OPINIÃO – Começou (de vez) o Governo Lula III

"Dia 30 trouxe a volta do ex-Presidente Bolsonaro ao Brasil.... Trouxe, também, o anúncio do esperado Arcabouço das Contas Públicas que se oferece, então, como um verdadeiro projeto nacional capaz de retirar o país do tudo ou nada da PEC do Teto de Gastos.

O presidente, Luiz Inácio Lula da Silva, durante encontro com dirigentes de centrais sindicais, no Palácio do Planalto.
1 de abril de 2023

Lula tomou posse em clima de festa no primeiro dia do ano. O mundo o saudou como uma vitória da democracia no Brasil. Milhares o aplaudiram, ao lado da elegante Janja, na Praça dos Três Poderes. Uma semana depois tomou um susto: a tentativa de golpe com o quebra-quebra em Brasília. Era uma advertência de que os tempos haviam mudado e que a vitória para o terceiro mandato havia sido não só apertada, mas também frágil. Foi competente: Em menos de 24 horas já havia tomado o pulso do Governo, com o apoio inédito e maciço do Poder Judiciário, das duas Casas do Legislativo, de todos os Governadores, da Imprensa e da opinião pública. Os militares, histórica incógnita, se aquietaram no legalismo e já apoiam Projeto que afastará militares que optarem pela via política.  Desde então, Lula tomou medidas importantes, mas todas, ou quase todas, voltadas ao seu público eleitor: brasileiros que ganham até dois salários-mínimos. A poucos dias dos cem primeiros dias do Governo elas deverão ser inteiramente arroladas, como a dizer: Yes, nós agora temos governo: Retomou o Bolsa Família que deverá retirar da fome cerca de 3 milhões, reavivou o Minha Casa, Minha Vida, aumentou o valor das bolsas de pesquisa e, sobretudo, interveio com firmeza na salvação dos Yanomamis, de lá retirando desmatadores e garimpeiros ilegais com o que diminui, em 30 dias, em 76% o desmatamento na área.  Tudo conforma promessa de campanha.

Mas, apesar de tudo isso, pairava no ar um sentimento de precariedade traduzido pela grande mídia corporativa como ausência de um projeto nacional para o futuro e de medidas que fossem mais além do eleitorado cativo de Lula. Acusavam-no de estar governando pelo espelho retrovisor, onde não teriam faltado provocações desnecessárias ao Presidente do Banco Central – “este cidadão” – ou ao ex Juiz Moro. Aí sobreveio a pneumonia, o cancelamento da viagem à China e, subitamente, precipitou-se uma nova conjuntura. Aos três meses da posse, hoje descortinou-se um cenário diferente no país.

Na manhã do dia 30 desembarcou no Aeroporto de Brasília o ex-presidente Jair Bolsonaro. Um desembarque melancólico, acompanhado ao longe por algumas centenas de dispersos apoiadores do “mito”, hoje acossado por uma dezena de processos, dentre os quais o dos “presentes” milionários recebidos pela Arábia Saudita. O último estojo de joias que está na fazenda de Nelson Piquet deverá ser devolvido até o dia 10, quando o Presidente será ouvido pela Polícia Federal. Desceu e se dirigiu à sede do PL, cumprimentando o Presidente desta sigla,  ex-condenado em processos de corrupção,  de “Chefe”. Contudo, a Presença inofensiva de Bolsonaro parece que confere à Lula uma certa tranquilidade. O dito bolsonarismo terá que se haver, doravante, de um lado, com a presença de um líder  sem caneta nem cartões corporativos milionários para pagar as motociatas, de outro, com os concorrentes da corrente ideológica da direita para se afirmarem sobre seu vácuo, a grande maioria, como os Governadores de São Paulo e Minas, avessos ao extremismo golpista.

Mas o dia 30 trouxe, também, o anúncio do esperado Arcabouço das Contas Públicas que se oferece, então, como um verdadeiro projeto nacional capaz de retirar o país do tudo ou nada da PEC do Teto de Gastos. Isso alivia e diversifica não só o discurso econômico sobre as possibilidades de governança mas também o próprio discurso de confronto político, o que é saudável à democracia. Mais uma vez, Congresso, Imprensa e opinião pública se juntam em torno de Lula celebrando, enfim, sua segunda posse. Não se trata de alinhamento ideológico com o Presidente, apenas o mínimo de consenso, indispensável à retomada do crescimento e da normalidade institucional no país. Vamos ao campeonato, cujas prévias serão as eleições municipais do ano que vem. Em paz.  Já começaram as pesquisas eleitorais em várias capitais. Mais um pouco e teremos candidatos disputando espaços nos Partidos para garantirem suas indicações. Tudo como dantes no quarte de Abrantes. Sem atropelos Vida que segue, como este Outono quente se segue ao Verão que se foi…




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