Existem assuntos que propositalmente não abordamos por incomodar alguém ou simplesmente por que não queremos mexer “no abelheiro”. E a vida segue!
Segue até alguém se incomodar por não ter respostas. Aí o ciclo se reinicia.
Nesses dias, estive fazendo a gravação do roteiro “Na trilha do tempo” com os meus colegas do grupo “Pé na História” em alguns pontos de valor histórico e cultural da cidade de Torres. Depois de um ano e meio longe destes lugares, percebi que o descaso da cidade para com o seu patrimônio histórico permanece como sempre (nenhuma novidade, neste caso).
O antigo farol continua ignorado pela prefeitura. Quando cheguei ao lado dele percebi que o portão estava totalmente aberto e sem nenhuma proteção. O morro do Farol, recebeu, recentemente, uma bela atualização, porém esqueceram de incluir o antigo Farol no pacote. Uma pena! Eu sei que ele está sob responsabilidade do ICMBio e não da prefeitura, porém ela deveria ao menos cobrar dos responsáveis a sua manutenção pois é um patrimônio da cidade.
A segunda parte da gravação foi em frente a Casa Nº1 e a igreja São Domingos. Mais uma decepção. A igreja, tombada, nem parece que foi restaurada há pouco tempo. As marcas do tempo estão voltando e seu aspecto não está nada bom, falta manutenção. Seu entorno, também tombado, segue sem cuidado e sem restauro.
A Casa Nº1 continua sem acesso ao público. Mantida pelos seus proprietários do jeito que conseguem, está precisando de carinho e valorização por parte da sociedade torrense. De acordo com Diderô Carlos Lopes, “…o laudo contratado em 2018 para certificar a história e arquitetura da Casa Nº1 apontou que a edificação estava em ‘risco’ e deveria ser recuperada para efeito de preservação do seu inestimável valor patrimonial”.
Segundo o inventário do COMPHAC-Torres-RS os valores culturais estabelecidos para ela são: memória coletiva, elemento referencial e uso tradicional. Seu tombamento depende de “vontade política”. O IPHAE provocado formalmente em 2018 por um pedido de análise prévia – para efeito de tombamento – em resposta reconhece o seu valor histórico como patrimônio material e arquitetônico, mas entende diz que cabe ao município os atos formais para sua preservação, só que o município não tem uma Lei específica que permita o tombamento.
O próprio Diderô ao conhecer essa condição local encaminhou em 2019 para a Prefeitura – como sugestão para agilizar uma solução – uma minuta completa de uma Lei específica sobre a proteção de bens culturais no município.
O COMPHAC identificou que já existia outro processo da mesma natureza. Resolveu, então, formar uma comissão para analisar o processo que já existia e juntar com o que foi encaminhado para propor uma minuta consolidada para o Prefeito. O que, também, não foi entregue.
O documento está pendente até hoje, aguardando “criarem e aprovarem” uma Lei específica sobre a temática de preservação de bens culturais e posterior encaminhamento para o Legislativo.
A Casa Nº1 segue em pé, firme, um pouco descaracterizada pelo uso e pelo tempo. E apesar de não fazer oficialmente parte dos atrativos – pontos turísticos – divulgados pela cidade, ela está lá, e ao seu lado a igreja – observada a precedência histórica e patrimonial – carregando o peso e a importância de ser o bem cultural (patrimônio material) mais antigo da Região das Torres e não só do município.
Fonte: Diderô Carlos Lopes
**Errata da coluna anterior: Coloquei, por engano, a data da passagem de David Canabarro por Torres no ano de 1939, quando o certo seria em 1839. Peço desculpas pelo erro. Agradeço ao leitor Valter Zanette pela identificação do erro na data**