Se você está, nestes tempos de grande polaridade na vida pública no Brasil , em dúvida sobre o que a Política e para que servem os Políticos, às vésperas de um novo pleito ano que vem, vale a indagação: O que é a Política e para que serve?”
“Numa conceituação moderna, política é a ciência moral normativa do governo da sociedade civil.” Este definição não ajuda muito, embora adiante que Política não é Ciência Exata. Mas é muito abstrata. Daí pronunciamentos recorrentes que insistem na indagação: “Para que servem, afinal, os políticos? o que fazem, sempre carregados de privilégios = ganham bem, têm assessores, etc.etc. ?”
Voltemos, então, à definição acima, cujas origens estão nos primeiros filósofos na Antiga Grécia, nascedouro das Sociedades Políticas. Platão e Aristóteles, discípulos de Sócrates, se debruçaram sobre o assunto. Platão em seu livro A REPÚBLICA, faz uma longa discussão sobre o caráter da Justiça entre os homens e como alcançá-la. Acaba propondo uma solução “técnica”: Só os filósofos, como seres elevados, podem administrar a Justiça porque não teriam interesses. Aristóteles, em sua POLÍTICA, foi mais para a ideia de bem estar. “Na filosofia aristotélica a Política é a ciência que tem por objetivo a felicidade humana e divide-se em ética (que se preocupa com a felicidade individual do homem na pólis) e na política propriamente dita (que se preocupa com a felicidade coletiva da pólis). Esta concepção orientou os Pais da Pátria nos Estados Unidos a inscreverem a busca da felicidade na Constituição daquele país.
Entre Platão e Aristóteles reside, talvez, uma controvérsia que chega aos nossos dias: – É possível existir um fazer político que se restrinja à Técnica ou este fazer estará sempre condicionado moralmente à valores e interesses? Os primeiros advogam a possibilidade de uma CIENCIA POLÍTICA, desenvolvida, sobretudo nos Estados Unidos e que foi muito responsável pelo estudo das Instituições e pelo aprimoramento dos processos de Pesquisa de Opinião. Tem um viés conservador. Outros, porém, acreditam que a Política implica em VALORES e que estes são particulares e irredutíveis à razão, embora sujeitos, sim, à mudanças no tempo e no espaço, em articulação com a Cultura dos Povos.
Com isso voltamos à pergunta: Para que servem a Política e os políticos?
Não há aí resposta unânime, pois os valores tanto dividiam Platão e Aristóteles, como dividem os homens em qualquer lugar do mundo. Uns sonham com uma Cidade Tecnificada, à luz de recomendações da razão soberana e já apontam a Inteligência Artificial como meio de sua realização. Culminam na convicção que ficou conhecida como FIM DA HISTÓRIA, na qual se nega a competitividade de valores e interesses. Outros, mais morais, partem desta competividade para a moldagem do Estado. É mais democrática e progressista. Há, sempre, uma correlação entre VALORES, FILOSOFIA DA HISTÓRIA, NATUREZA DO ESTADO. Para os primeiros, os Políticos deveriam dar lugar aos Administradores; para os segundos, a Administração deve repousar sobre a Política. Claro que aqui, neste caso, espera-se que a Política e o controle do Estado saiam das mãos de iluminados pelo sangue azul ou pelo saber supremo e se desloque para qualquer membro da Sociedade Civil.
Esta é a ideia básica da criação da República, aberta pela Revolução Francesa em 1789 e que é reverberada cotidianamente pelo Presidente Lula quando diz que é ele, como Presidente, que precisa dos Deputados e não o contrário. Evidente que há subjacente à esta ideia republicana a premissa que os candidatos á Política devam obedecer a certos regramentos, como registro num Partido, Ficha Limpa, Reconhecimento Social etc. Tais exigências definem , em última análise, o Sistema Político de um país. Nesta concepção, a Política é uma arte nobre voltada à gestão dos interesses públicos e seus titulares, cidadãos comuns, aptos ao exercício da mesma pelo recurso ao voto, direto, secreto e universal. A eles, enfim, cabe a função de articular, no âmbito do Estado, interesses nem sempre convergentes com vistas à criação de um mínimo de consenso sobre os rumos da Sociedade Democrática. Os políticos, neste contexto, são os artesãos de uma espécie de Caixa de Ferramentas voltadas à produção de Políticas Públicas. Estas, dependendo de sua eficácia, legitimarão ou não as ações e condutas, as quais serão julgadas no rodízio eleitoral. No meio de campo, a burocracia estatal, responsável pela mediação entre dirigentes e povo, cristalizada numa arquitetura institucional que gerencia direitos e obrigações.
Este o papel, portanto, da Política: impedir que a “guerra de todos contra todos”, fundada apenas no interesse individual ou corporativo, não raro animado pelo ódio ao Outro, acabe levando ao caos social. Um desafio.