX, vários países latino-americanos, na corrida “nacional-desenvolvimentista”, também seguiram esta recomendação, sempre condenada pelo ortodoxos do livre mercado. A crise americana, porém, depois dos anos 1970, mesmo sob forte dominância do “Consenso de Washington”, condutora do neoliberalismo em escala mundial, foi alimentando por lá a ideia de que algo devia ser feito em defesa dos interesses do próprio país, cada vez mais marginalizado do comércio mundial pela emergência de novas potências, ora o Japão, agora a China.
Aí surge Donald Trump, já em 2016, com a consigna de MAKE AMERICA GREAT AGAIN – estampada nos bonés de seus defensores com a sigla MAGA, defendendo o nacionalismo. Faz um primeira investida no seu primeiro mandato, e agora volta com todo o vigor para levar às últimas consequências a atualização do nacionalismo a favor dos Estados Unidos. Mas , como diz Pedro Malan, ex Ministro da Fazenda de FHC, em recente artigo publicado em O ESP :“Pela primeira vez na História a desordem mundial é provocada e incentivada pelo governo da maior potência econômica e militar do planeta” .
O protecionismo americano do tarifaço de Trump não é uma reação dos menores contra os maiores. É um recurso do maior frente a menores, como México, Canadá e países exportadores de placas de aço e alumínio, como o Brasil, para não falarmos das ameaças sobre o Canal do Panamá e Groenlândia. Até se explicaria se a defesa dos americanos fosse exclusivamente contra a China, já desenvolvida e grande exportadora para os Estados Unidos. Mas não. Trata-se de uma política defensiva de grande potência, emissora do dólar como moeda internacional e mantenedora de 800 bases militares ao redor do mundo, capaz de desencadear uma guerra comercial sem precedentes.
Um dos constrangimentos desta nova fase dos Estados Unidos são suas repercussões na geopolítica mundial. Dificilmente a Casa Branca vai conseguir manter a hegemonia que conquistou depois da II Guerra Mundial. A União Europeia já começa a se estranhar com o aliado tradicional, à vista da posição de Trump diante da OTAN e da questão ucraniana. Ele vai exigir que países europeus de garantam com a aplicação de 5% de seus Orçamentos em Defesa. Nenhum deles consegue.
No Brasil, o constrangimento fica com bolsonaristas aliados incondicionais de Trump. Segundo um atento observador, no Congresso Nacional, a continuarem neste defesa serão vistos como quinta coluna. Aqui a palavra fica com este analista:
Deputado se ocupa em suas redes da defesa do americano e parece esquecer até a lição de seu ídolo- in “ Um braço de Trump no Congresso? “- Marcelo Godoy – O Estado de S. Paulo 12.02.2025
Ou seja, como ficam estes brasileiros diante de políticas claramente nocivas ao interesse nacional? Terão coragem de sair às ruas com bonés do MAGA, carregando bandeiras dos Estados Unidos e Israel? E a Havan, continuará ostentando suas imensas Estátuas da Liberdade, verdadeira idolatração aos Estados Unidos…?