OPINIÃO – “CULTURA DA CULTURA” NO TURISMO

Coluna de Fausto Jr - Jornal A FOLHA - Torres - RS - Brasil

19 de março de 2024
Por Fausto Júnior

A Cultura difundida como símbolo da cidade de Salvador, na Bahia, tem como uma das forças mostrar a influência dos costumes implementados na região pelos afrodescendentes, que iniciaram com o infeliz período da escravatura, encerrada em 1888, mas cujos hábiitos se mantiveram na cidade e foram a seguir incorporados por boa parte da sociedade nos seus costumes. O Turismo da lá estampa em suas peças publicitárias a religiosidade afro, como a Umbanda, e o sincretismo de santos católicos como entidades do Candomblé e da Umbanda, por exemplo; comidas típicas dos afrodescendentes que são usuais na cidade como Acarajé, Abará, além de roupas utilizadas pelas baianas negras (que até são alas de desfile de escolas de samba em todo o Brasil) são outras provas desta cultura de lá.  Venda de artesanatos feitos pelo mesmo povo como sandálias de couro, bolsas de couro, pulseiras do Senhor do Bonfim, atabaque e aparatos da dança da Capoeira, dentre outros, são exemplos que também embalam a cultura baiana como atrativo nacional e internacional da cidade de Salvador, do Estado da Bahia e do Brasil, no país e lá fora.

 

“CULTURA DA CULTURA” NO TURISMO II

 

‘Cultuar a Cultura’ de um lugar é fazer Turismo. Salvador, a Bahia e o Brasil cultuam a parte boa da vinda forçada dos afrodescendentes em sua integração com o Brasil, para apresentarem como atrativos turísticos. Pessoas vêm de todo os lugares do planeta somente para sentir a influência da cultura local, para colocarem estas novidades em suas biografias e em sua psicologia de vida. Isto faz com que haja uma analise íntima do que se faz em um lugar, para fazer um paralelo com o que se faz nas culturas de origem. Como pode um povo gostar de feijão com caldo preto é uma pergunta que muitos gringos se fazem… E quando apreciam e gostam (deve ser a maioria) entendem, o que faz diminuir um pouco a importância da batata frita em seu cardápio nos EUA, por exemplo. Isto é consumir cultura…

No Rio de Janeiro, a cultura de lá é vendida para o mundo e tornou a cidade um dos pontos mundiais em destaque no planeta Terra. É a mistura de mulher bonita, malandragem, alegria e permissividade do povo brasileiro – o que por vezes é considerado uma cultura machista e de certa forma canalha, mas que marcou o Rio de Janeiro no planeta como fomentador deste tipo de estilo de vida.  Até as vivências em favelas (atualmente chamadas de comunidades – pelo politicamente correto) é vendida em pacotes turísticos por agências, forma diferente para vivências no Rio de Janeiro. Tirar foto ao lado de um líder de organização criminosa com uma metralhadora pendurada é “instagramável”…. Tem pousadas nas favelas que vendem diárias para que as pessoas sintam na pele a cultura das favelas, entre bandidos, polícias e moradores dos locais. Uma experiência que é vendida como a boa libertinagem brasileira… Se está certo ou não está certo é outro tema, tema de filosofia, de ideologia, de progressismo ou conservadorismo…. É o mesmo que fazemos quando analisamos o Jogo do Bicho e sua permissividade ilegal lá no Rio e no Brasil inteiro… Mas que esta cultura de costumes brasileiro é vendida como diferencial de turismo pelo mundo e pelo Brasil, ah isto é… E marketing, ainda, em algumas tramas das novelas da rede Globo em alguns casos.

Assistir as dançarinas,  no Carnaval do Rio de Janeiro desfilando na avenida ao som de sambas com batidas ancestrais no fundo, na mesma cidade em que no dia seguinte se assiste o mar verde da Guanabara dentre corpos delgados e quase sem roupa, é um programa cultural no Brasil para turistas e é vendido como o modo de vida local… Ou, não é?

Já em Nova Yorque, nos EUA, a cultura difundida por lá para levar as pessoas à cidade também (Turismo) é o liberalismo, principalmente dos costumes. Como a metrópole é uma espécie de capital mundial de várias culturas (ocidentais e orientais) e um centro de produção econômica e de tendências mundiais, tem também forte influência de afrodescendentes, que desfilam por lá mostrando prosperidade e promoção da sua cultura na música, nos esportes, na dança, dentre outras. Tem o bairro chines, o Indiano, o judeu, o italiano… e até uma rua que concentra muitos brasileiros por lá…. Até uma estátua da Liberdade recebe o mundo na Ilha, o que representa a cultura local, dos EUA e principalmente o liberalismo de Nova Yorque.

 

“CULTURA DA CULTURA” NO TURISMO III

 

E em Torres, qual é a cultura que a cidade pode embrulhar para presente e apresentar ao mundo e aos turistas como cultura local? A cidade cresceu por conta do veranismo. O veranismo portanto é uma cultura local.  Mas como vamos valorizar isto como diferencial local na abordagem turística?

A pesca da Tainha no Outono e os pratos ligados ao consumo desta iguaria já foram incorporados pela cidade de Tramandaí e em Santa Catarina, mas podíamos fazer algo para incorporar esta cultura, se é que ela exista mesmo em Torres. O Surfe já teve espaço de protagonista na cultura local, tanto do início do veranismo, quanto por torrenses nativos que o praticam em várias modalidades, num mar que têm ondas diferentes. Por que não incorporamos mais isto em nossa Cultura? Os móveis rústicos de madeira feitos em Torres nas décadas de 1960/70 foram exemplo para a criação do conceito dos móveis de Gramado, na época um segmento do setor altamente buscado por consumidores de todas as classes, que virou moda e nasceu em Torres. Por que não retomar?

A Casquinha de Siri poderia se tornar um prato típico local e a cidade poderia marquetear mais o consumo desta iguaria, assim como outros pratos baseados em frutos do mar. Bandas de “reggae” locais poderiam caracterizar a produção de música em Torres, como já teve o destaque da banda Aruêra em décadas passadas,  outro exemplo de fomento às artes que poderia ser utilizado como cultura local de Torres por ser um lugar de beira de praia e com belezas naturais como a Jamaica, no mar do Caribe, berço do reggae no mundo.  O consumo e produção de roscas de polvilho também poderiam ser incorporados à cultura torrense, talvez ligando isto a miscigenação dos portugueses açorianos (ilha dos Açores).  Ideias a serem estudadas, não?

O que se sabe é que – além dos nosso morros e do Balonismo – praticamente NADA atualmente é cultuado na Cultura de Torres. Nosso turismo é muito industrial, o que oferece somente infraestrutura que de conforto ao consumo de descanso e entretenimento de beira de praia. Já houve épocas que outros governos de Torres deram “varas de pescar” (impulsos) para que artistas locais desenvolvessem seus trabalhos, o que poderia se tornar uma cultura específica local, feito também na gastronomia, no artesanato, no corte & Costura, dentre outros. Mas atualmente tem somente um grupo lutando para que seja formatado um Centro Municipal de Cultura, como já existiu no prédio da SAPT, no centro, mas que foi desativado…. Além do movimento pela reabertura do Museu Municipal. Penso que o movimento tem que ser nas pessoas, na “chama” que deve ser acesa nos costumes e até locais. Ou não?

 

“CULTURA DA CULTURA” NO TURISMO III

 

Um tema que está na moda e faz parte do processo de cura do Planeta Terra é a preservação Ambiental. Ela pode ser uma oportunidade de criação de diferencial competitivo turístico se tornando tema Cultural local…Trata-se de preservar a cidade de doenças causadas pelo consumo de massa e consequentemente “escalados” para ter preço baixo. Já existe em Torres leis que proíbem o uso de sacolas plásticas que não sejam biodegradáveis, de canudos plásticos, dentre outras. Fazer que a lei funcione e divulgar isto para fora poderia ser um diferencial competitivo para o Turismo de Torres. O som alto também já tem lei que proíbe, mas não está sendo cumprida.

 

 

 




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