O Pampa não é apenas um bioma ou uma área territorial. Bioma, aliás, que vem sofrendo crescente devastação sem a atenção das autoridades e do grande público, sempre mais impressionado pela Amazônia. O Grande Pampa é a síntese histórica das gentes que o constituíram como vivências humanas originárias e que se constituem em Patrimônio Latinoamericano, com o gaúcho como expressão simbólica destas façanhas: Paraguai, nordeste da Argentina, e a banda oriental do Rio Uruguai, hoje Uruguai e planícies do Rio Grande do Sul. O grande libertador uruguaio, José Gervasio Artigas (1764/1850), chegou a pensar em unificar tudo isso numa só “PATRIA LIVRE”, assim como Bolívar o intentou ao norte do continente. Não conseguiu.
Cada uma das partes do Grande Pampa seguiu o curso dos respectivos países. Mas ficou para a História o legado guarani, no Paraguai e nas “Missões”, de um e outro lado do Uruguai, a tentativa do Presidente Jose Gaspar Rodrigues de Francia (1766/1840), do Paraguai no século XIX de erigir na região uma sociedade avançada, lamentavelmente destroçada por interesses internacionais que se serviram da “Tríplice Aliança” na odiosa Guerra do Paraguai, como ficou também para a história a resistência indígena nas Guerras Guaraníticas no Rio Grande do Sul, em meados do século XVIII. Mesmo na Argentina, onde a área pampeana é relativamente pequena diante da imensidão territorial do país, é o gaúcho desta região que se apresenta como legítimo formador do país, olhando com desconfiança o “porteño” de Buenos Aires. (Guardam ressentimentos da obra “Facundo”, de Domingo Sarmiento, na qual os acusa como responsáveis pelo atraso do país, à qual responderam com “Martin Fierro”, de José Hernandez… ).
No século XX, duas grandes realizações históricas com origens no Pampa marcaram a América Latina. As realizações republicanas, inspiradas na região, à frente do Governo do Rio Grande do Sul, de 1891 a 1930, e que projetaram Getúlio Vargas para a grande transformação do Brasil com a Revolução que comandou neste ano; e a Revolução Justicialista, protagonizada por Juan Domingo Perón na Argentina, outro grande marco continental: Ao final da II Guerra Mundial a Argentina era a segunda maior economia do mundo, depois dos Estados Unidos, detentora de petróleo, carne e trigo, além de vigorosa indústria aeronáutica que se perdeu pelo caminho e uma população altamente educada. Projetava-se como potência mundial.
Hoje a Argentina está destroçada e vive sua agonia com um Presidente, Javier Milei, mergulhado no escândalo das cripto moedas – cujo símbolo é uma serra elétrica. Lamentável imagem oferecendo-a ao bilionário Elon Musk em recente encontro da extrema direita dos Estados Unidos. À falta de um Plano de Desenvolvimento para o país que comanda, nada mais faz senão destruir, destruir, destruir…, começando pelos direitos dos trabalhadores e aposentados.
Ontem, mais um manifestação massiva de aposentados, que são 15% da população e recebem menos que o indispensável para a Cesta Básica, foi brutalmente reprimida pelas forças de segurança, resultando em cerca de 150 presos. Idosos protestam contra perda de direitos e declínio acentuado no valor das aposentadorias, em consequência das políticas ultraliberais de Javier Milei, que dobraram os preços de medicamentos e serviços essenciais. “O protesto – o mais violento no país desde que o do ultraliberal Javier Milei assumiu o governo, em dezembro de 2023 – foi o mais recente de uma série de atos públicos que ocorrem há anos todas as quartas-feiras contra em defesa dos direitos dos aposentados” ( Entenda os protestos dos aposentados na Argentina:Tarde da noite, populares saíram às ruas, caminharam desde os bairros até a Plaza de Mayo, ali permanecendo até de madrugada).
A Nação argentina, unida, já não suporta o arrocho a que está submetida pela ortodoxia de choque de Milei. Os níveis de desemprego e pobreza se elevam a cada dia. A população, vai, cada vez mais, às ruas em protesto, na esperança de repetir o que outro Presidente, De La Rua, já protagonizou no passado: imediata renúncia de Miley.
O Grande Pampa , com toda a América Latina, chora por ti Argentina.